Museu de Arte de Chicago, 2024. Acervo da autora.
Por Karine Drumond - MG
A Arteterapia é um campo vasto e dinâmico que utiliza o processo criativo e os materiais artísticos como via de expressão, autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. A visita a exposições e museus de arte se apresenta como uma rica, embora por vezes subutilizada, ferramenta complementar no setting terapêutico.
Ir a uma exposição não é apenas um passeio cultural, mas uma imersão em um universo de símbolos e emoções que pode catalisar insights profundos. Meu propósito é explorar como a apreciação estética de obras de arte, a princípio vista como fora do escopo da produção do cliente, pode se integrar e enriquecer o processo terapêutico.
O Diálogo com o campo de atuação
A ideia de que a arte, para além da criação, atua na saúde mental e no bem-estar não é nova e tem ganhado destaque em diversas áreas.
Prescrição Cultural
A literatura contemporânea em saúde, especialmente em países como a Suíça e no relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2019, aponta para a eficácia da "prescrição cultural", onde médicos e profissionais de saúde incluem visitas a museus e galerias como parte do tratamento para problemas de saúde mental e doenças crônicas. Esta abordagem reconhece os benefícios neurobiológicos da exposição à arte, como a liberação de dopamina (hormônio do prazer) e a redução dos níveis de estresse e ansiedade.
Psicologia e "Flow"
O psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, com seu conceito de "Flow" (estado de imersão total em uma atividade), sugere que a contemplação de uma obra de arte pode induzir a um estado de plenitude, desconectando o indivíduo de preocupações diárias e promovendo a satisfação profunda, um processo valioso para a saúde mental.
A Perspectiva Junguiana
Na psicologia analítica, que fundamenta muitas abordagens arteterapêuticas, Carl Jung defendia que a arte é uma expressão do Inconsciente Coletivo. A visita a museus permite ao cliente dialogar com uma vasta gama de símbolos arquetípicos, presentes nas obras de arte de diferentes culturas e épocas. Essa conexão simbólica pode despertar emoções, memórias e reflexões sobre aspectos profundos de si mesmo, facilitando a elaboração e a integração de conteúdos psíquicos.
Possibilidades na Arteterapia
Em Arteterapia a visita a exposições pode ser utilizada de forma intencional para a ampliação do Repertório Simbólico. A exposição a diferentes estilos, temas e linguagens artísticas pode oferecer ao cliente novas "palavras" visuais, expandindo seu leque de possibilidades para a expressão no ateliê. Uma obra pode servir como um catalisador, um ponto de partida para a sua própria criação.
Ao apreciar uma obra, o cliente pode projetar sentimentos e conflitos internos na imagem. O Arteterapeuta pode guiar a observação com perguntas como: "Qual obra te toca mais e por quê?", "Que emoção essa cor ou forma te evoca?", "Que história essa imagem te conta?". A obra de arte de um artista consagrado, ao ser apreciada, atua como um "espelho" neutro, permitindo ao cliente falar sobre si indiretamente.
Ver que outros seres humanos, através da história e de diferentes culturas, expressaram temas como dor, alegria, transformação ou solidão, pode gerar um sentimento de universalidade da experiência humana. Isso pode ser particularmente terapêutico para quem se sente isolado em sua experiência.
Além disso, a apreciação estética estimula a imaginação, a intuição e a capacidade de fazer associações. Ao sair do seu ambiente habitual e se deparar com o inesperado da arte, o cliente é convidado a exercitar a sua flexibilidade psíquica e a sua capacidade de ressignificação.
Em suma, a visita a museus e exposições em Arteterapia não é sobre ensinar história da arte ou julgar a estética. É sobre criar um encontro mediado e sensível entre o mundo interno do cliente e o vasto acervo de expressões da alma humana. É um convite para que o cliente se aproprie da arte — e dos seus símbolos — como um recurso de promoção da saúde mental e um portal para o autoconhecimento.
Referências
Ir a museus melhora a saúde mental. Somos Newa, [S.d.]. Disponível em: https://somosnewa.com.br/ir-a-museus-melhora-a-saude-mental/. Acesso em: 13 out. 2025.
MANTOVANI, Cecile; BALIBOUSE, Denis. Arte como terapia: médicos suíços estão prescrevendo visitas a museus. Medscape, 20 mar. 2025. Disponível em: https://portugues.medscape.com/verartigo/6512477. Acesso em: 13 out. 2025.
Museu como terapia? Básico365, 24 mar. 2025. Disponível em: https://www.basico365.com.br/post/museu-como-terapia. Acesso em: 13 out. 2025
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