quarta-feira, 13 de março de 2013

A INVISIBILIDADE SOCIAL DO IDOSO


Tenho refletido sobre um conceito relativamente novo, mas que está em voga: Invisibilidade Social. O que se fala sobre o tema, ao meu ver, tem se focado principalmente sobre o campo profissional. Quem nunca ouviu falar sobre a Invisibilidade Social do gari, trabalhador de extrema importância para a sociedade, porém uma categoria sem prestígio, valorização ou glamour? Mas penso que este conceito se aplica à outras situações além deste campo.
            À grosso modo, o conceito de Invisibilidade Social se aplica a seres socialmente invisíveis, que estão de alguma forma à margem da sociedade, seja pela indiferença, pelo preconceito. Enfim, são aqueles não reconhecidos, não vistos. Para percebermos quem sofre deste fenômeno, precisamos compreender qual é a identidade social deste sujeito, qual é o lugar que ele ocupa na sociedade ou qual papel ele desempenha nela.
            Inúmeras possibilidades para aplicarmos este conceito! Mas eu particularmente tenho pensado sobre a Invisibilidade Social do Idoso. Parece um paradoxo, pois o idoso tem direito à filas preferenciais, assentos em meios de transporte, tem até um estatuto e delegacia só para cuidar de seus direitos. Porém, no seu dia a dia, nas suas relações mais próximas, o idoso sofre com a Invisibilidade Social.
            No meu trabalho com 3ª idade, ouço bastante: “ah, mas tudo que eu falo está fora de moda! Meus filhos estão muito ocupados, meus netos não tem interesse em conversar comigo. Eles vão me visitar, são atenciosos, não me falta nada financeiramente e nem materialmente. Mas quando eu tento falar sobre minhas saudades, sobre meus medos e inseguranças, sobre como era no meu tempo... eu só escuto: ah vó, que bobeira! Ah mãe, deixa disso! Você está ótima! E cada um segue com seus afazeres.”. E isso não é uma Invisibilidade?
            O trabalho da Arteterapia com o idoso é muito fértil! Além das possibilidades de enriquecer sua rotina muitas vezes empobrecida e ter mais contatos interpessoais, pois muitas vezes se sentem só, o setting terapêutico em arteterapia abre um campo propício para que o idoso expresse seus sentimentos, seus pensamentos, sua identidade, quem ele é como um todo. A partir de tudo isto que lhe é tão próprio e precioso, ele pode criar – através de tantas possíveis linguagens – algo concreto, palpável, material e consequentemente visível!
            Sim, no setting terapêutico em arteterapia o idoso tem a oportunidade de tornar visível o que ele sente ser Invisível para o Social. 

2 comentários:

  1. Muito legal Lily!!! Adorei.......
    Bjs

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  2. Parece bobagem mas os anos passam, gerações vão se sucedendo mas o contato com o humano não muda. O idoso, mesmo saudável, é deixado de lado como uma peça de mostruário que já saiu de moda. Ao invés de ser ouvido em suas experiências é tratado como um peso, chato ou repetitivo. Quando se vão deixam um vazio e aí sua presença é percebida. Mas já é tarde....

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