"Girafa em chamas" Salvador Dali
Por Claudia Maria Orfei Abe - São Paulo / SP
É com muito entusiasmo que
escrevo aqui o meu segundo texto no blog Não Palavra, cuja equipe me acolheu tão
bem na minha primeira experiência, com o texto “'O olhar que não se perdeu': diálogos arteterapêuticos entre pai e filha” CLIQUE AQUI
Em fevereiro de 2018, iniciei
sessões arteterapêuticas com meu pai e minha tia, num setting terapêutico na
casa dele, com sessões estruturadas, temas diversos e experimentações de
materiais, com o objetivo de trabalhar a estimulação cognitiva.
Denominei aqui carinhosamente
“pai” e “tia” para descrever suas características e participações:
Pai – 85 anos, viúvo há dois
anos e meio, cinco filhos, ascendência japonesa, dentista aposentado,
caminhando para estágio moderado da Doença de Alzheimer. Faz uso de rivastigmina
e sertralina. Tem artrose nos joelhos, utiliza andador, possui certa autonomia
e tem cuidadores formais 24 horas. Perdeu a visão do olho direito no início
deste ano por causa de glaucoma.
Tia – 93 anos, solteira, sem
filhos, ascendência italiana, professora de português aposentada. Estado de saúde
bom.
Em 04/outubro/2019, fizemos a
sessão de número 57, denominada “Minhas Gavetas Internas”.
Foi a mais longa sessão, com
duração de uma hora e quarenta e cinco minutos, comparada com as sessões
iniciais que costumavam ter a duração média de meia hora.
Setting arteterapêutico
Iniciei perguntando se eles conheciam
o pintor espanhol Salvador Dali. Mostrei a pintura “A Persistência da Memória”,
e em seguida trabalhamos com uma fotocópia em preto e branco da obra “Girafa em
Chamas”.
Ao perguntar “O que você vê
nesta obra?”, pai e tia descreveram literalmente as imagens com detalhes.
Em seguida perguntei: “O que
você sente ao ver a obra?”:
Tia:
Sinto que se fossem pessoas reais elas estariam sofrendo uma terrível dor.
Pai:
Eu acho que é uma deformação humana. O artista estava totalmente alterado com a
mente, a visão alterada. Eu sinto que esses dois seres humanos inexistem ao
vivo, muito menos a girafa pegando fogo. Um desenho mal inspirado. Um desenho
ilógico.
Em seguida perguntei: “O que
vocês querem falar sobre as gavetas (na obra)?”:
Tia:
Devem estar repletas de alguns materiais: joias, dinheiro, lenços.
Pai:
Eu acho que as gavetas contêm a atividade humana.
Pai e tia passaram a construir
suas “gavetas internas” utilizando as caixas de fósforos, os retalhos de
tecidos e escolhendo peças como puxadores; definiram a montagem e posição das
gavetas, abertas ou fechadas.
Meu pai colou o tecido de modo
que uma gavetinha não abria... “As suas
explicações vieram um pouco tardia...”.
Durante a atividade, pai fala:
“Meus trabalhos manuais eram admirados,
viu tia, porque eu tinha habilidade (referindo-se ao período escolar quando
criança). Os outros alunos nem sabiam pegar na tesoura... eu causava até inveja
dos meus colegas de classe. Vou fazer a terceira (gaveta) e depois vou para o
recreio”.
“O que você tem ou gostaria de
ter nelas? Objetos ou sentimentos?”, perguntei.
Tia:
“Gavetas Abertas”
Conteúdos:
Anéis, Pulseiras, Colares.
Palavra
final: Utilidade
Pai:
“Gavetinhas Empilhadas”
Conteúdos:
Ideias, Realização da Ideia, Carinho.
Palavra
final: Pura Arte
(Utilizou
grãos de milho como puxadores, nos dois lados da gaveta que não abria).
Durante o compartilhamento:
Tia:
Achei que ficou muito bonito.
Pai:
Gavetas - guardam recordações agradáveis e bem sucedidas.
Aproveito para agradecer duas
pessoas queridas, Silvia Quaresma e Grace, por terem me presenteado em outra
ocasião, com tecidos e peças de bijuterias, os quais foram utilizados nesta
sessão.
Esta sessão me chamou muito a
atenção pela duração e principalmente porque pude perceber que os dois estavam
trabalhando com bastante concentração e calma e pareciam estar apreciando a
atividade.
Pela primeira vez, minha tia
fica muito satisfeita e contente com o resultado e adora olhar a foto de suas
gavetinhas no meu celular, de vez em quando.
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Sobre a autora: Claudia Maria Orfei Abe
Arteterapeuta e Farmacêutica
Farmacêutica-Bioquímica graduada pela UNESP Araraquara-SP.
Especialista em Farmácia Homeopática pela USP-SP.
Especialista em Organização de Serviços em Dependência Química pela UNIFESP-SP.
Especialista em Gestão da Assistência Farmacêutica pela UFSC-Universidade Federal de Santa Catarina-SC
Especialista em Arteterapia e Criatividade pela Faculdade Vicentina-PR
Focalizadora de Danças Circulares pela Prefeitura do Município de São Paulo-SP
Nossa, q criatividade, hein, xará arteterapeuta? Parabéns pela atividade!
ResponderExcluirQuê bacana, Cláudia.
ResponderExcluirEntendo como se sente. Eu também estou com intervenção Arteterapêuta nos cuidados com a minha mãe, em momento posterior, irei divulgar a experiência. Parabéns pela sua ação.
Claudia sinto que este trabalho que você desenvolve com seu pai traz uma paz muito grande para ele.É uma oportunidade de sentí-lo mais próximo de você. Parabéns por sua dedicação.Com certeza servirá de exemplo para outros que também estão vivenciando esta situação com algum familiar.
ResponderExcluirOi, Clau!
ResponderExcluirTô emocionada!
Que maravilha!
Muito amor, cuidado, criatividade...tudo de bom!
Vocês realizaram uma atividade que mexeu no "passado", mas com esperança no futuro!
Obrigada por compartilhar!
Beijão,
Érica.
Oi, Clau
ResponderExcluirTô emocionada!
Que maravilha!
Muito amor, cuidado, criatividade...tudo de bom!
Vocês realizaram atividade que "mexeu no passado", mas trouxe esperança no futuro!
Muito obrigada por compartilhar!
Beijão,
Érica.
Cláudia, bom dia.
ResponderExcluirAchei muito interessante esse trabalho. Ele permite externar os sentimentos. Conscientiza, encaixa a alma. Adorei! Parabéns! Beijos.
Cláudia você é uma pessoa especial! Senti carinho , muito carinho ao ler o seu relato. Você faz a diferença!
ResponderExcluirParabéns!
Claudia, parabéns! Que sensibilidade criatividade conexões e amor! A gente fica emocionada imaginando as cenas de construção das caixinhas, a concentração deles, a escolha de cada material com todo cuidado.. Um.lindo trabalho e eficaz. .muito Bom!
ResponderExcluirÉ isso q vale a pena nesta vida, interações e conexões de amor!
ResponderExcluir"Ontem eles por mim e hj eu por eles!"
Bacana D+, Claudinha Maria!
Embecedor ver a reação deles no processo. Fica claro o vínculo que vocês atingiram parabéns a todos! Utilizo a Arterapia com pacientes psicóticos há mais de 30 anos. O material que obtive mais resultado foi com tinta acrílica nas cores primarias em tela pequena,e, uso dos dedos como pinceis;conseguimos trabalhar nelas por ate dez sessões. O resultado da obra é levada para casa ou presenteada a quem o paciente escolher.
ResponderExcluirTudo em prol da melhora do paciente e família é o que importa.
Beijo Claudia
Ah! Os monstros sagrados que chamamos de pais... não perdem a chance de nos ensinar...
ResponderExcluirClaudia, parabéns por trazer a tona o belo que reside no interior deles...
Obrigada!!!!
Lindo trabalho! Conteúdo precisoso dessas gavetas!
ResponderExcluirNossa que legal, Parabéns Cláudia
ResponderExcluirA arte é muito importante pra mim.
Eu viajo muito em pintura, principalmente com esse cara DALÍ.
Quando tiver outra pode me chamar.
Grande Abraço para você e o Leonardo.
Querida, Tenho certeza que Dali... estremeceu, pois na sua excentricidade não enxergou tanta amorosidade, carinho e dedicação na sua obra. Sua vivência nos inspira a revisitar o olhar deste Surrealista. Parabéns sua Fã
ResponderExcluirOlá, Cláudia!
ResponderExcluirLendo o texto a sensação que eu tinha é que seu amor ia dobrando a cada explicação. E como se a cura, o instante vivido plenamente, se fizesse graças ao seu amor. Em cada sessão o amor brincando entre você e o seu pai e sua tia. E você crescendo sempre para poder amar e curar através do instante presente.
A temática de Dali, por si, já é inspiradora e transcendente, as gavetas de nossa alma, o que cada um guarda nelas.
Parabéns pela sua vontade de viver!!!
Oi Claudia...
ResponderExcluirMuitooooo legal.
Mais uma vez, o seu pai demonstrou a riqueza da alma humana. Digo alma ou poderia dizer o interior, aquilo que somente é visto com os “Olhos Mágicos” de cada um.
A beleza da vida está aí, pode ver além do que é mostrado e principalmente expressar sem reservas o que sentimos e o que guardamos nas nossas gavetas.
O capricho da sua tia é muito singelo, gavetinhas certinhas, arrumadinhas e abertas, mas indicando que ela mostra apenas o que todos podem ver: botões, etc. Suas gavetas internas continuam fechadas e com reservas, e somente ela sabe o que guardam.
Muito lindo este trabalho que você fez e que lhe deu mais uma oportunidade de conhecer aspectos do seu pai e tia.
Maria da Penha
Parabéns Cláudia!!
ResponderExcluirVocê é muito criativa. Tem a alma de terapeuta e artista.
Como a arte também salva; você dá vida e doa a sua vida a está nova vocação/missão.
Que está trajetória de realizações e sucesso perdure.
Com admiração.
Lis
Claudia, sua contribuição é inestimável, ao mesmo tempo sensível e rigorosa, focando em cada detalhe e contextualizando as situações sempre com estímulos de qualdade. Um grande apoio para todos nós, obrigada, Cláudia e parabéns!
ResponderExcluirMuito lindo seu trabalho Cláudia ,o que vc faz com seu pai e tia é esplêndido, muito amor e dedicação e a arterapia transformada em amorterapia.
ResponderExcluirAmiga admiro vc.
Cláudia, eu gostei demais desse trabalho. Muito sensível a forma como você faz a sua arteterapia. Obrigada por compartilhar. Um abraço! Eliz Regina.
ResponderExcluirEstou encantada.Em relação ao seu pai ele esta recebendo oque ele propocionor a todos que conviveram com Ele principalmente sua mae rvoceis filhos.ADOREI Dalva
ResponderExcluirClaudia, cumprimentos pelo excelente trabalho executado com seu pai/tia. Muito interessante, produtivo e eficaz, tanto ao paciente como ao aplicador do teste.
ResponderExcluirAbs, Neusa V. de Arruda
Muito interessante...
ResponderExcluirClaudia, maravilha de trabalho!! Parabéns!!! Percebi muito amor e
ResponderExcluircarinho com eles. . Quanta deficaçao👏👏👏👏