segunda-feira, 8 de setembro de 2025

BEATRIZ MILHAZES E A ARTETERAPIA



Por Vera deFreitas - RJ

As obras da artista plástica brasileira e contemporânea Beatriz Milhazes (1960), são compostas por pinturas, colagens, gravuras, xilogravura, serigrafia, móbile e técnica mista. Elas trazem um estilo próprio e múltiplos elementos que se integram e se harmonizam de forma organizada e equilibrada. Com liberdade criativa, Milhazes mistura abstração, geometria, modernismo, pop art, concreto e neoconcretismo, valorizando a expressividade, a sensibilidade, e a subjetividade.

Trabalha com cores intensas, formas e padronagens que atraem olhares e intensificam sensações. A artista investe na produção manual, na confecção, na montagem e na pesquisa de novas técnicas e materiais diversos. Busca recursos, possibilidades e soluções. E assim constrói o seu mundo, um caminho autoral, uma identidade criativa.



Suas obras são construídas por camadas sobrepostas de cores, formas, elementos e materiais diversos, possuindo a complexidade da técnica mista (mixed media), a partir de coisas simples. A simplicidade e a infinita complexidade se encontram em suas obras, que apresentam uma beleza exuberante e colorida.

Beatriz Milhazes se inspira inicialmente na artista Tarsila do Amaral, também brasileira, com suas pinturas que expressam a possibilidade de pensar uma linguagem pessoal, o seu estilo de criar. Em suas colagens ela integra embalagens de doces e chocolates, cartões, tickets, ingressos e objetos do cotidiano, que pertencem à vida real e são, a princípio, estranhos ao trabalho artístico. Contudo, esses objetos representam valiosos relicários que não devem ser esquecidos, transformando trabalhos carregados de significados, simbolismos e histórias.

As propriedades e qualidades das obras e dos processos criativos da artista, nos remetem aos benefícios da Arteterapia, como a representação da expressividade, da liberdade e da criatividade. Suas obras retratam a identidade, a singularidade e a subjetividade, falando do indivíduo e da alma humana.

A história e sua arte de Beatriz Milhazes servem de inúmeras inspirações, apoio e embasamento para as atividades plásticas e expressivas no processo arteterapêutico, a partir da diversidade de linguagens e materiais utilizados em camadas, numa produção plástica – técnica mista. Proporcionando muita prática e experimentação, buscando soluções criativas, autonomia e liberdade de expressão, ampliando e aprofundando o olhar, acessando questões importantes como o autoconhecimento e facilitando o encontro consigo mesmo.

Experiência pessoal



Segundo Beatriz Milhazes, numa tela em branco pode-se construir seu mundo, desenvolver suas ideias e conceitos. Foi a partir disso que baseei minhas experimentações e estudos monográficos do curso de Pós-graduação (2019), pela Pomar/Favi, sobre estratégias expressivas em técnica mista, ativando o processo criativo em Arteterapia.

Verifiquei o potencial curativo e terapêutico pela utilização do método criado, partindo do pressuposto que o processo criativo pode ser organizador, restaurador, recuperador e liberador do fluxo de energia psíquica, levando ao bem-estar, à expressividade e à saúde. Fui criando imagens, utilizando diversas linguagens na mesma produção, como pintura, desenho com materiais variados, colagens de revistas e de papéis diversos, e inserindo objetos (botões, rendas, plantas e flores naturais e artificiais etc.). Foram muitas experimentações, criações e novas possibilidades.

Prática arteterapêutica



A partir de uma metodologia criativa, com orientação e supervisão, montei um Projeto Piloto, de 4 encontros para 4 grupos distintos, com um total de 35 participantes. Os resultados dessa experiência foram muitas atividades e produções expressivas. Os participantes perceberam seus estilos de criar, possibilidades, caminhos e encontros. Entenderam o trabalho em etapas, precisando de tempo para compor, gestar e formar. Experenciaram o caminho do “fazer arte”, o caminho que seguimos para dentro, para encontrar a criatividade e a alegria de praticar a sua forma de criar. Construíram um estilo próprio, buscaram sua singularidade e seu aprimoramento. Se descobriram e se encontraram. Trabalharam a integração, a estruturação, a organização e a composição.

Assim, como as obras de Beatriz Milhazes, que trazem todos esses conceitos, além da liberdade de criar a própria ordem, e ainda sugerem a ideia de abundância, tornando a vida mais bela e agradável.



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Sobre a autora: Vera de Freitas



Advogada, Fomação e Pós Graduação em Arteterapia e Envelhecimento Ativo,  Subjetividade e Arte(POMAR).

Administradora do Instituto VENHA CONOSCO - Tijuca, RJ

Professora de Iniciação Artística - Instituto ZECA PAGODINHO 

Professora de Ateliê Terapêutico/Curso de Formação - POMAR

Diretora Administrativa  da AARJ 

Facilitadora de Grupo de Arteterapia  para adultos e Grupo de Desenho Livre.

Ateliê  de PAPEL MACHÊ e Diário Criativo.

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