Por Eliana Moraes
Dentro dos meus estudos em
psicanálise, tenho me dedicado ao texto “À
guisa de Introdução ao Narcisismo” escrito por Freud em 1914. Durante esta
leitura tenho exercitado duas escutas: a primeira para o conteúdo teórico em
si, mas paralelamente ao manejo de Freud em sua articulação teórica e escrita.
Este texto é um dos pilares da
teoria psicanalítica e ponto de partida para tantas linhas de raciocínio
posteriores na Psicanálise. Mas ao longo do texto Freud deixa claro que enquanto escreve, está construindo suposições
a partir de sua observação clínica. Nele encontramos expressões como “é provável” ou “é possível”, “tal hipótese é
útil”, “podemos considerar”...
Freud esclarece seu
procedimento ao se ver diante da
inexistência de alguma teoria sobre as pulsões, afirmando que assim sendo:
“... nos é permitido, ou mesmo necessário,
elaborar alguma suposição inicial e aplicá-la de modo coerente até que ela
fracasse ou se confirme.”
Mas reconhecedor da
possibilidade do equívoco ao longo deste processo, afirma:
“Contudo, também serei coerente o bastante
para abandonar esta hipótese se, a partir do próprio trabalho psicanalítico,
surgir outra premissa sobre as pulsões que se mostre mais apropriada.”
Naturalmente o exercício do
levantamento de hipóteses não se dava gratuitamente, mas absolutamente a partir
da observação clínica de Freud, ao qual ressalta a importância da prática de “uma ciência construída sobre a
interpretação de dados empíricos.”
Assim, sobre a o devido valor
da observação e da formação de ideias, Freud conclui:
“... a ciência se dará por satisfeita com
ideias básicas, nebulosas e ainda difíceis de visualizar, sempre, porém, com a
esperança de mais adiante, no decorrer de seu desenvolvimento, vir a apreender
tais ideias com mais clareza, mostrando-se ainda disposta a eventualmente
trocá-las por outras. Afinal, o
fundamento da ciência não são as ideias, mas sim a observação pura sobre a qual
tudo repousa. Elas [as ideias] não
são a base mas o topo do edifício, e podem, sem prejuízo, ser substituídas
e removidas.”
Por
que citar Freud e seu texto “A guisa de
Introdução ao Narcisismo”?
No texto que escrevo hoje, não
cabe o aprofundamento dos conceitos da teoria psicanalítica. Mas trata-se de um
teórico ao qual escolhi estudar, e que sua
disponibilidade me inspira quanto à flexibilidade do pensar e ao autorizar-se a
articular, a partir de sua observação clínica.
Ler sobre as articulações de
Freud me fez lembrar meu percurso na Arteterapia e no blog Não Palavra. Esta
empreitada só deu seus primeiros passos quando decidi estudar e observar
intuitivamente cada momento da minha prática na Arteterapia, seja na clínica
individual ou grupal, no Hospital Adventista Silvestre ou na clínica
particular, nos cursos, palestras e supervisões. Em paralelo me propus a registrar minhas
percepções e a compartilhar com aqueles interessados em dialogar.
Para manter-me consciente do meu propósito, inseri
como subtítulo do blog o “Pensando a
Arteterapia”. A palavra “pensando” colocada no gerúndio, deixa clara a
premissa a partir da qual me autorizei a iniciar este ousado projeto: este é um
caminho de reflexão, um processo ao qual se faz necessário abrir mão da
(falsa) segurança do “está pronto”. Esta proposta inclusive me permite escrever
e mais à frente me retificar caso seja necessário.
E este é o convite ao qual desejo estender aos
amigos do blog Não Palavra. Que neste ano se lancem à prática da Arteterapia em
suas diversas modalidades e que em paralelo exercitem sua observação intuitiva.
Que para sedimentar suas articulações, escrevam sobre suas percepções,
intuições, hipóteses, teorizações, sem a preocupação excessiva de chegar ao “pronto”
- não existe “o pronto”, existe o caminho trilhado até hoje. Que tentem
dialogar suas ideias com teóricos que já estiveram em algum lugar similar. E
que por fim, compartilhem seus escritos com seus pares, pois o outro é peça
fundamental neste percurso ao fazer espelhamento e devolutivas que nos mostrem
pontos cegos, fure nossas certezas e nos motive a continuar buscando.
Na última semana lançamos o “Não Palavra abre as portas”, convidando
aos arteterapeutas, estudantes e demais interessados pela arte e seus
desdobramentos, para que sejam parceiros coautores do blog escrevendo textos e
compartilhando suas articulações. (Ver texto anterior)
Que
em 2017 o blog Não Palavra seja um espaço de registros de estudos e práticas em
Arteterapia. E que os que acreditam nela, possam se lançar à sua prática com a
mais aguçada e intuitiva observação.
Caso você tenha se
identificado com a proposta do “Não
palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite,
escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos
iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao
formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
Referências Bibliográficas:
SIGMUND, Freud. À guisa de Introdução ao Narcisismo. Obras completas,
1914.
Eliana, muito bom este texto! Excelente reflexao! Um convite, desafio que aumentou meu desejo de prestar mais atençao ao meu redor e registrar tudo que for possivel ...Compartilhar conhecimento é o melhor caminho para o crescimento....
ResponderExcluirObrigada pelo seu compartilhar Tania!
ExcluirQue 2017 seja um ano de muitas trocas!
Um beijo!