“O `Belo Interior` é aquele para o qual nos impele uma necessidade
interior quando se renunciou às formas convencionais do Belo. Os profanos
chamam-na feiura. O homem é sempre
atraído, e hoje mais do que nunca, pelas coisas exteriores, não reconhecendo de
bom grado a necessidade interior.” Kandinsky*
É comum que a clínica da arteterapia seja procurada
por pessoas que já têm a prática na arte: trabalhos manuais, artesanato,
escrita... Por um lado, o conhecimento de algumas técnicas é interessante, pois
o paciente se sente a vontade no manuseio dos materiais. Porém, estas pessoas
são muito comprometidas com a estética, com o belo, até porque estas produções
necessitam de aprovação do público ou até a preocupação com “o que é vendável”.
Não admitem produzir algo que fuja das regras do belo e seja esteticamente
feio. Porém, em alguns momentos do processo terapêutico é necessário justamente
encarar e trabalhar com o que é “feio” e me afeta. (Vale ressaltar que aqui não
me refiro ao feio do paciente inseguro com o material, frustrado com a pouca
intimidade com ele e com falta de suporte do arteterapeuta. Mas o feio que o
paciente produz, independente do material, que expressa seus sentimentos com
honestidade)
Recentemente uma paciente (que já
tinha um histórico com trabalhos manuais) se espantou com a máscara de um
senhor ranzinza que ela criou em tons de marrom. Ficou se comparando ás outras
participantes do grupo que produziram máscaras coloridas, alegres. Dizia: “Credo! Como posso ter feito algo tão
feio?!? E eu odeio marrom!” Ficou tão mexida com aquela imagem que levou
pra sua terapia individual a sensação .tão forte de ter produzido aquela
“feiura” A paciente percebeu que, embora estivesse acostumada a somente
produzir coisas belas, este trabalho
expressava uma “Necessidade Interior”:
um aspecto ranzinza, rígido e ácido que nasceu dentro dela, depois de episódios
tão difíceis vividos ultimamente como doenças e conflitos familiares.
Neste momento, criar algo feio, não
esperado externamente ou socialmente, faz todo sentido. Inclusive se torna uma
experiência libertadora, pois assim o indivíduo pode admitir e expressar da
forma mais honesta possível consigo mesmo, seus sentimentos mais profundos e
verdadeiros. E assim, o que é feio na ótica da estética, se torna o que
Kandinsky chamou de o “Belo Interior”,
* Livro: “Do espiritual na
arte”, Kandinsky
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