Por Cristiane de Oliveira - RJ
crisarteterapia@hotmail.com
Ao saber que em Outubro de 2017 iniciaria
a exposição de 20 obras do artista francês Henri Matisse no Caixa Cultural,
preparei minha agenda porque não poderia perder esta mostra de jeito nenhum.
Primeiro porque o arteterapeuta deve estar produzindo, em contato com a sua
própria arte, sendo muito importante que seja instigado e “nutrido” visitando
exposições, mostras e outras formas de expressão artística. Segundo, a vida e a
obra deste artista são ótimos estímulos para o trabalho arteterapêutico.
Matisse é um exemplo de ressignificação e resiliência através da arte.
A resiliência é a capacidade humana de superar as adversidades, sendo
capaz de transformar momentos difíceis em oportunidades para aprender, crescer
e mudar. No início da década de 1940, Matisse enfrentou uma doença que o impedia de
pintar e o obrigou a ficar por longos períodos na cama e na cadeira de rodas.
Nesse momento, o pintor criou uma nova técnica que consistia em uma combinação
de desenho e pintura em
colagens feitas com papéis recortados e coloridos com guache. Desta técnica 20
pranchas impressas com a técnica au
pochoir, feitas especialmente para o álbum Jazz e que foi publicado em Paris, em 1947, estão expostas na
Mostra da Caixa Cultural. Entendemos então que o que está exposto não são
apenas obras artísticas, mas o poder resiliente e ressignificador da Arte.
“Apenas o que criei depois da doença
constitui meu verdadeiro eu. Livre, liberado” Henri Matisse
A prática arteterapêutica utiliza várias
ferramentas que podem auxiliar ao indivíduo a encontrar-se nesse lugar de ser
capaz de ressignificar suas mazelas. No atendimento a idosos, a colagem é uma das técnicas
facilitadoras no processo arteterapêutico, é de fácil operatividade, pouco
intimidadora, além de estimular o córtex pré-frontal. Assim, a meu ver, a
técnica de desenho com tesoura (ou pintura com tesoura) de Matisse abre ainda
mais o leque de oportunidades arteterapêuticas da colagem, principalmente com
os idosos. Amplia a experimentação e estimula a criação sem o receio de “fazer
errado”. Como muitos dos idosos se encontram nesse lugar de incapacidade e
desvalia, as técnicas mais elaboradas
podem acabar por enfatizar mais as limitações e, em consequência, fortalecer
esses sentimentos.
Penso que
a técnica de recorte e colagem criada pelo pintor das cores proporciona ao
idoso uma segurança maior para criar. Acaba estimulando mais a criatividade e a
auto-expressão. Permite que explore o colorido, as formas e, tranquilamente, conseguir
um belo resultado. As obras do artista estimulam por permitir que se crie
formas onde o corte irregular, torto, imperfeito sejam utilizadas sem afetar
negativamente o resultado da criação, pelo contrário, talvez exaltando e,
principalmente, tornando único. A técnica respeita a limitação do idoso.
Proporciona composições simbólicas complexas, permitindo várias possibilidades
de desdobramento para o processo terapêutico.
Além disso, observar um idoso numa
cadeira de rodas ou acamado (são imagens
de Matisse), aparentemente debilitado, atuando em seu processo criativo, pode
tornar-se um estímulo aos idosos. Pesquisas vêm mostrando que ser espectador de
pessoas em seu processo criativo acaba trazendo estímulo sensorial pois
pequenas estruturas neurológicas entram em atividade tanto quando se executa
algo, como quando se observa alguém em ação. Então, acredito que observar
Matisse em ação, além de gerar no próprio organismo mudanças benéficas, é capaz
de estimular a ressignificação de vivências e a da imagem (estigma) de que
idoso é incapaz. Enfim, é um caminho capaz de levar à resiliência.
Matisse
Releitura de Matisse
Referências Bibliográficas:
- https://oglobo.globo.com/cultura/matisse-usou-sofrimento-para-criar-colagens-12206945#ixzz4xED8gaMP
- PHILIPPINI,
Angela. Caminho da Arte: construindo um envelhecimento sadio. RJ, Wak.
- Linguagens
e Materiais Expressivas em Arteterapia: uso, indicações e propriedades. RJ, Wak
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Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
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Sobre a autora: Cristiane de Oliveira
Formada em Pedagogia(UFF), Psicopedagogia (UNESA), Arteterapia (POMAR), cursando Pós Graduação em Arteterapia (POMAR)
Atuação em Arteterapia com adultos e idosos (individual e grupo), atendimento em domicílio e instituições.
Amei gostaria de receber no.meu e mail é possivel? Sou voluntaria em asilo. Depois posso te passar algumas coisas tb. Um abraço Sou Arteterapeuta em SJC Dilza dilzanogueiea @yahoo.com.br
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