Por Eliana Mores
Dando seguimento à série de textos sobre a Arteterapia com idosos (ver texto anterior), este segundo texto abordará alguns dos benefícios psíquicos que o procedimento terapêutico da Arteterapia em suas propriedades pode estimular.
A partir da prática clínica com idosos, é possível identificar algumas questões recorrentes advindas da constituição sociocultural e cosmovisão dos indivíduos desta geração. Naturalmente não podemos reduzir a singularidade de cada sujeito desta faixa etária, mas tomando como uma visão geral, é possível citar algumas questões recorrentes na clínica da terceira idade tais como autoimagem, corpo e sintomas físicos, função social, atividades diárias, relacionamentos, perdas e solidão.
A partir da prática clínica com idosos, é possível identificar algumas questões recorrentes advindas da constituição sociocultural e cosmovisão dos indivíduos desta geração. Naturalmente não podemos reduzir a singularidade de cada sujeito desta faixa etária, mas tomando como uma visão geral, é possível citar algumas questões recorrentes na clínica da terceira idade tais como autoimagem, corpo e sintomas físicos, função social, atividades diárias, relacionamentos, perdas e solidão.
Neste contexto, a Arteterapia em suas propriedades proporciona benefícios psíquicos específicos para o público idoso aos quais podemos destacar:
1) Expressão:
A geração da terceira idade, em geral, é fruto de uma educação rígida e proibitiva do expressar-se, sobretudo o público feminino, que se apresenta como a maior parte da população recebida na clínica da psicoterapia.
A Arteterapia e suas técnicas propõe a abertura de canais de comunicação verbal e não verbais, para a expressão e elaboração de sentimentos, pensamentos, memórias tão íntimas e profundas. Cada conteúdo pessoal:
“... poderá ser registrado e contado por meio de múltiplas estratégias, tantas quantas sejam as narrativas a serem resgatadas, pois os velhos têm muitas histórias, um amplo repertório delas, e o setting arteterapêutico tem boas condições para criar o têmenos necessário, em que estas narrativas serão ouvidas e registradas em sua pluralidade de formas, imagens e cores, tanto sobre as alegrias como sobre as angustias do envelhecer.” (PHILIPPINI, 2015, p 16)
2) Flexibilidade:
A população da terceira idade em geral, traz uma herança cultural do período entre e pós guerra caracterizada por um desejo de estabilidade, visão tradicionalista, necessidade de ordem e controle, além de pensamentos enrijecidos e cristalizados.
A prática da Arteterapia proporciona através de suas técnicas, constantes movimentos de mudança e transformação, o que transbordará para uma postura mais maleável diante da vida e uma maior tolerância a fluidez e a flexibilidade, características tão pertinentes a nossa cultura atual. Pois “a qualidade de vida nesta cronologia pode resultar de uma opção por aceitá-la como uma constante transformação.” (PHILIPPINI, 2015, p 14)
3) Movimento:
Muitas vezes o processo de envelhecimento se dá como um convite ao empobrecimento de movimentos, desejos, relações, reflexões, e uma redução das atividades diárias.
Pacientes idosos não raramente apresentam sintomas depressivos como desânimo acentuado, falta de prazer nas atividades e redução de repertório. E a Arteterapia atua como uma subversão a este caminho, fazendo com que o paciente saia do lugar cômodo, da inércia, do conhecido.
O ato criativo em seu processo promove o movimento como um todo: corporal, psíquico e cognitivo. Ele amplia o olhar viciado e reduzido quando apresenta novas possibilidades. Produz inquietude, desperta curiosidade e desafia o paciente. Estimula que ele exercite sua mente, se esforce e busque soluções, fazendo com que amplie seu repertório. Ao ver-se capaz de criar e transformar seus conteúdos em cores, formas e imagens o paciente acessa sua autoestima. Todo este processo produz prazer e estimula o paciente a resgatar seu desejo de vida!
4) Produção:
Infelizmente em nossa cultura, há uma visão do social para o velho como inútil, alguém que já cumpriu tudo aquilo que lhe cabia. Vale observarmos o ato simbólico da instituição da aposentadoria, endereçando este que já cumpriu seus anos de contribuição trabalhista aos seus aposentos apenas para aguardar o fechamento do seu ciclo biológico.
Para aqueles que acreditam que já cumpriram tudo o que lhe cabiam em suas funções e papeis sociais, a Arteterapia propõe uma constante produção, de imagens, obras, arte. Este exercício contínuo naturalmente transbordará para uma atitude produtiva em suas vidas.
5) Visibilidade:
O conceito de Invisibilidade Social se refere a seres socialmente invisíveis, que estão de alguma forma à margem da sociedade, seja pela indiferença ou pelo preconceito. São os não reconhecidos, não vistos.
Neste contexto, podemos pensar sobre a Invisibilidade Social do Idoso pela representação social que desempenha em nossa cultura. Parece paradoxal, pois o idoso tem direito a filas preferenciais, assentos em meios de transporte, tem estatuto e delegacia para cuidar de seus direitos. Porém, no seu dia a dia, nas suas relações mais próximas e no social, muitas vezes o idoso sofre a invisibilidade, sendo colocado no lugar de obsoleto.
Para idosos que se sentem invisíveis socialmente, a Arteterapia é um grande recurso, pois por definição proporciona a materialização dos seus pensamentos, sentimentos e memórias. Ou seja, no setting arteterapêutico o idoso tem a oportunidade de “tornar visível” o que ele sente ser Invisível para o social:
“Tanta vida para viver, tanta história para contar. O longevo em sua resiliência acumula múltiplas narrativas, tristes, alegres, sobre perdas, ganhos, projetos construídos, projetos desfeitos. Suas histórias são o legado de uma existência, pronto para ser compartilhado. Mas nem sempre há interlocutores interessados em ouvir. Há de se qualificar a narrativa do idoso... Certamente em Arteterapia, teremos múltiplas formas de facilitar a expressão e o registro destas memórias.” (PHILIPPINI, 2015, p 17- 19)
6) Resiliência:
Muitos idosos encaram o envelhecimento como uma fase marcada por sucessivas perdas de variadas ordens. A Arteterapia e seu constante convite ao processo criativo solicita que a cada atividade o sujeito busque recursos, encontre novas soluções e (re)crie. Este processo criativo contínuo favorece a capacidade de reinvertar-se e a resiliência criativa:
“As atitudes criativas diante das mudanças, sejam físicas, afetivas econômicas e outras decorrentes do envelhecimento, favorecem uma resiliência acompanhada de menores perdas emocionais.” (PHILIPPINI, 2015, p 77)
7) Socialização:
Nesta fase da vida é muito comum que o sujeito seja surpreendido por perdas sucessivas de pessoas queridas como o cônjuge, filhos, familiares e amigos de longa data, ocasionando assim uma sensação de solidão.
A modalidade da Arteterapia em grupos torna-se bastante benéfica neste contexto, pois dentro do ambiente terapêutico promove também a socialização, os relacionamentos interpessoais e a formação de novos vínculos:
“A vivência do grupo arteterapêutico como espaço de interlocução dá ao idoso um novo espaço de compartilhamento de sua subjetividade, onde pode amenizar a vivência de exclusão e reposicionar-se de forma mais ativa e fortalecida para confrontar os desafios do envelhecimento.” (PHILIPPINI, 2015, p 29)
8) Autocuidado:
Por vezes, o maior desafio para um idoso em seu processo de envelhecimento reside nele mesmo, quando cede ao que chamamos de “autoabandono”. Neste cenário o indivíduo assume uma postura omissa não tomando as atitudes necessárias para seus cuidados com a alimentação, exercícios físicos, tratamentos de saúde, demais atividades diárias e relacionamentos.
O ato criativo coloca o sujeito na condição de autor de sua obra, promovendo o responsabilizar-se por sua identidade, biografia, representação social e saúde como um todo. Seu exercício proporciona uma atitude responsável por si como protagonista de sua história, em contínuo autocuidado.
Referência Bibliográfica:
PHILIPPINI, Ângela. Caminho da Arte: Construindo um envelhecimento ativo. Ed Wak. Rio de Janeiro, RJ. 2015.
Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
Excelente, Eliana! Entendi muito bem! Seguindo os passos! Penso que já tenho algum material que me permita começar! Força e coragem! Obrigada e amei o texto.
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