segunda-feira, 23 de junho de 2025

O QUE É REGULAÇÃO EMOCIONAL? - TCC E ARTETERAPIA

 Por Juliana Mello - RJ

@vivendotccearte 

Regulação emocional é a habilidade de reconhecer, entender e lidar com as emoções de forma que elas não nos prejudiquem no dia a dia. É fazer amizade com as emoções e entender que elas não são inimigas, mas sinais de que algo precisa ser observado.

E por que as emoções são tão importantes? Porque é a forma que nosso cérebro processa as informações, procurando em nossas “caixinhas” mentais experiências anteriores, para adaptá-las e nos orientar em como iremos nos comportar no momento presente, ressignificando padrões que estão disfuncionais. Às vezes, ele ativa memórias antigas, outras vezes ele cria novas conexões emocionais.

As emoções nos mostram que algo agradável ou desagradável está acontecendo. Muitas vezes, não conseguimos identificar o pensamento ou o gatilho para uma situação disfuncional, e encontramos nas emoções o termômetro que nos orienta que algo não está “legal”. À medida que nosso termômetro emocional vai aumentando a temperatura, percebemos as reações fisiológicas em nosso corpo, até que “a ficha cai” e precisamos observar o que não está agradável. Em muitos casos, o corpo sente antes da mente entender, como uma tensão no peito, insônia, um aperto no estômago ou uma alteração na respiração.

Quando estamos desregulados emocionalmente, as emoções podem ser sentidas de uma maneira muito intensa ou como uma sensação de anestesia (como se não sentíssemos nada), sendo, ambas as formas, disfuncionais. Sentir demais pode nos sobrecarregar, nosso inconsciente cognitivo entrará em ação de maneira desfuncional e pode nos levar a “explodir” ou agir no impulso. Sentir de menos pode nos deixar apáticos, distantes ou desconectados da realidade.

Evitar sentir emoções desagradáveis pode parecer um alívio no curto prazo, mas a longo prazo é um fator prejudicial para nossa saúde mental, pois as consequências podem gerar reforço de crenças desfuncionais e repetição de comportamentos padrões indesejados. A supressão emocional e a ruminação (ficar preso em pensamentos negativos repetitivos) são dois exemplos clássicos de desregulação emocional. A ruminação, por exemplo, nos prende no passado ou em preocupações constantes com o presente, minando nossa capacidade de imaginar um futuro diferente.

É importante lembrar que emoções como tristeza, raiva ou medo não são “ruins” — elas têm um papel adaptativo. O medo, por exemplo, é uma das emoções mais primitivas que temos. Ele está aí para nos proteger. O problema não é sentir medo, e sim quando ele nos paralisa ou nos leva a agir sem pensar. Percebo em meus atendimentos clínicos que o desejo do paciente é parar de sentir o incomodo que essas emoções trazem e, em muitos casos associam o “sucesso” da terapia aos tipos de emoções que estão sentindo.

Na TCC, entendemos que emoções, pensamentos e comportamentos estão interligados em um ciclo contínuo. Um pensamento pode gerar uma emoção, que influencia nosso comportamento. E esse comportamento, por sua vez, pode reforçar o pensamento inicial.

Pensamentos geram emoções.
Emoções evocam comportamentos.
Memórias emocionais alimentam pensamentos automáticos.

E por que a Regulação emocional é importante? Ao desenvolvermos habilidades de regulação emocional, conseguimos responder em vez de apenas reagir automaticamente as situações do nosso dia a dia, principalmente as relacionadas as emoções desagradáveis. Com consciência e treino, podemos sair desse “piloto automático” e fazer escolhas mais alinhadas com nossos valores, ter relações mais saudáveis, alcançar metas e desenvolver maior flexibilidade cognitiva — o que, na prática, é aprender a olhar para uma situação de diferentes ângulos, com mais abertura e menos julgamento.

E como a Arteterapia pode auxiliar na Regulação Emocional?

Através das técnicas expressivas, podemos auxiliar nossos pacientes a saírem do discurso de ruminação, identificarem as emoções e lidarem com a ação, mesmo que esta gere desconforto, pois estará alinhada aos objetivos e planos terapêuticos, em um ambiente seguro, junto ao terapeuta.

Muitos pacientes também mantém o discurso de que “está tudo bem”, mas queixam-se de insônia, compulsão alimentar e outros comportamentos que compensam a anestesia emocional. A Arteterapia auxilia a identificar desconfortos “escondidos”.

Um exemplo clínico do início do trabalho de regulação emocional é com uma paciente, de 40 anos, que estava com muitas dúvidas em relação a si mesmo e ao seu futuro, não sabendo por onde começar a fazer mudanças na vida, mas sabendo que algo não estava bom. O pensamento que surgia sempre era que já estava velha. Não sabia nomear as emoções, porém seu termômetro interno estava sinalizando que seu momento atual pedia por mudanças.

Iniciamos com uma colagem, para reflexão das coisas que ela estava desejando para o futuro. A colagem era livre e ela poderia utilizar quantas imagens desejasse.


 

Colocar no papel os objetivos os tornam mais claros, é como se fossem tirados do mundo das ideias e já não estão mais perdidos. Desta forma também foi possível identificar o que pensava sobre alcançar os objetivos e o que esses pensamentos geraram de emoções.

Em uma das sessões, emoções relacionadas a insegurança e crença de que jamais alcançaria tais sonhos estavam intensas, então pedi que ela escolhesse uma mandala e colocasse as emoções em formas de cores. O pensamento que surgiu foi “Meu Deus, que loucura!” Ela pode perceber, através da sua pintura, que poderia ir realizando seus objetivos passo a passo, assim como foi fazendo com a mandala. As emoções não foram embora, mas foram reguladas.


 

Emoções reguladas nos proporcionam um estado de consciência capaz de realizar nossos objetivos com clareza:

“Entenda os seus medos, mas jamais deixe que eles sufoquem os seus sonhos.” Alice no país das maravilhas


Referências Bibliográticas:

LEAHY, Robert L; TIRCH, Dennis; NAPOLITANO, Lisa A. Regulação Emocional em Psicoterapia: um guia para o terapeuta Cognitivo-Comportamental. Porto Alegre: Artmed, 2013.

SABAN, Michaele Terena. Introdução à Terapia de Aceitação e Compromisso. 2ª Edição. Belo Horizonte: Ed. Artesã, 2015.

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Sobre a autora: Juliana Mello



Psicóloga, Arteterapeuta e Coach

Atendimento clínico  individual e grupo om criança, adolescente, adulto e idoso.
Abordagem em Terapia Cognitivo- Comportamental e Arteterapia

Palestras e Workshop motivacionais.

GRUPO DE ESTUDOS: "TCC e técnicas expressivas"

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