segunda-feira, 13 de março de 2023

RECURSOS INTERNOS

 

Por Silvia Quaresma - SP

othila.arteterapia@gmail.com

Incontestável a importância da terapia na vida do arteterapeuta. É um processo contínuo de busca de significados, de pequenos acertos, de soluções transformadas aos poucos em resoluções.

É comum observar o terapeuta ser surpreendido pela crise do impostor. Como auxiliar o outro, como contribuir em sua melhoria e cura trazendo dentro de si conteúdos de dor e sofrimento também? E outro detalhe, supostamente é preciso anos de prática.

O processo arteterapêutico além de surpreender e encantar, aprofunda e traz à tona ferramentas não percebidas. E neste momento, a razão incomodada quer tomar a frente e trazer explicações que ela própria desconhece. A emoção como pouco entende do assunto, só sente, e não parece ser suficiente.

Numa sensibilização a leitura de um trecho de livro chamou a atenção:

As velhas tinham muitos anos de prática numa imensa variedade de ofícios das mãos – fiar, tecer, tingir, bordar, crochetar, fazer renda, tricotar, acolchoar, fazer filé, plantar, colher, arrancar, fazer conservas, moer, queimar, tornear, semear, ver e curar. (ESTÉS, 2007, p.69).

 

Percebi que o simples utilizar das mãos de forma coerente e constante durante a vida possibilitava a prática sempre tão desejada. Fácil entendimento para uso de fios, para a confecção de uma renda, por exemplo, que vai exigir certa maestria para um efeito uniforme e preciso.

 


A razão não parava de questionar: quanto tempo é necessário para que a experiência se instale? A leitura continuou:

Através de suas práticas diárias, tornou-se aparente para mim que não era apenas o quê da vida de uma velha que era importante, mas também os recursos interiores – o que havia dentro dela, que sabedoria e força de coração tinham sido acumuladas... parte semeada de propósito, parte trazida pelo vento -, mas tudo colhido com consciência. (ESTÉS, 2007, p.70)

 

A resposta tão almejada e que a emoção já sabia: recursos interiores. É o que se tem dentro, a soma que tudo que se viveu, aprendeu, sofreu, sentiu, experimentou.  É um acervo de tudo. Um todo que colabora, que modifica, que ajuda ressignificar.

Os recursos internos agem na medida em que é preciso agir. A mesma situação com novo olhar e consequentemente nova forma, traz novo resultado. 


O tecer, a mesma renda monocromática, algo alterado com os recursos que se tem, que se almeja, que são criados. A sensibilização fala de mulheres sábias, que ensinam, que promovem mudanças, que lembram o que se tem:

Elas me revelaram as camadas psíquicas em que era possível estar constantemente animada por ideias, invenções e pela perseverança de viver uma vida caracterizada por aquilo que se poderia chamar de racionalismo apaixonado – uma vida repleta de paixão e impregnada de razão. (ESTÉS, 2007, p.68).

 

A sessão terminou com a certeza que sim é possível buscar dentro de si o que fazer, como fazer e para que fazer. É possível sim contribuir com a mudança do outro enquanto mudo também e é possível entender que existe um combinado perfeito entre razão e emoção chamado  racionalismo apaixonado.

Mas isto é assunto para outro texto.

 

Bibliografia

ESTÉS, Clarissa Pinkola. A Ciranda das Mulheres Sábias,  Rio de Janeiro,  Editora Rocco, 2007.

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 Sobre a autora: Silvia Quaresma

 


Arteterapeuta

AATESP 665/0720

Graduada em Letras, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Moema - SP

Pós-Graduada em Finanças, Ibmec - SP

Pós-Graduada em Arteterapia e Criatividade – NAPE – Faculdade Vicentina em parceria com Instituto Freedom

Professora especialista de artesanato

Idealizadora do Projeto Customizando Emoções –Interface entre Artesanato e Arteterapia

Idealizadora Othila Arteterapia em ação (@othila.arteterapia)

Idealizadora Fio que sente (@fioquesente)

Coordenadora de Grupos de Arteterapia em Instituição para cuidadores e voluntários

Atendimento em Arteterapia (individual e grupos)



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