segunda-feira, 19 de agosto de 2024

"QUANTO TEMPO?": EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES

 



Por Jeany Amorim - RJ

@jeanysamorim.arteterapia

A palavra “tempo” tem aparecido com certa frequência nos atendimentos. Normal. Afinal, nossa sociedade tem sido cada vez mais enredada por Cronos. A questão  é que o tema “tempo” vem sendo reflexão para diferentes idades...e, se aparece no setting, é preciso olhar...com tempo!

Uma criança de 5 anos chega, apontando para o relógio, e pedindo que eu lhe mostre o caminho que os ponteiros farão até que acabe a sessão...conversamos sobre aproveitar o momento. E ele teve uma grande  ideia: “quando eu me cansar de estar aqui, podemos encerrar”. Mais tarde um pouco, em outra sessão, uma senhora de 71 anos, enquanto vivencia um escalda-pés, enumera tudo que lhe traz relaxamento e prazer. Interrompe de súbito a lista  para dizer sobre o medo de estar “perdendo tempo” com seus pequenos prazeres...e surge a pergunta: quanto tempo tenho?

Seja por uma agenda repleta de compromissos, por afazeres sem fim, ou por simplesmente nos esquecermos da necessidade do ócio criativo, estamos com a sensação de que o tempo está passando mais rápido. Sem pequenas pausas em nossas rotinas, nos tornamos cada vez mais eficientes em nos enquadrar no que ditam os ponteiros do relógio. Há como fazer diferente?

Como dizer para uma criança de 5 anos que ele não pode viver organicamente, no fluxo de suas necessidades e potências? Como dizer para uma senhora que viva seus dias se dando o direito de gozar de todos os prazeres? No fundo, os dois têm as mesmas questões, vivenciadas em fases bem distintas da vida, e que ao invés de serem ignoradas e transformadas em sintomas de ansiedade, são acolhidas e bem escutadas, recebendo a importância que tem. Fiz um convite: viver o momento presente. Agora. Aqui. O que sentem? Estão bem? Vamos viver!

Ele colocou seus pés no chão e seguiu feliz entre os lápis de cores e tintas e está apreendendo a brincar com o tempo. Ela diz ter descoberto um novo mantra: o tempo é meu e gasto como quiser!

Descobrir novas potências, expandir horizontes, desbloquear a criatividade, assumir o que se quer, descobrir o que te prende...há tantas formas de seguir - e fazer diferente! Sigamos, sempre é tempo! Mas despertos, para que como na mitologia, não sejamos devorados por Cronos.

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Sobre a autora: Jeany Amorim


Jeany Amorim é Arteterapeuta, Psicopedagoga, professora de Arte na Rede Estadual de Educação do Rio de Janeiro, Mediadora de Conflitos - e de pessoas! - ilustradora de livros infantis, contadora de histórias e de estrelas. Mora em meio a Mata Atlântica, na região serrana do Rio, e vem se dedicando ao estudo "das coisas naturais", trazendo ao setting - e expandindo - o ser orgânico e a natureza que somos.

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