domingo, 2 de agosto de 2020

TÉCNICA DO BORDADO PERUANO NA ARTETERAPIA



Por Claudia Isadora - SP
claudinhaisadora@gmail.com
Instagram: @Claudia_Isadora_Fernandes

Peru produz um dos melhores bordados do mundo. A produção têxtil peruana vem sendo desenvolvida há cerca de 3 mil anos, pelos povos indígenas, peritos nesta arte, que é passada via oral de mãe para filha. A cidade de Ayacucho, por exemplo, é conhecida por seu tipo de bordado, feito pelas “madrecitas”. Normalmente, são bordadas flores coloridas, arabescos, situações do dia a dia, bordadas em toalhas, tapetes, lenços, almofadas.

As flores são em degradê, indo da cor escura para a mais clar. O material comum utilizado é a lã, às vezes, de ovelha, mas também se usa da Alpaca.

Para fazer o bordado peruano você vai precisar de:

– Um pedaço de tecido (eu utilizo algodão 100% cru); lãs de variadas cores. (se quiser escolha as cores em degradê, por exemplo, roxo, rosa, branco, etc);  tesoura; agulha de tapeçaria grande (que passe a lã pelo buraco); caneta; bastidor; molde.

Utiliza-se um molde de flor para ser desenhado no tecido (Há vários na internet, procurar por ‘molde bordado peruano’ ou ‘ayacuchano’). O ponto “mosca” é o mais comum para bordar as flores e o ponto “corrente” para fazer os arabescos (igualmente, em sites, como o Youtube, existem tutoriais que ensinam a fazer o bordado).

ARTETERAPIA E BORDADO

Utilizamos como uma pratica artística na Arteterapia o bordado, pois ele ajuda a equilibrar o Elemento Ar, dando direcionamento, foco, atenção, relaxamento, sentimento de pertencimento, aumento da autoestima, alegria. Também, amplia a sociabilidade, diminuindo a sensação de solidão.

Para Fonseca: “O trabalho com bordado redimensiona a distribuição do tempo, a dedicação e a minuciosidade do ato favorecem a introspecção, que é necessária para o contato com o subjetivo. As linhas e agulhas, unidas à produção manual, formam uma trama, desembaraçam e organizam ideias à medida que possibilitam a representação de um objeto, de um símbolo” (Fonseca, Erika Luiza, Arterevista nº 05, jan/jun 2015).

Ao bordar, mantemos a atenção plena (Mindfulness) na peça que estamos produzindo, tornando-se uma arte meditativa. Entramos em contato com sentimentos, reflexões, emoções, memórias, ao longo da bordadura.

Continua Fonseca: “(...) assim, de ponto a ponto, de fio a fio, o indivíduo constrói, dá vida a uma figura ou símbolo abstrato, trama e destrama uma ideia, aprende que, às vezes, é necessário parar para observar, desmanchar para recomeçar. A cadência dos movimentos, a paciência e a delicadeza do bordado propiciam momentos de autoconhecimento e valorização pessoal; visto que, ao concluir sua produção, o indivíduo se transforma em autor de um símbolo” (p.55, idem).

Eu entrei em contato com o bordado peruano em uma aula no Sesc Guarulhos. Nunca tinha bordado antes, mas queria aprender para poder passar no setting arteterapeutico quando aparecesse a demanda. Eu me encantei por ser um bordado colorido, fácil e alegre. Ao fazer a flor, que lembra uma mandala, várias falas da minha mãe e tias vinham a minha mente. Na época em que elas cresceram, elas aprendiam a bordar na escola. Eu me lembro de uma tia falando: “Eu bordava melhor que a fulana. Eu fazia o bordado e não deixava aparecer o arremate”. E mais uma enxurrada de lembranças da minha ancestralidade apareceu, ajudando a curar uma parte do meu feminino, necessitado naquele momento.

Ao ler sobre a história do bordado peruano, percebi que podemos também utilizá-lo numa prática de Arteterapia quando há a procura por parte do cliente de um resgate da ancestralidade, de saber a sua história, de ter orgulho das suas raízes, pois uma característica desse artesanato é o de ser ensinado de mãe para filha há milênios nessa região dos Andes.

E por que falar de ancestralidade? Muitos são os pleitos no setting arteterapeutico de pessoas que não têm a sensação de pertencimento, se sentem perdidas, sem rumo. Essa “falta de si” ocasiona baixa autoestima, desmotivação, entre outros aspectos. A causa pode estar relacionada às questões de desentendimento com os pais, em que não há um vínculo sadio com os progenitores. De acordo com Bert Hellinger, quando não honramos nossos pais, não conseguimos ser prósperos: “Uma pessoa está em paz quando todas as pessoas que pertencem à sua família tem lugar no seu coração”. *

Portanto, de acordo com Hellinger, devemos fazer esse resgate da nossa ancestralidade para conseguirmos nos desemaranhar dos conflitos do sistema familiar e termos uma vida mais plena e satisfatória. Esse libertamento pode ser trabalhado pelo Arteterapeuta, sendo o bordado de grande valia nesse quesito.

Para a utilização dessa prática na Arteterapia, saliento também a importância de falar sobre a história do bordado, que também está presente no nosso povo, em muitas regiões do nosso Brasil. A historicidade ajuda a entender e a mergulhar mais profundamente no processo, porque dá um valor, um significado para o ato de bordar. 

Acredito ser uma ótima experiência, porque além dos benefícios terapêuticos supracitados, o bordado peruano, pelo seu design, pode se tornar até uma fonte de geração de renda, por que não?, ao ser aplicado em bolsas, mantas, toalhas, carteiras, e numa infinidade de acessórios.

Com essa crise devido à Pandemia do Corona Vírus, em que uma grande parcela da população perdeu renda e vive-se também um agravamento de problemas relacionados à ansiedade, depressão, articular a diminuição do estresse, que a prática arteterapeutica ajuda a proporcionar, com aprender um artesanato, o bordado, peruano ou não, se torna, nos tempos atuais, uma boa alternativa.  

Muita Luz, Claudia Isadora

* Fonte: https://constelacaoclinica.com/frases-bert-hellinger/

_________________________________________________________________________________

Sobre a autora: Claudia Isadora Fernandes de Oliveira


Formação Licenciatura em Letras Português inglês. Pós graduada em Língua Portuguesa e Arteterapia. Tem formação em teatro e cinema. Apaixonada por aprender, fez inúmeros cursos livres: escrita criativa, roteiro, desenho, mandalaterapia, Método Louise Hay, Mindfulness, Barra de Access, Reiki; praticante de Dança do ventre, Yoga e piano. 

Atendimento de Arteterapia online ou presencial, individual ou em grupo. Oferece também curso de práticas criativas e workshops, sediada em São Paulo. 

 

10 comentários:

  1. Excelente texto! Amei conhecer sobre o bordado peruano e essa conexão com a ancestralidade totalmente pertinente. Acho o trabalho com bordado na Arteterapia de um profundidade incrível e se mostra uma potente ferramenta. Parabéns e seja muito bem vinda ao time Não Palavra! Tania Salete Moreira - Fortaleza

    ResponderExcluir
  2. Belíssima produção. Sempre que possível, trabalho o bordado em meus atendimentos. É maravilhoso acompanhar o processo de criação, ponto a ponto. Parabéns! Sônia d'Azevedo - Rio de Janeiro

    ResponderExcluir
  3. Gostei muito, não conhecia este bordado!!! PArabéns pelo texto e explicação esclarecedora!!! beijão

    ResponderExcluir
  4. Adorei o texto! Curti muito e lembrei das minhas raízes tão ricas em formas e cores. O bordado peruano é maravilhoso assim como todo o artesanato. Obrigada Claudia!

    ResponderExcluir