Por Juliana Mello - RJ
Regulação emocional é a
habilidade de reconhecer, entender e lidar com as emoções de forma que elas não
nos prejudiquem no dia a dia. É fazer amizade com as emoções e entender que
elas não são inimigas, mas sinais de que algo precisa ser observado.
E por
que as emoções são tão importantes? Porque é a forma que nosso cérebro processa
as informações, procurando em nossas “caixinhas” mentais experiências
anteriores, para adaptá-las e nos orientar em como iremos nos comportar no
momento presente, ressignificando padrões que estão disfuncionais. Às vezes, ele
ativa memórias antigas, outras vezes ele cria novas conexões emocionais.
As
emoções nos mostram que algo agradável ou desagradável está acontecendo. Muitas
vezes, não conseguimos identificar o pensamento ou o gatilho para uma situação
disfuncional, e encontramos nas emoções o termômetro que nos orienta que algo
não está “legal”. À medida que nosso termômetro emocional vai aumentando a
temperatura, percebemos as reações fisiológicas em nosso corpo, até que “a
ficha cai” e precisamos observar o que não está agradável. Em muitos casos, o
corpo sente antes da mente entender, como uma tensão no peito, insônia, um
aperto no estômago ou uma alteração na respiração.
Quando
estamos desregulados emocionalmente, as emoções podem ser sentidas de uma
maneira muito intensa ou como uma sensação de anestesia (como se não
sentíssemos nada), sendo, ambas as formas, disfuncionais. Sentir
demais pode nos sobrecarregar, nosso inconsciente cognitivo entrará em ação de
maneira desfuncional e pode nos levar a “explodir” ou agir no impulso. Sentir
de menos pode nos deixar apáticos, distantes ou desconectados da realidade.
Evitar sentir emoções
desagradáveis pode parecer um alívio no curto prazo, mas a longo prazo é um
fator prejudicial para nossa saúde mental, pois as consequências podem gerar
reforço de crenças desfuncionais e repetição de comportamentos padrões
indesejados. A supressão emocional e a ruminação (ficar preso em pensamentos
negativos repetitivos) são dois exemplos clássicos de desregulação emocional. A
ruminação, por exemplo, nos prende no passado ou em preocupações constantes com
o presente, minando nossa capacidade de imaginar um futuro diferente.
É importante lembrar que emoções
como tristeza, raiva ou medo não são “ruins” — elas têm um papel adaptativo. O
medo, por exemplo, é uma das emoções mais primitivas que temos. Ele está aí
para nos proteger. O problema não é sentir medo, e sim quando ele nos paralisa
ou nos leva a agir sem pensar. Percebo em meus
atendimentos clínicos que o desejo do paciente é parar de sentir o incomodo que
essas emoções trazem e, em muitos casos associam o “sucesso” da terapia aos
tipos de emoções que estão sentindo.
Na TCC, entendemos que emoções,
pensamentos e comportamentos estão interligados em um ciclo contínuo. Um
pensamento pode gerar uma emoção, que influencia nosso comportamento. E esse
comportamento, por sua vez, pode reforçar o pensamento inicial.
Pensamentos geram emoções.
Emoções evocam comportamentos.
Memórias emocionais alimentam pensamentos automáticos.
E por que a Regulação emocional é
importante? Ao desenvolvermos habilidades de regulação emocional, conseguimos
responder em vez de apenas reagir automaticamente as situações do nosso dia a
dia, principalmente as relacionadas as emoções desagradáveis. Com consciência e
treino, podemos sair desse “piloto automático” e fazer escolhas mais alinhadas
com nossos valores, ter relações mais saudáveis, alcançar metas e desenvolver
maior flexibilidade cognitiva — o que, na prática, é aprender a olhar para uma
situação de diferentes ângulos, com mais abertura e menos julgamento.
E como a Arteterapia pode
auxiliar na Regulação Emocional?
Através das técnicas expressivas,
podemos auxiliar nossos pacientes a saírem do discurso de ruminação,
identificarem as emoções e lidarem com a ação, mesmo que esta gere desconforto,
pois estará alinhada aos objetivos e planos terapêuticos, em um ambiente
seguro, junto ao terapeuta.
Muitos pacientes também mantém o
discurso de que “está tudo bem”, mas queixam-se de insônia, compulsão alimentar
e outros comportamentos que compensam a anestesia emocional. A Arteterapia
auxilia a identificar desconfortos “escondidos”.
Um exemplo clínico do início do
trabalho de regulação emocional é com uma paciente, de 40 anos, que estava com
muitas dúvidas em relação a si mesmo e ao seu futuro, não sabendo por onde
começar a fazer mudanças na vida, mas sabendo que algo não estava bom. O
pensamento que surgia sempre era que já estava velha. Não sabia nomear as
emoções, porém seu termômetro interno estava sinalizando que seu momento atual
pedia por mudanças.
Iniciamos com uma colagem, para
reflexão das coisas que ela estava desejando para o futuro. A colagem era livre
e ela poderia utilizar quantas imagens desejasse.
Colocar no papel os objetivos os
tornam mais claros, é como se fossem tirados do mundo das ideias e já não estão
mais perdidos. Desta forma também foi possível identificar o que pensava sobre
alcançar os objetivos e o que esses pensamentos geraram de emoções.
Em uma das sessões, emoções
relacionadas a insegurança e crença de que jamais alcançaria tais sonhos
estavam intensas, então pedi que ela escolhesse uma mandala e colocasse as
emoções em formas de cores. O pensamento que surgiu foi “Meu Deus, que loucura!”
Ela pode perceber, através da sua pintura, que poderia ir realizando seus
objetivos passo a passo, assim como foi fazendo com a mandala. As emoções não
foram embora, mas foram reguladas.
Emoções reguladas nos proporcionam um estado de consciência capaz
de realizar nossos objetivos com clareza:
“Entenda os seus medos, mas jamais deixe que eles sufoquem os seus
sonhos.” Alice no país das maravilhas
Referências Bibliográticas:
LEAHY, Robert L; TIRCH, Dennis; NAPOLITANO, Lisa A. Regulação Emocional em Psicoterapia: um guia para o terapeuta Cognitivo-Comportamental. Porto Alegre: Artmed, 2013.
SABAN, Michaele Terena. Introdução à Terapia de Aceitação e Compromisso. 2ª Edição. Belo Horizonte: Ed. Artesã, 2015.
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Sobre a autora: Juliana Mello
Psicóloga, Arteterapeuta e Coach
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