Nos últimos dias 01 e 02 de maio de 2015, realizou-se no Rio de Janeiro o V Congresso Luso Brasileiro de Arteterapia, que buscou a convergência de profissionais da rota Brasil-Portugal.
Um encontro de pessoas onde as diversas motivações e
perspectivas sobre a Arteterapia me suscitaram um único adjetivo: democrático.
Considero, através da minha ótica, que este encontro fora por excelência um
encontro democrático, a começar pelos valores das inscrições, que viabilizaram
a participação de diversos arteterapeutas, desde os estudantes até nomes
importantes da área. A democracia se estabeleceu também nas possibilidades de
apresentação de trabalhos, e foram muitos trabalhos – oficinas, mini-cursos,
temas livres, mesas temáticas, palestras e lançamentos de livros –
possibilitando o profissional e o estudante de conhecer e participar da
perspectiva que os profissionais atuantes na Arteterapia possuem no seu campo
de trabalho. Infelizmente, a mesma democracia que gera oportunidades múltiplas para
o participante, gera também a frustração de não conseguir um olhar global, pois
muitas apresentações aconteceram simultaneamente, entretanto, é disso que se
faz a democracia, de escolhas.
Para temperar com muito bom gosto esse caldo que
vivenciamos no fim de semana, Carlos Byington e Walter Boechat, ambos analistas
junguianos e não arteterapeutas, trouxeram um pouquinho de seus conhecimentos.
O primeiro acerca da história do homem e os arquétipos relacionados ao seu
desenvolvimento histórico-social e o segundo com a palestra Memória e História,
o resgate da identidade pelas histórias
ancestrais.
Carlos Byington na palestra "Arquétipo e História".
Particularmente, este Congresso teve uma representação
importante em minha carreira profissional, sendo ele o primeiro onde inauguro
as minhas perspectivas sobre a Arteterapia e como realizo meu trabalho, já
atuante há sete anos. Além do lançamento do um livro “Vivenciando as Deusas”,
onde publiquei um dos capítulos, em conjunto com Ligia Diniz, organizadora do
livro.
Lançamento do livro "Arteterapia e as Deusas", no qual participei com capítulo sobre
Deméter, em parceira com Ligia Diniz, organizadora da publicação.
Também participaram os autores: Bianca Oigman, Bruno Elias, Juliana Rangel, Leila Moutinho,
Mônica Valéria Iaromila e Rossana Lourenço.
Com apresentações nas modalidades Pôster e Tema Livre, também
pude traduzir em palavras toda uma perspectiva que venho desenvolvendo,
juntamente com Flávia Hargreaves, sobre novas possibilidades de atuação do
profissional frente aos materiais plásticos e a relação com o setting e com o cliente, uma modalidade
terapêutica que converge conceitos fundamentais da Psicologia e das Psicologias
profundas assim como conceitos da arte e de vários artistas ao longo da
história.
Na sala dos Pôsters, alguns trabalhos muito importantes
foram expostos, como o trabalho no Hospital Universitário
da UFF realizado por Denise Vianna e também a trajetória da Arteterapia no SUS
do Distrito Federal, apresentado por Alba Sony Oliveira, um interessantíssimo e
muito importante olhar sobre o profissional da Arteterapia dentro do SUS, assim
como a importância dessa categoria no atendimento primário da saúde pública.
Nosso Pôster apresentou um projeto desenvolvido há um ano
por mim e pela Flávia cuja máxima é a livre associação de materiais, o Ateliê
Livre Terapêutico. Um espaço onde as pessoas podem, livremente, buscar
expressar aquilo que quiserem com o material que quiserem, sem que haja a
colocação de um tema ou a sugestão imediata de um material. A interferência do
terapeuta é pontual, na medida em que for necessária a provocação e a
amplificação de conteúdos que forem aparecendo em suas obras. Realizado em um
espaço coletivo, o Ateliê é um processo de desenvolvimento individual realizado
em grupo, onde várias pessoas compartilham a mesa de materiais e o espaço
alquímico da terapia. Esse projeto foi inaugurado a partir das percepções que
fomos elaborando ao longo do contato com o trabalho da Dra. Nise da Silveira,
na Casa das Palmeiras, onde trabalhei por seis meses e onde Flávia ainda está
atuante, além das discussões que fomos fazendo acerca da fundamentação teórica
e prática da profissão.
Apresentação do pôster "Ateliê Terapêutico e a livre expressão em Arteterapia"
que apresentei com Flávia Hargreaves.
Já na modalidade Tema Livre, diversas apresentações foram
sendo realizadas ao longo do dia. Neste espaço apresentei o tema “A Roda da
Cura – A história ancestral da cultura nativa norte-americana”. Escolhi esse
tema por alguns motivos pessoais e profissionais. Pessoalmente, vivencio os
ensinamentos desse mito nas minhas andanças pelo caminho da busca interior,
buscando somá-los aos conteúdos da psicologia e da Arteterapia quando me dedico
ao cuidado e a facilitar o processo de busca de outrem. Profissionalmente,
encontrei nesses ensinamentos uma possibilidade de expansão para a técnica da amplificação,
realizada dentro da clínica Junguiana. Atualmente, o que encontramos em muitas
práticas, tanto de trabalho quanto de formação de profissionais, dentro do
campo Junguiano e da Arteterapia, é um infindável número de trabalhos
realizados sobre a mitologia grega, os processos alquímicos e os 4 elementos e
tantos outros que exploram a cultura grega. O que é muito bom, afinal temos
disponível muito sobre o tema. Entretanto, me faz pensar o quanto temos de
material sobre as culturas do nosso continente, da nossa ancestralidade
americana, própria da nossa raiz territorial. Acredito que muito pouco, ou
quase nada.
Apresentação do tema livre: Roda da Cura e a história ancestral nativa norte-americana.
Logo, busquei trazer um conhecimento ancestral riquíssimo
de possibilidades terapêuticas, tanto para os profissionais junguianos, quanto aos
profissionais da Arteterapia, uma vez que a Roda da Cura nos oferece muitos
recursos para amplificação, muitas metáforas e muita conexão com uma cultura
fundamentada nas relações de fraternidade e de respeito às relações com o outro
e com a natureza.
Sendo assim, posso concluir que o V Congresso Luso
Brasileiro nos ofereceu, além da possibilidade democrática de apresentar nossos
trabalhos, grande oportunidade de conhecer mais sobre o que tem sido feito do
campo da Arteterapia e como os profissionais atuam dentro do campo técnico-teórico
da categoria, proporcionando ao arteterapeuta uma ampliação do senso crítico e
uma busca pela ampliação de seus conhecimentos e de sua metodologia de
trabalho.
contato: naopalavra@gmail.com
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