Por Eliana Moraes
Em dezembro de 2014, pude
registrar aqui no blog “Não Palavra”
o fechamento das discussões daquele ano do grupo de estudos “A Prática da Arteterapia” no texto “Pensando a Arteterapia” (convido à
leitura) ao qual retomo a discussão:
como
é importante que o arteterapeuta esteja atento e se instrumente teoricamente
sobre os fenômenos da relação paciente-terapeuta: a transferência e a
contratransferência e seus manejos. Que mesmo a arteterapia tendo como
especificidade utilizar das técnicas expressivas como base, a relação paciente/cliente e terapeuta
se manifesta de forma imperativa. E se o arteterapeuta não estiver
instrumentalizado para manejá-la em paralelo com as técnicas expressivas, não
estará alcançando seu trabalho como terapeuta de forma plena.
Nossas discussões avançaram
para o conceito de projeção, fenômeno que nos acontece a cada instante em
nossos “encontros” interpessoais e outros estímulos, conceituado por Jung:
A
projeção é um processo inconsciente automático, através do qual um conteúdo
inconsciente para o sujeito é transferido para um objeto, fazendo com que este
conteúdo pareça pertencer ao objeto. (JUNG)
...
o sujeito desprende de si um conteúdo – um sentimento, por exemplo – e fixa-o
num objeto, animando este (...) e atraindo-o para a esfera subjetiva. (JUNG)
Fazendo um recorte deste
fenômeno para a clínica, voltamos o olhar para a projeção de um sujeito (o
paciente) à outro ser humano (o
terapeuta), e assim é denominado o fenômeno da transferência. A outra via deste
fenômeno, do terapeuta ao paciente, contratransferência.
Entretanto, uma especificidade da técnica da arteterapia se dá pela introdução de um terceiro elemento nesta relação: o "objeto" (em um sentido amplo: o material, a técnica expressiva, a expressão artística), ao qual divide com o terapeuta o fenômeno da projeção. Nas palavras de Cláudia Brasil:
Na relação terapêutica estabelecida em
consultório, em que apenas duas pessoas se encontram, as projeções e a
transferência são experimentadas de forma direta à pessoa, sem intermediações.
Por isso, o uso de materiais plásticos e
de recursos técnicos criativos promove o deslocamento da transferência entre
duas pessoas e passa a ser uma tríade, na
qual o terceiro elemento é o material utilizado. Assim, os complexos
ativados são projetados para além do terapeuta, nos materiais. Nessa
perspectiva, tanto o terapeuta quanto o cliente podem observar o produto final
e a energia do complexo pulsando nas cores e formas. (BRASIL, 2013)
A tríade “paciente – terapeuta – objeto” é a experiência cotidiana do arteterapeuta e acredito ser imperativo o reconhecimento, o estudo e a instrumentalização do profissional de arteterapia para o manejo deste fenômeno. Pois o processo terapêutico se dá justamente no manejo da transferência pelo arteterapeuta; que, em uma mão terá a projeção para um outro ser humano (o próprio terapeuta) e em paralelo na outra mão a projeção para um objeto. Simultaneamente.
Esta tríade é o pilar da técnica da arteterapia e é sua especificidade dentre as técnicas terapêuticas. A terapia ocupacional é um campo de saber que já faz referência e teoriza sobre o manejo da tríade, porém com um outro fim. Como campo de saber e técnica com fim terapêutico, a arteterapia carece de pesquisa e embasamentos teóricos que nos instrumentalizem em nossa atuação como profissionais.
Esta tríade é o pilar da técnica da arteterapia e é sua especificidade dentre as técnicas terapêuticas. A terapia ocupacional é um campo de saber que já faz referência e teoriza sobre o manejo da tríade, porém com um outro fim. Como campo de saber e técnica com fim terapêutico, a arteterapia carece de pesquisa e embasamentos teóricos que nos instrumentalizem em nossa atuação como profissionais.
Em um próximo texto daremos seguimento ao compartilhar desta jornada de estudos na busca de embasamentos teóricos para o manejo do fenômeno da transferência especificamente na técnica e prática da arteterapia.
BRASIL, Claudia. Cores, Formas e Expressão. Emoção de lidar e Arteterapia na Clínica Junguiana. Rio de Janeiro, Editora Wak, 2013.
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