segunda-feira, 16 de junho de 2025

ENTRE MATÉRIA E IMAGINAÇÃO: O DIÁLOGO ENTRE VIK MUNIZ E A ARTETERAPIA

Por Débora de Castro

@deborarteterapia

 

A frase do artista Vik Muniz, "De longe vê-se a imagem, a ideia. Ao aproximarmos, vemos o material. Este é o momento mágico quando uma coisa se transforma em outra", essa fala do artista, nos convida a refletir sobre a complexidade e a beleza do processo criativo. No documentário Lixo Extraordinário, essa perspectiva se torna ainda mais impactante ao vermos materiais descartados ganharem nova vida e significado por meio da arte.

 


Documentário – Lixo Extraordinário

Essa citação que  Muniz descreve no documentário, também é essencial no contexto da Arteterapia. Quando um participante começa a criar, ele muitas vezes parte de uma ideia ampla e difusa, algo que, à distância, parece ser apenas uma imagem ou sensação. Mas, à medida que mergulha no processo, o material seja tinta, papel ou outros elementos,  revela histórias, emoções e significados escondidos. É nesse encontro íntimo entre a ideia e a matéria que surge a transformação: o ordinário se torna extraordinário, e o processo de criação se torna um espelho da própria jornada de autodescoberta.

No setting terapêutico, esse "momento mágico" descrito por Muniz ocorre quando a criação artística transcende sua forma física e dá lugar a descobertas emocionais e psicológicas. Um pedaço de papel amassado pode revelar sentimentos de desapego ou renovação; uma combinação de cores pode expressar estados de espírito muitas vezes difíceis de verbalizar. O material, assim como os resíduos no filme, carrega o potencial de transcender seu significado inicial, oferecendo novos olhares e narrativas.

Esse processo nos ensina que, no espaço terapêutico, não buscamos apenas a "imagem", mas o diálogo íntimo entre o participante e o material. É nesse espaço de encontro e criação que reside o poder transformador da Arteterapia, onde o ordinário se torna extraordinário e onde uma nova compreensão de si mesmo pode emergir. A mágica, portanto, está na transformação, tanto do material quanto do ser humano que o molda.

Assim como no trabalho de Vik Muniz, a Arteterapia nos ensina que a transformação não ocorre apenas na obra final, mas principalmente no percurso, nos detalhes que enxergamos ao nos aproximarmos de nós mesmos e do mundo ao nosso redor. Cada material, por mais simples ou descartado que pareça, carrega o potencial para algo novo,  seja uma obra de arte ou um insight profundo.

Esse é o poder da criação: enxergar além da superfície, aproximar-se com curiosidade e permitir que a magia aconteça.

Concluindo a reflexão sobre o documentário com a Arteterapia, penso que  aplicar as inspirações do documentário no setting terapêutico, encontramos a possibilidade de dar novos sentidos a materiais simples ou descartados, enquanto resgatamos narrativas pessoais e promovemos a reconstrução de identidades. Assim, Lixo Extraordinário reforça que a verdadeira transformação ocorre quando nos permitimos olhar para o ordinário com novos olhos, enxergando nele o potencial para algo extraordinário.

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Sobre a autora: Débora Castro



Sou Débora de Castro, educadora apaixonada pelo poder da arte e do conhecimento. Graduada em Pedagogia e Educação Artística, com pós-graduação em Psicopedagogia e Educação Especial e Inclusiva, sigo aprofundando minha jornada acadêmica como graduanda em Psicologia.

Com formação em Arteterapia (AARJ/1411), atuo há mais de 28 anos na área da Educação, compartilhando saberes como professora de Artes Visuais e História da Arte. Atualmente, dedico-me à coordenação de um grupo de Arteterapia para Mulheres e à condução de oficinas arte terapêuticas, tanto no formato online quanto presencial.

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