segunda-feira, 2 de maio de 2022

PSICOLOGIA E LITERATURA, ENTRE(LAÇOS) NA CONSTRUÇÃO DE MODOS DE EXISTÊNCIA

 


Por Katia Santos - RJ

kreginapsi@gmail.com 

Em sua crônica “A função da arte”, presente em “O livro dos abraços”, Eduardo Galeano nos permite perceber que muitas vezes, temos dificuldade em dar conta daquilo que é belo, precisando assim, compartilhar nossas vivências, olhares e percepções, com o outro. Quando relata que o menino Diego, ao encontrar pela primeira vez, com o mar, fica extasiado, impactado, “mudo de beleza”, só conseguindo falar uma frase: “Pai, me ajuda a olhar”, o autor nos confirma a necessidade de partilharmos aquilo que nos emociona, nos afeta, e que, de alguma forma, nos leva em direção à nossa humanidade. 

A literatura se apresenta como um eficiente instrumento terapêutico que nos auxilia, não só a contemplar o belo, mas também, a olhar para dentro de nós mesmos. Isso porque, a leitura literária, incluindo poesias, contos, crônicas, romances, narrativas orais, entre outros, possui o que chamamos de linguagem simbólica, ou seja, são textos ricos em metáforas que, uma vez sendo responsáveis por afetar o leitor, são capazes de penetrar em lugares profundos de nosso ser, promovendo o reavivamento de memórias, a possibilidade de se falar sobre temas até então muito guardados e pouco falados e o processo catártico da liberação das emoções. 

O encontro do livro com o leitor é um momento de troca mútua, isto é, ambos oferecem aquilo que os constitui, suas histórias. E essas, são capazes de interferir nas formas de existência daqueles que as leem ou as escutam. A leitura atua como um dispositivo despertador de curiosidade, reflexão, introspecção, identificação, catarse, entre outras. E esses e outros conceitos, estão sistematizados em produções científicas, referentes à Biblioterapia, que de acordo com Clarice Caldin, “é o cuidado com o desenvolvimento do ser humano por meio das histórias, sejam elas, lidas, narradas ou dramatizadas”. (Caldin, 2010, Apud, Souza, 2021). Para a autora, a compreensão e a definição de cuidado, são vistas como uma condição existencial, como um facilitador nas relações interpessoais e como caminho para o resgate de processos saudáveis.

 

Os livros não mentem nem mudam de tema para nos distrair; não nos mandam brincar quando temos vontade de chorar; nem batem a porta no nosso nariz. Fazem, apenas, nos “co-mover”: nos dão a permissão de sentir com os outros, nos emprestam a experiência, a longa experiência da espécie para que possamos ver como outros viveram; como se viraram para viver; como se defrontaram com situações que, no fundo, são tão pouco originais, tão humanas. (REYES, 2012, p. 83/84)

 

 A Biblioterapia, ao cuidar do ser humano, o percebe de forma integral, não dissociando corpo e mente, uma vez que formam um todo ativo e participante. Ela apresenta possibilidades que convidam o sujeito a sair de seu desequilíbrio, avaliando e ressignificando suas posturas. Esse processo se dá através da linguagem, que é capaz de trazer autoconhecimento, beleza, bem-estar, aceitação e alegria. 

A utilização da Biblioterapia no trabalho do profissional da Psicologia, não é só um processo que envolve dois sujeitos. A Literatura no setting terapêutico, passa a envolver três sujeitos, ou seja, o profissional, o autor e o cliente. Assim, o autor, de certa forma, atua como coterapeuta neste cenário, uma vez que existe um compartilhar da atenção, em algo comum a ambos ou a todos os envolvidos. O leitor vive um processo que, simultaneamente ao seu autoconhecimento, vai descobrindo a obra que lê, em um movimento contínuo ao estabelecer leituras e releituras, ao escrever sobre o que lê e acabando por ler a si próprio.

 

Sendo a leitura um encontro entre o texto e o leitor, é sempre o leitor que, tornando-se agente e iniciador da ação, deve escolher entre as múltiplas proposições de justeza ética veiculada pela leitura. A identidade poética de um ser humano está em constante movimento. Pela leitura, pelo dinamismo, pela expressão e interpretação, quando é nesse momento que o texto é continuado, logo, ele não para de ser feito, desfeito e refeito. (OLIVEIRA, 2017, p.47)

 

Um texto que possua um potencial terapêutico, poderá provocar os diferentes componentes biblioterápicos, que são a catarse, a identificação e a introspecção. Tais componentes não se apresentam da mesma forma com todos os leitores. Cada pessoa, a partir de suas experiências de vida, desejos, alegrias, tristezas etc. recebe o texto de uma forma singular, e suas reações e afetações em relação a ele, é que fazem a diferença em seu processo de humanização através da literatura.

 

O que está em jogo a partir da leitura é a conquista ou a reconquista de uma posição de indivíduo. Pois os leitores são ativos, se apropriam do que leem, dão outro significado aos textos lidos, deslizam seus desejos, suas fantasias e suas angústias entre as linhas, desenvolvem toda uma atividade mental. Na leitura há algo mais do que o prazer, algo que é da ordem de um trabalho psíquico, no mesmo sentido de quando falamos em trabalho de luto, trabalho de sonho ou trabalho da escrita. Um trabalho psíquico que permite encontrar um vínculo com aquilo que nos constitui, que nos dá lugar, que nos dá vida. (PETIT, 2013, p.68)

 

 Na catarse, reações de choro ou de riso, revelam a transição entre um estado de tensão, para um estado de alívio ou harmonia,  na identificação, o sujeito vivencia situações no seu imaginário, atrelando a fantasia às emoções, apresentando várias personagens ficcionais que assumem caracteres passíveis de projeção ou introjeção, e na introspecção, pela observação podemos ter noção do que se passa no outro,  revivendo experiências dolorosas ou não, significando o fato psicológico ocorrido, e consequentemente o seu efeito, verificando que o que se sente, é algo próprio dos seres humanos, e sendo assim, encontrar possibilidades de convivência com tais demandas.

 

Na Biblioterapia, advoga-se que essa interação de subjetividades, essa interação de personagens ficcionais permite ao leitor, ouvinte ou espectador compreender seus conflitos à luz dos conflitos vivenciados pelas personagens de uma forma segura, indolor e prazerosa. (CALDIN, 2010, p.165)

 

O método biblioterapêutico pode ser aplicado de duas maneiras, ou seja, o Psicólogo em seu local de trabalho, atuando com um cliente, casal ou família, desenvolve a chamada Biblioterapia Clínica, onde a demanda específica é o foco para a escolha criteriosa de textos literários estimuladores dos componentes biblioterapêuticos próprios de cada situação. Entretanto, profissionais de outras áreas poderão atuar com a Biblioterapia de Desenvolvimento, quando seu trabalho estiver focado em grupos de pessoas que estejam interessadas em vivências em Biblioterapia, sem o viés psicoterapêutico, mas sim no seu autoconhecimento, fruição dos textos literários etc., ou seja, temas comuns a todos os seres humanos. 

O objetivo da Biblioterapia Clínica não é desviar do sofrimento, mas ir ao encontro dele, através de leituras que acessam o mais profundo e oculto por motivos vários, acolhendo-o para permitir sua expressão e para amenizar as dores da alma. (SEIXAS, 2014, p.80)

 

Um aspecto relevante sobre a utilização da Literatura, tanto na Biblioterapia Clínica como na de Desenvolvimento, é o fato de que após a leitura dos textos, o diálogo que, frequentemente ocorre, pode ser realizado através de um processo de dinamização, ou seja, uma forma de inspirar os participantes a se envolverem, ainda mais com as palavras que lhes atravessaram e consequentemente, os tocaram. Assim, são utilizadas diferentes estratégias de contato, sendo que uma das mais aplicadas é a Arte, em seus diferentes modos de apresentação.

 

As distintas formas de arte utilizam-se de materiais diversos como instrumentos de trabalho. No caso da literatura, a ferramenta de trabalho é a palavra, que comunica, interage e cria a possibilidade de expressar, através dos variados estilos literários, as demais formas artísticas, provocando emoções, produzindo efeitos estéticos e permitindo viagens infinitamente criativas. Da mesma forma, a Psicologia tem na palavra seu campo de atuação que, pela união com a literatura, pode encontrar nas possibilidades presentes no cotidiano, formas de desvendar o sofrimento e compreender a condição humana e suas maneiras de viver. (SANTOS, K.R.,2019, p.8)

 

No trabalho com literatura, os livros infanto-juvenis são bastante utilizados, não só com crianças e adolescentes, mas também com adultos e idosos. Isso porque sua apresentação, através de metáforas escritas ou visuais, possui um poder enorme sobre as pessoas, desencadeando todo o processo biblioterapêutico. Neste universo, é relevante abordarmos a importância do livro imagem, que não se trata apenas de um livro sem texto, mas uma opção do autor em traduzir sua história da palavra escrita para a linguagem artística, com cenários coloridos, de efeitos visuais encantadores.

Ao concluirmos este artigo, reforçamos a certeza de que há um entre(laçar) na construção de modos de existências, a partir da utilização da literatura no trabalho psicoterapêutico, uma vez que nossa experiência, tanto com a Biblioterapia Clínica como com a de Desenvolvimento, reflete esta realidade, mostrando a efetiva ação dos textos literários sobre a existência de cada pessoa envolvida no processo. Encerro com as palavras do escritor Bartolomeu Campos de Queirós que, apesar de nunca ter utilizado a palavra Biblioterapia, era, em sua essência, um maravilhoso biblioterapeuta:

 

Ler é um ato operatório. Por meio da leitura toda a nossa intimidade, mesmo a mais secreta, vem à tona – em liberdade – para desvendar o que as palavras nos reservam. Pela leitura, nossa realidade mais profunda é buscada para participar dessa prosa. Diante do texto literário, nos revelamos e nos abrimos para paisagens até então insuspeitadas. Viver se torna possível pela força da ficção. (QUEIRÓS, 2019, p.90)

                                                                  

Referências Bibliográficas: 

CALDIN, C.F. Biblioterapia: um cuidado com o ser. São Paulo, SP: Porto de Ideias, 2010, p.165. 

GALEANO, E. O livro dos abraços. Porto Alegre, RS: L&PM, 1997, p.15. 

OLIVEIRA, S. Janela da alma – pela prática da Biblioterapia. Natal, RN: CJA, 2017, p.47. 

PETIT, M. Leitura do espaço íntimo ao espaço público. São Paulo, SP: Editora 34, 2013, p.68. 

QUEIRÓS, B. C. Sobre ler, escrever e outros diálogos. São Paulo, SP: Global, 2019, p.90. 

REYES, Y. Ler e brincar, tecer e cantar. São Paulo, SP: Editora Pulo do Gato, 2012, p.83-84. 

SANTOS, K. R. “Navegar é preciso” – uma travessia entre a Literatura e a Psicologia. Monografia de conclusão do Curso de Psicologia do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Orientação: Laura Cristina de Toledo Quadros, 2019. 

SEIXAS, C. Vivências em Biblioterapia – práticas do cuidado através da literatura. Niterói, RJ: Edição da Autora, 2014, p.80. 

SOUZA, C. Biblioterapia e mediação afetuosa da literatura. Florianópolis, SC: Edição da Autora, 2021, p.59. 

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Sobre a autora: Katia Regina dos Santos


Formação: Psicóloga Clínica com orientação em Gestalt Terapia, graduada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Pedagoga; Bióloga; Especialização em Psicopedagogia; Formação em Biblioterapia; Pós-Graduanda/Especialização em Biblioterapia e Mediação da Leitura Literária

CONTATOS:

E-mail  kreginapsi@gmail.com ou kpsirsantos@gmail.com

Instagram    @katiasantos.psicologa

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segunda-feira, 25 de abril de 2022

PELÍCULA CINEMATOGRÁFICA, UM RECURSO NA ARTETERAPIA ou, simplesmente, CINEMATERAPIA. (Parte 1)

 


Por Milena Medeiros - Volta Redonda - RJ
milolmedeiros@gmail.com
 
O texto a seguir é síntese e fruto do Trabalho de Conclusão de Curso com base na casuística apresentada no período prático de especialização em Arteterapia - realizado na Clínica Pomar - junto a significativos elementos de pesquisa continuada e experiências colhidas, por parte de meu repertório de aplicabilidade no atendimento individual na atualidade, inclusive, no que abrange o setting arteterapêutico digital. A temática refere-se a Cinematerapia, termo criado por profissionais da psicologia, para uma técnica específica que se utiliza de Películas Cinematográficas e suas narrativas fílmicas, como recurso terapêutico. Uma cena, um diálogo, imagens com um ou mais personagens, o impacto sinérgico da música, os efeitos sonoros.  Detalhes de histórias contadas através de uma película (filme), que por retratarem dubiedades da própria vida, surpreendem por sensações e reflexões inesperadas, capazes de criar novas formas de subjetividade no observador. Em vista disso, a relação entre a psicologia e o cinema é objeto de estudos há décadas, pois está em função de um método que aponta a possibilidade em comunicar o efeito de fragmentos emocionais do paciente/cliente, no que diz respeito ao bom uso dos insights obtidos a partir de enredos fílmicos e trabalhados no setting terapêutico de forma detalhada e pontual.  O referente texto foi estruturado em três partes e elaborado da seguinte forma: A primeira - no encontro de hoje - as informações estarão a serviço da Sétima Arte e o que ela representou na sociedade, inclusive na de nosso país; na segunda parte: A Cinematerapia e o processo terapêutico no mundo, com tópicos sobre os benefícios no processo arteterapêutico, características e técnicas de aplicação; compondo a terceira e última parte:  Relatos de casos nas modalidades presencial e online. 

Com tais considerações, adentro o Território sagrado “Não Palavra” com o intuito de facilitar um encontro entre você leitor, a Sétima Arte: o cinema e a Arteterapia. Convidando-o a passear pelos contextos da relação entre Cinema- História e Poder, chegando ao Cinema Novo. Uma maneira diferente de fazer cinema, na década de sessenta, em que vários novos cineastas surgiram dispostos a revolucionar tanto a maneira de realizar as películas, quanto a forma de pensar as relações entre seus conteúdos e a sociedade brasileira. Assim, poderemos observar que o contexto evidencia em toda a sua linha do tempo - intervenções, rupturas e quebras de paradigmas. O que faz sentido com a busca do equilíbrio psíquico, conceito esse que a Arteterapia propõe. 

 Múltiplas são as formas de expressão artística utilizadas no setting de Arteterapia, apontadas como fonte de influência a favor da saúde. Dessa maneira, cada arte, considerada como ferramenta da criatividade no campo arteterapêutico, permitindo-se a liberdade de expressão sobre os sentimentos vivenciados pelo paciente/cliente - a cada momento da vida - pode comunicar o efeito de um mundo interno fracionado; sendo a arte, o material que está a serviço da cura.  Nessa circunstância, destaco a arte do cinema que se manifesta no indivíduo por influência, tratando-se de um encontro de ideias disseminadas e produzidas por histórias contadas que transmitem mensagens e valores. Um expressivo instrumento que imita a vida e provoca a identificação com os reveses, anseios e desejos mais humanos. Nesse enfoque, a Película Cinematográfica, realização última do cinema, é utilizada como recurso no processo terapêutico desde a década de cinquenta. Facilitando a auto compreensão e movimentando opções de ação que podem desencadear na transformação do Ser Ativo.

 Oliva et al. (2010) explicam que tomando como base a Biblioterapia[1], os psicólogos Berg-Cross, Jennings e Baruch, criaram o termo Cinematerapia. Sendo ela uma técnica que envolve películas aplicadas com o direcionamento do terapeuta e nos formatos individual e de grupo.

Ilustrando aspectos de uma experiência prática com um grupo de mulheres, em ambiente corporativo e na modalidade presencial, a aplicabilidade de uma Película Cinematográfica direcionada - com base na técnica da Cinematerapia - como estímulo a uma possível hipótese diagnóstica, produziu a composição entre o grupo e a sua própria comunicação. A materialidade expressiva acercou-se de conteúdos trabalhados em uma história fictícia que influenciou por comportamento, o mundo interno do indivíduo em comum na formação especifica do grupo em questão; Tal fenômeno abriu espaço para que novas concepções fossem acolhidas. Por consequência, pôde-se observar que a aplicação da técnica marcou de forma concreta o diagnóstico grupal. Viabilizando assim, a estruturação sobre o ciclo seguinte até o fechamento de todo o processo arteterapêutico. 

Tal experiência suscitou um tema que me propus a investigar: Como a arte do cinema, em Películas Cinematográficas, pode, como recurso, influenciar no processo arteterapêutico? Processo esse de significativo valor no ambiente arteterapêutico digital, experenciado pelo contexto COVID-19. 

... E PORQUE A SÉTIMA ARTE?
 
Ismail Xavier, professor e crítico de cinema, explica o motivo:  em 1911 o intelectual e cinéfilo Italiano, Ricciotto Canudo, morador de Paris e interessado na nova versão de diversão popular, cunhou tal expressão e escreveu um manifesto com a ideia organizada em um sistema. Havia estruturalmente três artes de espaço: a pintura, a escultura e a arquitetura; e três artes de tempo: a música, a dança e a poesia. Para Canudo, o cinema era a grande síntese das seis artes descritas; portanto, a sétima. Por essa vertente, reivindicou a condição de arte para o próprio cinema, ligando-o de forma simultânea a dinâmica social e espacial da tecnologia, do movimento, das máquinas e de um período caracterizado pelo modo de vida urbano. Desde então, ao Cinema foi atribuído o caráter estético, reconhecido na qualidade de linguagem com a capacidade de renovar, transformar e disseminar as demais artes.

O professor Xavier (2017), em seu livro A Sétima Arte: Um culto Moderno, explica que “o valor positivo do cinema estaria [...] em sua modernidade, concebido dentro de um pensamento que entendia a modernidade como esquecimento e oposição à tradição, como ruptura radical com o passado”. Um passado surgido no século dezenove, quando a película e as pesquisas sobre o tema, segundo Julia Lemos Lima (2006), especialista em Comunicação Social, eram realizadas em volta da possibilidade de reproduções de sequências de ações que buscavam representar temas do cotidiano comum e que eram promovidas por movimentos naturais dos humanos em frente às câmeras. Retomando as ocorrências sobre a movimentação da Sétima Arte a partir das intervenções de Canudo, no início do século vinte, Lima (2006) informa que o cinema se expandiu pelo mundo, conduzido pelo interesse do público que via em seu meio de comunicação próprio a compreensão de mudanças no cotidiano da sociedade. E foi nos Estados Unidos que tal expansão se estabeleceu, dentro de uma indústria cinematográfica e acompanhada de uma tecnologia mais aprimorada: as películas tornaram-se mais longas e com enredos mais complexos; tanto a linguagem narrativa clássica quanto as oportunidades artísticas, iniciaram-se após esse movimento de expansão, configurando-se como a principal maneira de se criar cinema, dando espaço a cinematografia ilusionista com cenas apresentadas na forma linear e destacadas pela continuidade, levando o telespectador a transportar-se da realidade, inserindo-se no espaço e no tempo do que se contava.

Jose D’ Assunção Barros (2007), doutor e professor em história, nos esclarece que:
 
O cinema é ‘produto da história’ – e, como todo produto, um excelente meio para a observação do ‘lugar que o produz’, isto é, a sociedade que o contextualiza, que define sua própria linguagem possível, que estabelece seus fazeres, que institui suas temáticas. Por isso [...]a mais fantasiosa obra cinematográfica de ficção carrega por trás de si ideologias, imaginários, relações de poder, padrões de cultura. [...]e também as histórias política, social e econômica devido ao fato de que as alçadas de relação de poder (poderes público e privado) são contempladas pela indústria cinematográfica. 

Barros (2007) conclui que tal relação de poder revela-se ambígua e igualmente complexa. Por  um lado há a relação política em que o cinema - em momentos oportunos - é utilizado pelo viés da dominação, pela  adoção de ideias ou crenças e pelos agentes sociais (instituições governamentais,  partidos políticos,  igrejas,  universidades e as múltiplas associações que possuem a mesma composição social); que   compreendem a importância de estilos fílmicos como o documentário, a ficção e películas sobre  propagandas políticas, como veículos de comunicação e de ampliação  -  ligadas a um sistema de manipulação do pensamento e de ideias a serviço do poder. E, por outro lado, o Cinema que permaneceu, evidentemente, com   a sua independência em relação aos agentes sociais, inclusive, os governamentais, e por esse motivo funciona também como contrapoder, ou seja, opondo-se a um poder, anteriormente, definido.  “Neste sentido, se o Cinema com sua produção fílmica pode ser examinado como instrumento de dominação e de imposição hegemônica, ele também pode ser examinado como meio de resistência “(BARROS, 2007, p.8).

Dois conflitos históricos exemplificarão ambas as relações sobre o contexto acima mencionado: Tratar-se-á o cenário do cinema como agente de dominação no conflito referente à Primeira Guerra Mundial.  A especialista em história cultural, Patrícia Mariuzzo (2014), esclarece que em 1914, a Sétima Arte, tornou-se ferramenta para divulgar a guerra e recrutar soldados. As cenas eram capturadas de forma distante e fixa, não somente pela limitação técnica da época, mas também pelas proibições de filmagens por parte dos militares. Tais edições se tornaram grandemente populares junto ao público, sendo verdadeiras ou não e reforçavam a superioridade militar e moral sobre um antagonista.   Havia filmes produzidos especialmente com a missão de influenciar pessoas a financiar o esforço de guerra, recrutar e apoiar a indústria de forma geral, ligada à guerra, como material bélico, por exemplo.

Exemplificando o cenário como agente de resistência, infere-se o Cinema Novo, movimento vigoroso de ação popular que agregou à sociedade variados recortes cultural, político e social. Segundo Mariana Barbedo (2011), mestre em História Social, o país vivenciou um   período capital, marcado pela disputa de classes em que muitas eram as esperanças depositadas num traçar de mudanças para a sociedade brasileira. Neste contexto, surgiram produções marcantes da cinematografia nacional em que o foco era a arte empenhada em uma função social.  Nessa vertente, Ismail Xavier (2001) coloca-se da seguinte maneira: 

[...] o Cinema Novo foi a versão brasileira de uma política de autor que procurou destruir o mito da técnica e da burocracia da produção, em nome da vida, da atualidade e da criação. Aqui, atualidade era a realidade brasileira, vida era o engajamento ideológico, criação era buscar uma linguagem adequada às condições precárias e capaz de exprimir uma visão desalienadora, crítica, da experiência social. Tal busca se traduziu na “estética da fome”, na qual escassez de recursos técnicos se transformou em força expressiva e o cineasta encontrou a linguagem em sintonia com os seus temas. (BARBEDO, 2001, p.13 apud XAVIER, 2001, p.63)
 
Com base na tônica explicitada sobre as relações entre cinema-história e poder junto à influência que o contexto abrange na sociedade - portanto, no indivíduo, podemos inferir que como análise de mundo, o cinema exerce um papel de grande importância e caminha de mãos dadas não somente com a história e a política, mas também com outras áreas das ciências humanas como a Filosofia, a Sociologia e a Psicologia. Essa, relacionando-se com o cinema como recurso narrativo e técnica de intervenção psicoterápica complementar às demais atuações na conduta clínica, recorte temático que comunicarei em nosso próximo encontro. 

Convido você a continuar esse passeio pela tônica da Cinematerapia acompanhando a abordagem em nosso segundo encontro, aqui no Blog “Não Palavra”, de tópicos sobre técnicas de aplicação, características, postura do arteterapeuta e a execução do processo. 

Até lá!
 
 


[1]  Tratamento de doenças ou distúrbios psíquicos através da leitura e da relação do indivíduo com o conteúdo dessa leitura. "biblioterapia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/biblioterapia [consultado em 27-08-2020].
 
 
REFERÊNCIAS
 
CHAVES, Ismail. Porque o Cinema é conhecido como a “Sétima Arte”? Disponível em https://www.sescsp.org.br/online/revistas/ .Acesso em: 10 jul.2020. 

LIMA, Julia Lemos. Cinema e transformação social: variações sobre uma relação tensa. 2006. 84 f. Trabalho de Conclusão de Curso - Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. 

OLIVA, Vitor; VIANNA, Andréa; NETO, Francisco. Cineterapia como Intervenção psicoterápica: características, aplicações e identificação de técnicas cognitivo-comportamentais. Revista Psiquiatria Clínica, São Paulo, v.37, n.3, 2010. Disponível em: <  https://doi.org/10.1590/S0101-60832010000300008 > Acesso em: 20 jul.2020.
 
     MARIANA, Barbedo. Carlos Diegues entre o CPC e o Cinema Novo, uma reflexão sobre a função do artista no início da década de :1960. Tempos Históricos, São Paulo, 1º semestre de 2011, n.15, p. 170-190. Disponível em:   file:///C:/Users/Dell/Downloads/5698-20982-1-PB%20(2).pdf. Acesso em: 17 jun.2020. 

BARROS, José d’AssunçãoCinema e história :as funções do cinema como agente, fonte e representação da históriaLer História, v.52, 2007, posto online no dia 20 março 2017, <http://journals.openedition.org/lerhistoria/2547>Acesso em:22jul.2020. 

MARIUZZO, Patrícia. A Primeira Guerra Mundial pelas lentes do Cinema. Ciência e Cultura, v.66, n.2, São Paulo, jun.2014. Disponível em< http://dx.doi.org/10.21800/S0009-67252014000200024> Acesso em 19 jul.2020.
 

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Sobre a autora: Milena Medeiros




Arteterapeuta AARJ1122

Olá, Sou Milena Medeiros, uma arteterapeuta com mais de 15 anos de experiência em Gestão de Pessoas no mercado Corporativo. Decidi-me por unir ambas as experiências e hoje atuo, além dos atendimentos individuais arteterapêuticos online, com a Arteterapia no ambiente empresarial.

Algumas formações como preparação a minha profissão de arteterapeuta foram concretizadas e hoje também as utilizo como abordagem no setting: Practicioner em PNL (Programação Neuro Linguística); Análise Transacional - UNAT Brasil - Abordagem psicológica de Erick Berne que trata de maneira prática e compreensível os aspectos importantes da personalidade e das relações entre as pessoas; Visão Sistêmica pessoal e Organizacional com base psicoterapêutica de Bert Hellinger. Também sou Colagistas Digital e analógica, processo que aprendi pós introdução à técnica de Soul Collage®. Como Hobbie, tenho a alimentação Viva no coração, também conhecida como crudivorismo que aplico no setting como técnica expressiva com o foco na memória afetiva por meio dos sentidos sensoriais. A pintura com aquarela faz parte de minha vida e por meio dessa técnica estou finalizando a ilustrações de um livro infantil. 

Maior do que um prazer é a alegria por estar no espaço “Não Palavra”! Esses são os meus contatos: (24)999619963, Instagram: @milenaoliveiramedeiros. 


 

segunda-feira, 18 de abril de 2022

A ARTE DA DOBRADURA DE PAPEL: ORIGAMI E ARTETERAPIA

 



Por Isabel Pires - RJ

bel.antigin@gmail.com 

            O papel é um dos suportes mais usados em trabalhos artísticos. Mas, além de suporte, também pode ser meio para a realização de belas obras de arte. Participa da vida de todo ser humano de maneira praticamente indispensável. “É nele que começamos a dar nossos primeiros rabiscos, a formular nossas primeiras letrinhas. Nele, registramos nossos maiores segredos” (CARRANO & REQUIÃO, 2013). Basta lembrarmos a linda homenagem que Toquinho fez na sua música “O Caderno”, na qual um caderno se descreve como “confidente fiel”, “amigo” e aquele que vai “seus problemas ajudar a resolver”. Daí, talvez, a relação de afeto que muitos nutrem pelo papel, pelo toque e cheiro dele, por exemplo, num livro novo.

            Inventado pelos chineses, o papel foi o instrumento de registro e armazenamento da história da sociedade através dos tempos. Logo, participa de nossa memória arquetípica, pois aporta um saber ancestral. Com ele, é possível pintar, recortar, colar, desenhar, construir e... dobrar.

Desde a invenção do papel na China em torno de 105 D.C., os japoneses desenvolveram a arte da dobradura de papel ou origami (que, em japonês, significa literalmente “dobrar papel”). Segundo Kanege e Imamura (1999), pesquisadores do origami acreditam que ele tenha surgido quando um monge budista chinês trouxe para o Japão o método de fabricação do papel. No início, como o papel era caro, o origami era usado apenas em cerimônias específicas e religiosas. Pode ter surgido “de ornamentações (katashiro) divinizadas nos templos xintoístas, que eram feitas de papel” (KANEGE & IMAMURA, 1999). Existem origamis utilizados até hoje em cerimônias, como, por exemplo, a representação de duas borboletas (feminino e masculino) expostas em casamentos, e o noshi, um enfeite colocado sobre embrulhos de presente, que demonstra que o doador do presente deseja fortuna ao receptor.  Assim, percebe-se que o origami sempre possuiu um caráter simbólico. Por exemplo, o origami do grou ou tsuru, popularíssimo no Japão e, também, no Ocidente atual, é símbolo de felicidade eterna e longevidade. E os símbolos são a base do trabalho da arteterapia, porque nos trazem notícias do inconsciente dos indivíduos, o qual desejamos trabalhar terapeuticamente.

Em meados do século XIX, o origami passou a ser utilizado como recurso educativo no Japão, mas só foi internacionalizado na década de 30 por Akira Yoshizawa, quando “passou a ser visto como um exercício de criatividade livre e uma importante ferramenta educacional” (YAMADA et al, 2014). Assim, hoje, é frequente seu uso no ensino de geometria nas salas de aula.

De acordo com Yamada et al (2014, p.231), “na terapia, o origami é um recurso benéfico e simples, pois o material é facilmente encontrado, de baixo custo, próximo da vida cotidiana e não oferece perigo ao ser manuseado”. Além disso, segundo as autoras, o origami ativa os dois hemisférios do cérebro, pois desenvolve a coordenação motora e a inteligência não-verbal, a acuidade visual e a visualização tridimensional. Como técnica arteterapêutica, as autoras citadas declaram que o origami permite o “desenvolvimento cognitivo e afetivo, estruturação e ordenação lógica e temporal, expressão plástica e prevenção do sistema nervoso”. Assim, beneficia todas as faixas etárias. Mas esses aspectos e outros, como o desenvolvimento da coordenação motora, tornam o origami excelente sobretudo para o trabalho com idosos. Segundo Yamada et al (2014), a utilização da técnica com grupos da terceira idade provou uma melhora na memória e na autoestima dos participantes do estudo.

Primeiramente, o potencial de utilização do origami no setting arteterapêutico advém do fato de ele ser realizável por qualquer pessoa, independente de idade, sexo e nível social, econômico e cultural. Em atendimentos online, torna-se uma técnica bastante acessível, pois o papel é um material presente em todos os lugares, e o uso de vídeos demonstrativos na internet facilita o processo. Assim, a simplicidade e a praticidade do origami representam vantagens relevantes do seu uso no setting arteterapêutico.

Em segundo lugar, o origami se vale do trabalho das mãos, que gera, entre outros benefícios, prazer e bem-estar e contribui para a autoimagem positiva dos indivíduos. Uma das particularidades do trabalho da arteterapia é justamente o de utilizar a inteligência emocional, inconsciente, que existe nas mãos, o valor do “colocar a mão na massa”, ou, como diz Moraes (2018, p. 75), o “agir criativo”.

Além disso, na visão de Yamada et al (2014, p. 231), o ato de fazer origami em grupo “pode estreitar laços de amizade e afetividade, relaxar pessoas estressadas” e aguçar a criatividade, a concentração e a coordenação motora.

A meu ver, os ganhos da utilização do origami são imensos e vão além dos já citados acima. Para começar, dobrar papeis remete diretamente à nossa infância. Quem nunca brincou de fazer aviões e barquinhos de papel? Assim, é possível estimular um despertar da criança interior do nosso paciente/cliente, o que pode ativar lembranças de sua infância e trazer à tona memórias afetivas.  Além disso, tem o potencial de levar ao resgate da leveza, da ludicidade e da curiosidade inerentes às crianças. A reação de um adulto, ao concluir uma dobradura, é frequentemente de satisfação e alegria. Para muitos, significa sucesso na conclusão de um desafio, um estímulo à persistência e à coragem.

Na execução das peças de origami, é necessário seguir uma determinada sequência, numa posição específica, a cada passo do trabalho. Assim, requisita-se do indivíduo observação, atenção, concentração e disciplina. É preciso enfatizar a marcação dos vincos, a firmeza, o capricho, a precisão e a paciência. Desta forma, a maneira como o sujeito reage às diferentes etapas e exigências do trabalho com o origami informa ao arterterapeuta sobre várias características comportamentais e emocionais do paciente/cliente. É possível, por exemplo, verificar a presença ou ausência de cuidado, controle, delicadeza, calma, para a feitura das peças de origami. Com essa técnica, o arteterapeuta consegue perceber, por exemplo, um paciente ansioso; meticuloso (por exemplo, ao juntar ponta com ponta do papel); impaciente; que tem dificuldade para deixar sua marca / marcar o papel (na hora de fazer os vincos) e/ou para seguir limites (as dobras seguem quase sempre uma linha, ou vinco, do papel).

Além disso, para muitos, o origami pode estimular a paz interior, pois representa uma forma de meditação, já que nos coloca no aqui e agora. Em tempos de valorização do mindfulness, a técnica da dobradura de papeis é excelente ferramenta para o desenvolvimento da atenção plena, o que é importante não apenas para pacientes ansiosos e depressivos, mas para todos os seres humanos.

Para além de tudo o que já foi abordado sobre o origami, não podemos nos esquecer de que as peças dessa técnica são esculturas em papel e, como tal, estão no plano da tridimensionalidade, que envolve o desafio da organização espacial, de equilíbrio e, até, de movimento. Da mesma forma que a escultura tradicional, o trabalho de origami retira a forma que já está potencialmente no material, no caso, o papel. Igualmente, pode-se escolher o suporte, isto é, o tipo de papel, na cor e textura desejados. O resultado são trabalhos de extrema beleza, harmonia, delicadeza e genialidade. E o origami pode ser usado como amplificação de um símbolo surgido na sessão, já que existe dobradura para quase todo tipo de objeto e animal.

Finalmente, a arte da dobradura de papel representa o poder ilimitado de transformação da criatividade humana. Imagine converter um simples pedaço de papel quadrado em diversas formas, das mais simples às mais complexas, dentro de um número sem fim de possibilidades. Mas, nesse caso, diante da folha em branco à nossa frente, não existe a ansiedade do desconhecido, do medo do não saber o que fazer, pois já se sabe, de antemão, o que será realizado. Neste sentido, as etapas pré-definidas representam um campo delimitado, que permite trabalhar organização e estruturação psíquicas. Porém, isso não nos tira o prazer do resultado final, do senso de tarefa cumprida com eficiência e satisfação. A magia dessa transformação, através de movimentos precisos e cuidadosos de nossas mãos, num material simples e delicado como o papel, sempre nos surpreenderá como um truque de mágica bem-sucedido. E a beleza e engenhosidade das obras criadas sempre nos trarão encantamento.

Por isso, convido vocês, arteterapeutas, a levarem essa arte para o seu setting arteterapêutico e oferecer a seus pacientes/clientes a possibilidade de descobrir as infinitas e inesperadas formas escondidas numa simples folha de papel e ousar revelar essas formas em peças de delicada beleza e profundo simbolismo.

 


 

Referências Bibliográficas:

CARRANO, E.; REQUIÃO, M.H. Materiais de arte: sua linguagem subjetiva para o trabalho terapêutico e pedagógico. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2013. 

KANEGAE, M.; IMAMURA, P. Origami: arte e técnica da dobradura de papel. 10ª edição. São Paulo: Palas Athena, 1999. 

Yamada, T.; FARIAS, I.; PEREZ, N. Origami na terceira idade. VII World Congress on Communication and Arts: The Challenge of Developing Creative Artists in a Standardized World, Vila Real, Portugal, pp. 230-234, abril 2014.

MORAES, E. Pensando a Arteterapia. 1 ed. Divino de São Lourenço, ES: Editora Semente Editorial, 2018. 

SILVA, L. Arte e terapia com origamis. Blog Cursos CPT. Minas Gerais. Disponível em: https://www.cpt.com.br/noticias/arte-e-terapia-com-origamis. Acesso em: 09/04/2022.

 

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 Sobre a autora: Isabel Pires

 


Oi! Eu sou Isabel Pires psicóloga, professora de línguas e arteterapeuta. Também possuo formação em Jornalismo e em Antiginástica® Thérèse Bertherat e pós-graduação em Psicologia Junguiana. Já publiquei alguns textos aqui no blog do Não Palavra e um deles, “Vygotsky e a arte”, faz parte do livro Escritos em Arteterapia: coletivo Não Palavra (2021). Faço atendimentos individuais e em grupo (presencial e online), nos quais, volta e meia, convido meus pacientes a criarem esculturas de papel e experienciarem a arte da dobradura de papel. Adoro gatos e viagens, presenciais ou através dos livros, que tenho em abundância. Se quiser falar comigo, pode me contactar pelo Whatsapp: (21) 97567-568; pelo e-mail: bel.antigin@gmail.com ou pelo Instagram:@isabelpires.artepsi.