Por Débora de Castro
@deborarteterapia
A frase do artista Vik Muniz,
"De longe vê-se a imagem, a ideia. Ao aproximarmos, vemos o material. Este
é o momento mágico quando uma coisa se transforma em outra", essa fala
do artista, nos convida a refletir sobre a complexidade e a beleza do processo
criativo. No documentário Lixo Extraordinário, essa
perspectiva se torna ainda mais impactante ao vermos materiais descartados
ganharem nova vida e significado por meio da arte.
Documentário – Lixo Extraordinário
Essa citação que Muniz descreve no documentário, também é
essencial no contexto da Arteterapia. Quando um participante começa a criar,
ele muitas vezes parte de uma ideia ampla e difusa, algo que, à distância,
parece ser apenas uma imagem ou sensação. Mas, à medida que mergulha no
processo, o material seja tinta, papel ou outros elementos, revela histórias, emoções e significados
escondidos. É nesse encontro íntimo entre a ideia e a matéria que surge a
transformação: o ordinário se torna extraordinário, e o processo de criação se
torna um espelho da própria jornada de autodescoberta.
No setting terapêutico, esse
"momento mágico" descrito por Muniz ocorre quando a criação artística
transcende sua forma física e dá lugar a descobertas emocionais e psicológicas.
Um pedaço de papel amassado pode revelar sentimentos de desapego ou renovação;
uma combinação de cores pode expressar estados de espírito muitas vezes
difíceis de verbalizar. O material, assim como os resíduos no filme, carrega o
potencial de transcender seu significado inicial, oferecendo novos olhares e
narrativas.
Esse processo nos ensina que,
no espaço terapêutico, não buscamos apenas a "imagem", mas o diálogo
íntimo entre o participante e o material. É nesse espaço de encontro e criação
que reside o poder transformador da Arteterapia, onde o ordinário se torna
extraordinário e onde uma nova compreensão de si mesmo pode emergir. A mágica,
portanto, está na transformação, tanto do material quanto do ser humano que o
molda.
Assim como no trabalho de Vik
Muniz, a Arteterapia nos ensina que a transformação não ocorre apenas na obra
final, mas principalmente no percurso, nos detalhes que enxergamos ao nos
aproximarmos de nós mesmos e do mundo ao nosso redor. Cada material, por mais
simples ou descartado que pareça, carrega o potencial para algo novo, seja uma obra de arte ou um insight profundo.
Esse é o poder da criação:
enxergar além da superfície, aproximar-se com curiosidade e permitir que a
magia aconteça.
Concluindo a reflexão sobre o
documentário com a Arteterapia, penso que
aplicar as inspirações do documentário no setting terapêutico,
encontramos a possibilidade de dar novos sentidos a materiais simples ou
descartados, enquanto resgatamos narrativas pessoais e promovemos a
reconstrução de identidades. Assim, Lixo Extraordinário
reforça que a verdadeira transformação ocorre quando nos permitimos olhar para
o ordinário com novos olhos, enxergando nele o potencial para algo
extraordinário.
Sobre a autora: Débora Castro
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