segunda-feira, 25 de novembro de 2019

CONVERSANDO COM FRIDA KAHLO: Um registro



Por Eliana Moraes
Instagram: @naopalavra

Conversar com grandes artistas tornou-se uma proposta bastante frequente em minha prática arteterapêutica. Creio que este diálogo pode acessar profundas questões a serem pensadas e trabalhadas em um setting arteterapêutico, pois se os artistas são aqueles que têm o dom de dar forma  às questões mais profundas da alma humana, suas obras se fazem como grandes espelhos para o espectador que se propõe a dialogar com elas. 

Há pouco tempo, no Centro Cultural Venha Conosco, Vera de Freitas e eu, oferecemos a vivência "Conversando com Cora Coralina", a propósito do evento "Encontros de Arteterapia" da Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro. Na ocasião ainda não sabíamos que dali nasceria uma proposta tão potente, que alcançaria novos encontros. A experiência e o retorno que recebemos foram tão positivos que decidimos dar continuidade a proposta a partir de outra artista. 



Assim nasceu a vivência "Conversando com Frida Kahlo" promovida no dia oito de novembro. Frida, uma das artistas mais queridas e comentadas em nosso meio, e a partir de sua vida e obra temos infindáveis inspirações e possibilidades para práticas em Arteterapia. Mas pelo fato de estarmos caminhando para o final de 2019, decidimos propor para esta conversa a experimentação de uma das marcas da obra da artista: os autorretratos. 

Frida tinha o hábito de pintar autorretratos. Dizia: "Pinto a mim mesma pois sou o assunto que conheço melhor". Aliás, este era um dos motivos pelos quais não acatava ser chamada de pintora surrealista pois defendia que o que pintava era a sua realidade. 

O hábito de pintar autorretratos começou quando ainda acamada pelo  acidente com um bonde, seu pai montou uma estrutura com uma espécie de cavalete que possibilitava que ela se visse em um espelho e pintasse deitada. O primeiro "Autorretrato com vestido de veludo" foi dado de presente ao seu namorado da época. 



Desde então, se buscarmos pelos autorretratos da artista, poderemos perceber que periodicamente Frida se pintava, e cada autorretrato pode nos dar pistas sobre "quem era a Frida" naquele momento. Os quadros possuem uma estrutura semelhante: seu rosto no centro e em seu entorno aquilo que lhe era importante. A natureza, as flores, os animais, a cultura e as vestimentas mexicanas, indumentárias femininas e até Diego Rivera como um terceiro olho. 



As expressões faciais sutilmente variam dentre firmeza, leveza, tristeza mas sem dúvida um olhar de força. Contemplar a variedade de autorretratos de Frida, definitivamente nos convida para conversar. 

Prática arteterapêutica

Iniciamos a proposta relembrando um pouco a história de Frida e estimulamos que as participantes contemplassem alguns autorretratos que dispomos como cenografia no ambiente. "Cada um desses autorretratos dão forma à Frida de seu tempo. O que vocês podem ver nessas imagens?" E assim surgiram palavras como feminino, masculino, beleza, natureza, autenticidade, força. 


Em seguida lançamos a reflexão: "Estamos chegando ao final de 2019 e a proposta é que você faça o seu autorretrato deste ano. Para isso, pense quem era você quando iniciou 2019, quais caminhos você percorreu, o que aprendeu, o que errou, o que acertou, o que sentiu, o que viveu? Quem é você que conclui este ano que foi tão intenso para cada um de nós e para o coletivo?" 

Já tenho por hábito lançar esta proposta a cada final de ano aos meus pacientes, pois acredito que este é um momento valioso para autorreflexão e avaliação da construção do caminho de cada sujeito que se pensa em um processo terapêutico. Porém, neste encontro em específico, ficou claro que esta foi uma proposta bastante profunda e intensa para as participantes, principalmente pela densidade deste ano em específico. 



Como material, usamos da técnica mista, com colagem, desenho e pintura. Mas tivemos o cuidado de oferecer um molde para a base e uma silhueta do rosto, pois sabendo que tecnicamente pintar a figura humana é uma das propostas mais desafiadoras e consequentemente com maior potencial de resistência. A prática nos mostra que não oferecer uma "folha em branco", mas oferecer uma silhueta em traços, minimalistas que sejam, facilitam em muito o desbloqueio criativo. 

Assim nasceram quinze autorretratos carregados se significados, simbolismos e histórias deste intenso 2019. 



Conversar com artistas tornou-se um riquíssimo ciclo de encontros que retomam seus trabalhos em 2020. Até lá.


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Sobre a autora: Eliana Moraes





Arteterapeuta e Psicóloga.
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte.
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia. Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Autora do livro "Pensando a Arteterapia"  CLIQUE AQUI

3 comentários:

  1. Amei participar da Conversa com Frida Khalo!! Que venham novas conversas para 2020!! Parabéns Eliana e Vera pelo lindo trabalho. bjs, Patricia Serrano

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  2. Fui sua aluna no espaço terapêutico caminhos do Self.
    Amei este texto
    A cada dia mais encantada,e experimentando na minha rotina profissional no centro de recuperação de usuários de substancias psicoativas os efeitos positivos da arteterapia.

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  3. Lindo texto e proposta desafiadora Mas os resultados ficaram ótimos! Parabéns Eliana e Vera. Essa parceria vai continuar rendendo muitos bons frutos em.2020.

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