segunda-feira, 23 de setembro de 2019

QUAL IMAGEM SOMOS?


Laila Alves de Souza - Curitiba/Rio de Janeiro
lai_ajt@hotmail.com


Estudando James Hillman resgatamos a força da imagem. A premissa "fique com a imagem" consolida os fundamentos (que não são fundamentos conceituais) da psicologia arquetípica.

Em tempos de redes sociais, principalmente com a supremacia do Instagram, vemos uma comunicação através das imagens. Se escreve pouco e se diz muito pela imagem. 

São inúmeras imagens que nos deparamos através de uma tela. Imagem da pessoa indo na academia, imagem da comida, a imagem do encontro com os amigos, a imagem do filho/sobrinho, a imagem do lugar onde se está, a imagem do momento em que gostaria de estar (o #tbt), a imagem da música que se ouve, a imagem do trabalho, a selfie e por aí vai...

Nossa alma também se expressa por imagens, já dizia Jung. Vemos nos sonhos, por exemplo, a sua expressão. As técnicas expressivas, assim como a Arteterapia, transforma o que seria a palavra em imagem. Um sintoma e um afeto, que geralmente se mostram como conteúdos confusos, por serem de natureza inconsciente, acham expressão nesses campos. A alma se revela por aí. Como enfatiza Hillman, a patologia diz mais sobre a alma do que a normalidade. Portanto, vemos o quanto somos mais imagem do que classificações. 

Este mesmo autor em seu livro "O sonho e o mundo das trevas" revela um modo diferente e mais profundo de olhar o sonho, questionando as metodologias tradicionais de interpretação do mesmo. Apresentar esse olhar não vem ao caso no presente artigo, mas o que quero salientar é uma parte em que ele menciona a importância de dar nomes e epítetos para os eus e a ações que esses eus se apresentam no drama onírico. Segundo Hillman (2013): "O modo como nós mesmos estamos sendo imaginados também pode ser revelado ao nos apelidarmos no sonho: eu-atrasado; eu-consumista; eu-do-salão-de-beleza; eu-sem-calças." (p. 104)

Também podemos revelar nossos eus e seus epítetos nas redes sociais, ou seja, queremos passar uma ou diversas imagens. Mas a questão é: qual imagem somos?

Podemos ser sim as imagens que mostramos no instagram, mas não atingimos aquilo que somos verdadeiramente. Essas imagens postadas são oriundas de um desejo do ego. Queremos mostrar para o mundo como nós queremos ser vistos: "Olha como sou bonito(a)." "Olha como sou fitness." "Olha como sou trabalhador(a)." "Olha como sou descolado(a)" "Olha como sou viajante." "Olha como sou engraçado(a)."... Vendemos nossa imagem e somos marketeiros natos nesse trabalho. Portanto, fabricamos as imagens.

A fabricação é algo que se constrói na superfície, mas não atinge as profundezas inerente da nossa natureza psíquica. Podemos então perguntar: O que está por trás dessas imagens que queremos mostrar? Daí surge o começo das verdadeiras imagens; por exemplo, atrás do "olha como sou bonito(a)" existe o eu-inseguro, e atrás desse eu-inseguro pode estar o eu-carente e por trás desse, o eu-romântico, o eu-cínico, o eu-vaidoso, o eu-potente, o eu-ingênuo... Quando entramos em relação com todas essas facetas nossas, nós chegamos mais próximo da nossa essência e não do marketing que queremos fazer.

É claro que não precisamos anunciar essa pluralidade para o mundo, mas em tempos de imagens fabricadas nós não conseguimos nem chegar perto de dialogar com nossas imagens mais profundas e, consequentemente, nem permitimos que o outro relacione seus eus "estranhos" com os nossos. Continuamos, dessa maneira, a nos relacionarmos via redes sociais, pela superfície.

Vemos então que o belo, o desejável, o bom, o desagradável ficam enrijecidos nas imagens fabricadas, e se encaixar nessas categorias vira fundamental para o processo de individuação da pessoa. Mas o individuar-se é exatamente o contrário disso, é acolher a pluralidade e a multidão de eus que habitam em nós e deixar que cada um contribua para fazer com que nós respondamos a vida da melhor maneira possível (se conseguirmos fazer o melhor).

Portanto, se você pudesse imaginar como seria o instagram (ou qualquer rede social) de sua alma, quais seriam as fotos e stories que teriam nele? Esse exercício poderá fazer com que você descubra mais tesouros e mais belezas do que ficar tentando encontrar filtros que escondam as imperfeições do seu eu-básico. 


Referência Bibliográfica:
Hillman, James. O sonho e o mundo das trevas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

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Sobre a autora: Laila Alves de Souza


Psicóloga

Pós- graduada em psicologia clínica na abordagem da Psicologia Analítica.
Atendimentos clínicos pela abordagem da Psicologia Analítica no Rio de Janeiro.
Atualmente compõe a Equipe Não Palavra na gestão dos projetos.

Um comentário:

  1. Laila querida, muito bom ler um texto seu. Atual, claro, e embebido de imagens. Parabéns. Sucesso na terra solar. Bjs saudosos.

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