Por
Eliana Moraes
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O blog Não Palavra esteve de
férias desde dezembro do último ano. E como de costume utilizo este tempo para
um recolhimento. Este movimento de introversão me é útil para recarregar as
energias, refletir sobre o caminho percorrido durante o ano e aguçar a intuição
para os passos que estão por vir.
Encerramos o ano com o
lançamento do livro “Pensando a Arteterapia Volume 2” e neste período de
introspecção pude relê-lo alcançando um olhar mais distanciado para o que ele
constelou. Nele está registrado uma etapa do meu percurso em que estive
bastante instigada a pensar e estimular que o arteterapeuta se aproprie do seu
lugar:
Tenho-me dedicado à
conscientização do arteterapeuta como portador da sensibilidade tão singular do
artista, como aquele que capta, percebe, compreende, expressa e traduz para as
mais variadas linguagens da arte as questões mais profundamente humanas, mas
especialmente aquele que exerce a função de oferecer a arte e sustentar um
território “sagrado” para que ela aconteça. Penso que a tomada de consciência
sobre a profundidade, responsabilidade e convocação que tal função nos permite
seja essencial para a construção de um arteterapeuta. (MORAES, 2019, 129-130)
Já
nas últimas páginas do livro reconheço a minha contribuição pessoal:
Esse caminho de
desenvolvimento da sensibilidade artística é absolutamente íntimo e pessoal. E
aqui reforço meu incentivo para que cada arteterapeuta participe desse
esvaziamento de si e (se) ouça como pode exercer seu ofício, oferecendo os
materiais e estímulos que o social nos pede. Neste texto, compartilho a minha
experiência pessoal, que não é “a verdade” ou “a solução”, mas a minha
contribuição: a experiência do Belo. (MORAES, 2019, 179)
Estou
convencida de que através da Arteterapia, oferecemos ao social verdadeiras
experiências com o Belo. Em cada encontro com a arte vivenciamos o sensível, o
sublime, o poético, o profundo. Experimentamos a sensação de enlevo, de
eternidade. Através desta experiência, somos positivamente contaminados com uma
nova energia, que nos potencializa para enfrentarmos os mesmos desafios da vida
que já nos consumiam. Mas agora os olhamos de frente, alimentados e
fortalecidos.
Durante
o período sabático que me levou a profundas reflexões, alguns eventos da
vida me impeliram a questionar qual era o sentido do meu trabalho. Confesso que
ainda não (re)encontrei respostas definitivas. Mas uma experiência vivida nos
últimos dias de 2019 tem ecoado em meus pensamentos. No dia 29 de dezembro fui
ao velório de uma paciente querida, que pude acompanhar por oito anos e
testemunhar o poder estruturante e ressignificador da arte. Despedir-me desta
mulher que tanto me ensinou como um ser humano pode atravessar toda uma vida
sem se deixar derrotar pelo pior da humanidade foi uma das experiências mais
marcantes dos últimos anos.
Já
mergulhada em minhas reflexões, me emocionei quando a celebrante do velório me
lembrou da oração de São Francisco e esta oração me ofereceu algumas respostas
sobre o sentido do meu trabalho, ofício, missão. Hoje tomo a liberdade de
compartilhar um fragmento desta oração com os amigos do Não Palavra que,
independente da sua religiosidade, pode meditar sobre esta oração tão sincera e
profunda:
Senhor,
fazei-me instrumento da vossa paz
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve a união
Onde houver dúvida, que eu leve a fé
Onde houver erro, que eu leve a verdade
Onde houver desespero, que eu leve a esperança
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve a união
Onde houver dúvida, que eu leve a fé
Onde houver erro, que eu leve a verdade
Onde houver desespero, que eu leve a esperança
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
E pensei: Onde houver
aridez, que eu leve a arte.
Abre-se 2020 e tudo o que nele contém.
Arteterapeutas, mãos a obra!
* As imagens que ilustram este texto foram tiradas no evento "Conversando com a Arte de Beatriz Milhazes", considerada por alguns críticos como "um oásis do belo na arte contemporânea". Este evento foi feito em duas turmas no dia 24/01/20 em parceria com Vera de Freitas.
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Sobre a autora: Eliana Moraes
Arteterapeuta e Psicóloga.
Pós graduada em História da Arte
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso.
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia.
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia. Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Autora do livro "Pensando a Arteterapia" Vol 1 e 2
Interessante que hoje te mandei uma.mensagem sobre o assunto que voce aborda.neste texto, entretanto ainda nao havia lido. Essa é voce e penso que seja seu chamado, missao e presente ao mundo! Privilégio conhecer pessoas assim! Que 2020 seja o ano que continues a despertar e desvelar a leveza,o belo e a essencia das pessoas! Lindo texto! Tania Moreira
ResponderExcluirPois é! Das sincronicidades e comunicações inconscientes da vida! Muito obrigada!
ExcluirUm beijo!
Lindo texto, Eliana!!Com certeza você faz muita diferença nesse mundo e o seu trabalho é um oásis de acolhimento e cuidado. Feliz 2020!!!
ResponderExcluirMuito obrigada! Quem está escrevendo? :)
ExcluirParabéns pela sua caminhada de força e fé. Bjsss
ResponderExcluirMuito obrigada querida!
ExcluirPor questões de saúde , estive afastada das redes sociais e só hoje retornando acessei sua página . Sou arteterapeuta e gostaria que você me indicasse ,livros ou trabalhos que contenham técnicas de atendimento para idosos . Grata
ResponderExcluirOlá Gevalda. Bem-vinda. Por favor me diga seu email para que possamos nos falar melhor. Um beijo.
ExcluirEliana,
ResponderExcluirJá te falei mas vou colocar aqui para você não se esquecer:
Acho que a sua grande projeção será através dos seus textos, livros, aulas, supervisões,...
O seu conhecimento somado a sua disponibilidade em compartilhar o seu conhecimento será a sua grande marca ou a sua contribuição para o mundo.
Um forte abraço,
Claudia Abe