Laila Alves de Souza - Curitiba/Rio de Janeiro
lai_ajt@hotmail.com
Estudando
James Hillman resgatamos a força da imagem. A premissa "fique com a
imagem" consolida os fundamentos (que não são fundamentos conceituais) da
psicologia arquetípica.
Em
tempos de redes sociais, principalmente com a supremacia do Instagram, vemos
uma comunicação através das imagens. Se escreve pouco e se diz muito pela
imagem.
São
inúmeras imagens que nos deparamos através de uma tela. Imagem da pessoa indo
na academia, imagem da comida, a imagem do encontro com os amigos, a imagem do
filho/sobrinho, a imagem do lugar onde se está, a imagem do momento em que
gostaria de estar (o #tbt), a imagem da música que se ouve, a imagem do
trabalho, a selfie e por aí vai...
Nossa
alma também se expressa por imagens, já dizia Jung. Vemos nos sonhos, por
exemplo, a sua expressão. As técnicas expressivas, assim como a Arteterapia,
transforma o que seria a palavra em imagem. Um sintoma e um afeto, que
geralmente se mostram como conteúdos confusos, por serem de natureza
inconsciente, acham expressão nesses campos. A alma se revela por aí. Como
enfatiza Hillman, a patologia diz mais sobre a alma do que a normalidade.
Portanto, vemos o quanto somos mais imagem do que classificações.
Este
mesmo autor em seu livro "O sonho e o mundo das trevas" revela um
modo diferente e mais profundo de olhar o sonho, questionando as metodologias
tradicionais de interpretação do mesmo. Apresentar esse olhar não vem ao caso
no presente artigo, mas o que quero salientar é uma parte em que ele menciona a
importância de dar nomes e epítetos para os eus e a ações que esses eus se
apresentam no drama onírico. Segundo Hillman (2013): "O modo como nós mesmos estamos sendo
imaginados também pode ser revelado ao nos apelidarmos no sonho: eu-atrasado;
eu-consumista; eu-do-salão-de-beleza; eu-sem-calças." (p. 104)
Também
podemos revelar nossos eus e seus epítetos nas redes sociais, ou seja, queremos
passar uma ou diversas imagens. Mas a questão é: qual imagem somos?
Podemos
ser sim as imagens que mostramos no instagram, mas não atingimos aquilo que
somos verdadeiramente. Essas imagens postadas são oriundas de um desejo do ego.
Queremos mostrar para o mundo como nós queremos ser vistos: "Olha como sou
bonito(a)." "Olha como sou fitness." "Olha como sou
trabalhador(a)." "Olha como sou descolado(a)" "Olha como
sou viajante." "Olha como sou engraçado(a)."... Vendemos nossa
imagem e somos marketeiros natos nesse trabalho. Portanto, fabricamos as
imagens.
A
fabricação é algo que se constrói na superfície, mas não atinge as profundezas
inerente da nossa natureza psíquica. Podemos então perguntar: O que está por
trás dessas imagens que queremos mostrar? Daí surge o começo das verdadeiras
imagens; por exemplo, atrás do "olha como sou bonito(a)" existe o
eu-inseguro, e atrás desse eu-inseguro pode estar o eu-carente e por trás desse,
o eu-romântico, o eu-cínico, o eu-vaidoso, o eu-potente, o eu-ingênuo... Quando
entramos em relação com todas essas facetas nossas, nós chegamos mais próximo
da nossa essência e não do marketing que queremos fazer.
É
claro que não precisamos anunciar essa pluralidade para o mundo, mas em tempos
de imagens fabricadas nós não conseguimos nem chegar perto de dialogar com
nossas imagens mais profundas e, consequentemente, nem permitimos que o outro
relacione seus eus "estranhos" com os nossos. Continuamos, dessa
maneira, a nos relacionarmos via redes sociais, pela superfície.
Vemos
então que o belo, o desejável, o bom, o desagradável ficam enrijecidos nas
imagens fabricadas, e se encaixar nessas categorias vira fundamental para o
processo de individuação da pessoa. Mas o individuar-se é exatamente o
contrário disso, é acolher a pluralidade e a multidão de eus que habitam em nós
e deixar que cada um contribua para fazer com que nós respondamos a vida da
melhor maneira possível (se conseguirmos fazer o melhor).
Portanto,
se você pudesse imaginar como seria o instagram (ou qualquer rede social) de
sua alma, quais seriam as fotos e stories
que teriam nele? Esse exercício poderá fazer
com que você descubra mais tesouros e mais belezas do que ficar tentando
encontrar filtros que escondam as imperfeições do seu eu-básico.
Referência
Bibliográfica:
Hillman,
James. O sonho e o mundo das trevas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
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Sobre a autora: Laila Alves de Souza
Psicóloga
Pós- graduada em psicologia clínica na abordagem da Psicologia Analítica.
Atendimentos clínicos pela abordagem da Psicologia Analítica no Rio de Janeiro.
Atualmente compõe a Equipe Não Palavra na gestão dos projetos.
Laila querida, muito bom ler um texto seu. Atual, claro, e embebido de imagens. Parabéns. Sucesso na terra solar. Bjs saudosos.
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