Por Maria Cristina de Resende
crisilha@hotmail.com
É
muito comum na prática da Arteterapia usarmos os 4 elementos como disparador de
processos alquímicos/psíquicos ou como pacificador de um momento de muita raiva
– fogo – ou de muita emoção – água, por exemplo. Em agosto deste ano
compartilhei um texto com vocês, caros leitores, acerca da origem, do uso e das
associações terapêuticas com os 4 elementos.
Entretanto,
na minha caminhada fui apresentada ao quinto elemento – o éter, que para muitos
pode parecer estranho, ou ser associado ao elemento químico éter, mas aqui no
nosso contexto ele será tratado como a manifestação cósmica do vazio. No corpo
ele se manifesta em todos os espaços vazios, como narinas, boca, cavidade
auricular, tubo gastro-intestinal, vagina, veias, útero, espaços entre células
e na mente como o vazio psíquico em que nos deparamos em alguns momentos da
vida e até mesmo como um desdobramento da depressão, de acordo com minha experiência
no tratamento de pessoas com este diagnóstico.
É
um elemento de extrema importância, pois sem esses espaços vazios em nosso
corpo não é possível que aconteça o fluxo do sangue, que a comida percorra o
caminho necessário para se transformada em energia e nos manter vivos, não
haverá um espaço onde a nova vida se formará, crescerá e virá à luz.
Sem
vazio não há movimento.
E
como essa explanação nos ajuda na prática terapêutica da Arteterapia?
Quando
um paciente vem até nós buscando terapia é comum que venha com a cabeça cheia
de questionamentos, confuso, sem saber qual pensamento priorizar, não sabe
responder o que o faz feliz nem tampouco reconhece seus desejos mais profundos.
Isso nos mostra que há um monte de coisas amontoadas ocupando todos os espaços,
como aquele quarto de serviço que temos em casa, que sem saber o que fazer com
ele o ocupamos com tudo que não queremos ver, nem dar fim em nossa casa. Assim
acontece com nossa mente, ocupamos com padrões, certos e errados, formatos
sociais, culturais ou familiares que muitas vezes não nos cabem mais em
determinados momentos de nossa vida, e não conseguimos esvaziar esses espaços,
pois o Nada possui sua angustia.
É
preciso aprender a se esvaziar para que o éter se manifeste e é esse o processo
doloroso, não o vazio em si, pois para se esvaziar é preciso olhar de frente para
tudo aquilo que fomos “entulhando” em nossa mente e em nossas emoções,
vasculhar nos cantos de nossa alma o que quisemos esquecer – ou fingir que –
para não dar conta, não elaborar, não digerir. E nesse processo tornamos
presente tudo aquilo que achávamos que estava no passado. Entretanto só assim é
possível atualizar as imagens, as cenas, a memória afetiva contida em cada
lembrança, e então, ao olharmos, ao falarmos, ao coagularmos nos materiais
podemos aos poucos nos esvaziar.
Conforme
esse processo de esvaziar vai acontecendo, aos poucos brechas de luz vão
entrando nos lugares antes trevosos e podemos ver que pequenos espaços vazios
vão surgindo e dele todo o potencial de criação é renovado e potencializado. Em
outro texto compartilhado aqui neste Blog, falei sobre os mitos de criação e do
quanto nossa mente e nosso capacidade criativa está diretamente ligada ao
reviver esse mito a cada dia em nossa mente mais profunda. Sendo assim, devemos
lembrar que Gaia, Urano, Eros e Tártaro, na mitologia grega, vieram do Kaos, o
vazio, o abismo de amplo espectro. Ou seja, tudo vem do vazio, sem ele não há
possibilidade de renovação, de criação, nem fora de nós, nem dentro de nós.
Caso
1: O reflexo vazio, ainda que a primeira vista pareça uma carência de
determinada imagem, é na verdade a possibilidade de ser qualquer imagem,
exigindo do individuo uma pesquisa dentro de si mesmo do melhor e do pior a ser
criado desse vazio, e assim, criar em si mesmo a imagem possível dentro de
todas as experiências vividas e idealizadas.
Caso 2: Foi pedido para o cliente desenhar um disco e, dentro dele, distribuir os aspectos que vivencia na vida. Diante dessa possibilidade de perceber a área de atuação de cada aspecto em sua vida, escapa um não selecionado conscientemente, ou seja, um grande espaço em branco "sobra", e nele não há nome, forma, direção nem tampouco clareza de que aspecto ele estaria representando. Aqui o vazio se expressa de forma mais forte, como um "ato falho", onde, para surpresa do autor, não há forma, não há sentido nem direção, apenas pura potência.
Assim é o vazio, a pura potência, que despida de formas e pré-conceitos se expressa apenas como a possibilidade infinita de criar, seja a si mesmo ou ao mundo ao seu redor.
Caso tenha dificuldades em postar seu comentário, nos envie por e-mail que nós publicaremos no blog: naopalavra@gmail.com
Seu trabalho é maravilhoso. Profundo, Você é uma antropóloga da alma.
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