Por Maria Matina - RJ, atualmente residindo em Portugal
matinarte@gmail.com
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A vida, assim como tudo na natureza é composta de ciclos: o nascimento, crescimento, multiplicação e por fim a morte. Assim vai caminhando a humanidade, com os ciclos da vida infinitos e constantes. Porém, o lixo e os resíduos não existem na natureza, são resultado da criação humana e da forma como nos relacionamos com o ambiente. Sendo assim quais alternativas temos para modificar nossa relação e olhar sobre o lixo!?
No mundo de consumo extremo em que vivemos é necessário um olhar consciente sobre o que consumimos e produzimos enquanto seres vivos no planeta terra, e infelizmente o que mais produzimos é lixo!
Já parou para pensar na origem da palavra lixo!? é um pensamento curioso, mas a verdade é que a origem desta palavra diz muito sobre o que ela representa e de como nos relacionamos com o lixo ao longo dos séculos. A etimologia da palavra é incerta, mas alguns historiadores acreditam que vêm do latim lix, "cinza, lixívia", lixare, “aparar, lixar” ou lixius que significa “água ou objeto sujo”.
Interessante pensar que durante muito tempo nosso lixo se resumia as cinzas provenientes das fogueiras, sobras de madeira lixada e águas contaminadas, porém se seguimos refletindo sobre o assunto esbarramos em outra palavra - resíduo, também proveniente do latim residuum, residere, “ficar atrás, sobrar” e que somado ao lixo define um grande problema do nosso tempo.
Tudo aquilo que vamos descartando e deixando sobrar interfere no futuro da humanidade e do planeta e cabe a cada um de nós assumir a responsabilidade sobre o lixo que produzimos e ampliar nosso olhar a respeito deste tema.
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Na minha infância vivia em uma Ilha onde não havia luz elétrica, água encanada e muito menos coleta de lixo, o lixo produzido era levado ao continente de tempos em tempos. Eu tive a grande sorte de ver desde pequena que a casca das frutas e legumes eram matéria orgânica para as plantas, as garrafas de vidro eram candelabros para as velas e os papéis ou jornais velhos podiam se transformar em papel reciclado. Vindo de uma família de artistas também aprendi desde cedo que com a arte podemos fazer algo morto ou fora de uso renascer e se transformar em algo novo!
Essa é a essência da reflexão que abordei na palestra vivencial "Re ciclo da VIDA: reflexões e prática sobre a arte de reciclar" no espaço do Não Palavra, nos dias 07 e 10 de julho deste ano. Neste encontro apresentei diversos artistas que se usam do lixo para criar e inquietar, os diferentes usos que podemos dar ao lixo e em paralelo algumas atividades artísticas que proponho para cada fase da vida.
Partindo da base de formação da sociedade: as escolas e famílias, penso em recursos que possibilitem um olhar mais criativo e responsável sobre o lixo produzido cotidianamente.
Bebês- O simbólico está presente no imaginário infantil, a metáfora é constante no universo lúdico em que vivem. Um copo pode virar um chapéu, uma boca, uma sanfona, um sol, um polvo, uma série infinita de possibilidades. Algo que seria menosprezado e iria pro lixo vira ferramenta de criação. É interessante se aproveitar da metáfora e brincar com tudo! Desde a folha de papel até a construção em sucata. (Saiba mais no meu texto anterior CLICANDO AQUI)
Técnica da papietagem
Primeiro monte a estrutura do personagem usando fita crepe e em seguida inicie a papietagem (colando várias camadas de tiras de jornal). Faça a última camada com papel toalha para deixar a superfície branca e com mais aderência.
Primeiro monte a estrutura do personagem usando fita crepe e em seguida inicie a papietagem (colando várias camadas de tiras de jornal). Faça a última camada com papel toalha para deixar a superfície branca e com mais aderência.
Crianças- Sucata e construção são formas excelentes de desenvolver a
criatividade, a cognição e o desenvolvimento motor, além de ajudar a 'dar forma' ao universo lúdico da criança, na maioria das vezes abstrato. Acima de tudo oferece um olhar novo sobre o antigo ‘lixo’. Tal como os bebês também têm a capacidade de transformar tudo com o seu olhar, mas têm a necessidade de dar mais forma (uma imagem mais clara internamente, exige uma imagem mais clara externamente).
criatividade, a cognição e o desenvolvimento motor, além de ajudar a 'dar forma' ao universo lúdico da criança, na maioria das vezes abstrato. Acima de tudo oferece um olhar novo sobre o antigo ‘lixo’. Tal como os bebês também têm a capacidade de transformar tudo com o seu olhar, mas têm a necessidade de dar mais forma (uma imagem mais clara internamente, exige uma imagem mais clara externamente).
Adolescentes- É preciso desafiar o adolescente com demandas mais complexas pois a sucata não basta, ter um olhar diferenciado para as possíveis necessidades, pode ir desde o papel reciclado com elementos naturais até a papietagem com criação de
personagens, máscaras e elementos mais complexos ou funcionais.
personagens, máscaras e elementos mais complexos ou funcionais.
Papel Reciclado
Transformar os papéis antigas, notícias de ontem e folhetos de propaganda em algo novo e cheio de poesia. Basta picotar o papel, deixar de molho com água e vinagre (ou água sanitária) bater no liquidificador ou esperar dissolver, misturar com cola, retirar excesso de água, prensar e esperar secar.
Transformar os papéis antigas, notícias de ontem e folhetos de propaganda em algo novo e cheio de poesia. Basta picotar o papel, deixar de molho com água e vinagre (ou água sanitária) bater no liquidificador ou esperar dissolver, misturar com cola, retirar excesso de água, prensar e esperar secar.
Adultos - É necessário recuperar o olhar lúdico sobre as coisas, sair da rotina de consumo para criar, as vezes algo útil e funcional dentro de sua realidade e às vezes algo apenas criativo e libertador.
Útil, Belo e feito por você!
É fabuloso poder transformar algo que cotidianamente é descartado em algo útil e novo! Ás vezes só com pequenos cortes ou uma pintura podemos criar objetos lindos e funcionais.
“Do lixo ao luxo”
É fabuloso poder transformar algo que cotidianamente é descartado em algo útil e novo! Ás vezes só com pequenos cortes ou uma pintura podemos criar objetos lindos e funcionais.
“Do lixo ao luxo”
Idosos- Fechando o ciclo da vida se encontra o idoso, esse que foi do lúdico ao funcional e agora vive nessa lacuna que a sociedade como um todo não compreende e tampouco sabe como proceder. Eu sugiro no trabalho com idosos uma reaproximação ao lúdico e a evolução ao trabalho ‘funcional’, se libertar através da imaginação e evoluir na dificuldade do trabalho manual, tal como evoluímos na vida.
Cestaria
Ao se trabalhar com idosos ressignificar o fim de algum objeto pode ser por si só um caminho de cura. O jornal que traz notícias passadas se transforma em cesto e jóia através da técnica da cestaria.
Ao se trabalhar com idosos ressignificar o fim de algum objeto pode ser por si só um caminho de cura. O jornal que traz notícias passadas se transforma em cesto e jóia através da técnica da cestaria.
Traçando um paralelo com a Arteterapia, te pergunto, caro leitor, quantas vezes conseguimos ressignificar e transformar aquilo que era lixo ou seria descartado?
E encerro por aqui esse texto que na verdade é um convite para reflexão e ação. Sou muito grata a todos que partilharam destes encontros no atelier Não Palavra, e também ao convite de escrever novamente para o blog. Significa para mim um estímulo ainda maior de Repensar meus comportamentos, Recusar aquilo que não é necessário, Reduzir o consumo e os excessos, Reutilizar tudo que for possível e por fim Reciclar.
Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
Links de referência:
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Sobre a autora: Maria Matina
Artista, educadora e arteterapeuta, nasceu no Rio de Janeiro numa família de artistas. É coordenadora e co-fundadora da Casa Benet Domingo, atualmente divide-se entre a Europa e o Brasil realizando projetos artísticos e culturais e em busca de parcerias institucionais para a Casa.
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