Sobre a criatividade e autonomia do arteterapeuta
com relação às técnicas e materiais de arte.
Insula Dulcamara,
1938. Óleo sobre papel de jornal e juta. Paul Klee.
Por Flávia Hargreaves
Os materiais de arte, em especial, os que se referem a desenho e pintura sempre exerceram fascínio sobre mim. Basicamente foi o que me levou a Escola de Belas Artes, UFRJ, onde me graduei em Comunicação Visual nos anos 80. Em seguida, os “materiais mágicos” foram substituídos por uma simulação dos mesmos no mundo virtual da computação gráfica. O design não era mais o lugar para os papéis, os pincéis, as tintas que me encantaram na infância e na adolescência. As artes plásticas se transformaram em artes visuais ampliando os seus meios e categorias, deixando também de ser o lugar para os materiais tradicionais de arte. E tudo isto foi maravilhoso, porque pude perceber que a Arte definitivamente não tinha mais nada a ver com “habilidades”, mas com ideias, o que não era exatamente uma novidade.
Foram necessárias mais de 2 décadas para que eu me reencontrasse com os “materiais mágicos”, e este reencontro se deu a partir da Arteterapia. Melhor dizendo: um reencontro “com a mágica dos materiais”. Nesta época fiz o curso de formação em Arteterapia com Ligia Diniz e voltei para a EBA para cursar Licenciatura em Artes.
Esta trajetória foi fundamental para a construção de um novo olhar para as técnicas e materiais, agora voltados para fins terapêuticos. Em 2009, criei o curso “Conhecendo os materiais e aprendendo a usá-los”, com a proposta de ser um ateliê de artes que proporcionasse ao terapeuta um espaço para experimentação e exploração das possibilidades expressivas dos materiais, para reflexão e discussão sobre sua aplicabilidade no setting terapêutico. De lá para cá, o curso teve muitos formatos e foi se adaptando ao que eu percebia ser fundamental a partir de questionamentos meus e dos alunos. Uma das mudanças foi a introdução de conteúdos da História da Arte e a “autorização da transgressão” às “técnicas”.
Cada vez mais, incentivo o desenvolvimento da criatividade e da autonomia do arteterapeuta. Ele deve se apropriar das técnicas e das qualidades de cada material, entrar em contato com suas contradições, experimentar diversos caminhos para aplicá-los de forma criativa a partir das demandas de seu cliente.
É importante lembrar que o arteterapeuta trabalha no sentido de estimular a criatividade no seu cliente e a criatividade não é a melhor amiga da “receita pronta”. Buscar uma técnica como “um modo de fazer” e não como “o modo de fazer”; Olhar para a técnica de modo que amplie as possibilidades e não que aprisione, compreendendo que o conhecimento das “receitas” possibilita a desconstrução das mesmas; Experimentar a regra e transgredi-la. Enfim, fazer tudo diferente, porque o “errado” pode ser o jeito certo.
contato: fmhartes@gmail.com
naopalavra@gmail.com
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