segunda-feira, 15 de abril de 2024

“O QUE É AUTOESTIMA PARA VOCÊ?” A Autoestima no setting de Arteterapia - Parte 1



Por Milena Medeiros - Volta Redonda - RJ

milolmedeiros@gmail.com

Os estudos sobre o trauma sempre fizeram parte de meus grandes interesses, no que diz respeito à Saúde Mental; quando em uma das aulas assistidas sobre o tema, a questão sobre a AUTOESTIMA foi abordada: "o que é a autoestima para você?", perguntaram-me. Respondi sobre a adequação. Sobre se estar ok ou não ok no momento, no lugar, na interação... na vida. 

 Esta abordagem fez-me pensar, com uma atenção especial, sobre o meu trabalho arteterapêutico. Com isso, os estudos aprofundaram-se cada vez mais, enquanto que de "mãos dadas" à rotina de atendimentos - o caminho encarregava-se - pela sincronicidade, de alavancar de forma eficiente as entrelinhas de minhas intensões. Aquela foi uma fase em que o tema AUTOESTIMA cercou o setting com mais profundidade, imaginei. Porém hoje entendo que permeia de maneira integral os processos terapêuticos, tratando-se de uma construção humana advinda das nossas experiências vividas e que se desdobra em nossas sensações e reações, independente do perfil comportamental do sujeito que demanda os movimentos de vida no agora. Sendo, inclusive, esse um dos grandes motivos pelo qual a AUTOESTIMA está intrinsicamente ligada as questões sobre o trauma. 

Ficou claro para mim que carregamos conosco muitos conceitos a respeito da AUTOESTIMA e que nem sempre conseguimos nos referir a ela de forma objetiva. Assim concluí que um dos conceitos de que mais tomei nota durante a abordagem direcionada: "gostar de nós mesmos” - é ter autoestima, para a maioria de nós. 

 As pesquisas sobre o tema, assim como os estudos continuados em Arteterapia e Saúde Mental, o processo pessoal, as supervisões e o lastro do setting arteterapêutico trouxeram e trazem notícias de que uma das grandes raízes que nos liga a muitos de nossos desafios emocionais e psicofisiológicos  (sendo a psicofisiologia o estudo científico das relações entre os fenômenos psíquicos e os fenômenos fisiológicos) é a AUTOESTIMA. Cabendo a nós, adultos, encontrarmos saídas, sob a premissa do autocuidado, a importância de não nos distanciarmos de nossas histórias, pois nelas encontramos a chave para que nos tornemos seres saudáveis e passemos a entender a estrutura arraigada, complexa e visceralmente sentida, inclusive pelo corpo, em nossas posturas e sintomas, que a baixa autoestima nos traz, produzindo condições que afetam a saúde mental de forma negativa, como a depressão, a ansiedade, os distúrbios alimentares, entre outros. 

Nathaniel Brenden, psicoterapeuta e escritor, conhecido por seu trabalho na psicologia da autoestima, tece de forma cuidadosa sobre o tema, apontando cuidados terapêuticos que apoiam o autoconhecimento. Para Brenden ter a definição de autoestima internalizada é a vivência de que somos adequados. 

            Minha proposta arteterapêutica com o foco circunda em um trabalho contínuo e com base nos conceitos de Brenden:

1.Confiança em nossa capacidade de pensar; confiança em nossa habilidade de dar conta dos desafios básicos da vida e 2. Confiança em nosso direito de vencer e sermos felizes; a sensação de que temos valor e de que merecemos e podemos afirmar nossas necessidades e aquilo que queremos alcançar, nossas metas e colher os frutos de nossos esforços (BRENDEN, 2002, p. 22).  

            Levando em consideração o perfil de pacientes atendidos, empreendi o ajuste de estilo de atendimento com base na Arteterapia centrada sobre o processo, uma visão unificadora que integra a visão junguiana (universo simbólico da imagem), a Bioenergética, (sistema de terapia que combina respiração e exercícios corporais) e conceitos da Gestalt-terapia (abordagem centrada no aqui e agora).  Um processo que busca a consciência do sentir para um possível encontro com o bem estar. Nesse percurso o desenvolvimento do AUTOCUIDADO se coloca a serviço de cada parte pela composição da demanda de fala e de um agir criativo que integra a percepção corporal e a materialidade expressiva, criando um campo de informação que trará pelo inconsciente notícias de nossos desconfortos, dores e traumas profundos. Estruturas essas que compõem a baixa autoestima. 

 


Esquema de autoria de Milena Medeiros 


A AUTOESTIMA E A COLAGEM – Estudo de caso

 

Passo 1:  Receber a demanda do paciente/cliente e suas percepções e, com elas, refletir sobre a AUTOESTIMA.

Passo 2:   Sensibilizar o momento com a percepção corporal integral.

Passo 3: A materialidade expressiva inicia-se pela palavra C-O-N-F-I-A-N-Ç-A e ao paciente/cliente é solicitado que corte a silhueta de seu corpo.

Passo 4: Solicitar ao paciente/cliente que contemple a imagem.

Passo 5:  Realizar a análise corporal através da expressão colagem relacionada a silhueta (formas produzidas) em ambos traçam considerações, criando uma troca reflexiva entre paciente/cliente e arteterapeuta. 


 Colagem – Setting Arteterapêutico

Na imagem acima configurou-se em analise corporal 4 couraças (ocular, oral, cervical e toráxica) em tamanho discrepante ao resto da silhueta como acumulo de funcionalidade nos locais citados, como por exemplo, uma cabeça que age por sobrecargas e pulsações que vão ao encontro do estado emocional e físico do paciente/cliente na rotina de vida: ansiedade, cansaço mental, estresse, dores na cervical e ombros, desconforto no peito e falta de ar.  Fazendo uma analogia com uma casa que possui três cômodos, podemos imaginar que apenas um deles (cabeça/tórax) é mobiliado, enquanto os outros dois (abdômen e membros inferiores) encontram-se vazios. A palavra “fadiga”, encontrada durante a contemplação, fez emergir o movimento de vida atual do paciente/cliente, no que diz respeito a baixa autoestima, pois quando fadigada, por reflexo de situações vividas no passado e que já estão em pauta no processo arteterapêutico contínuo, sente-se inadequada. A palavra C-O-N-F-I-A-N-Ç-A no topo trouxe ditas expressões: “não me sinto confiante quando em exaustão extrema” / “Sinto-me perdida de mim.” Reflexões importantes acerca da sessão trouxeram “a luz” o movimento de que quanto mais baixa for a autoestima, mais propensos estaremos a esquecer quem somos e maior será a necessidade de provar quem somos.

Na segunda parte do texto, mais detalhes sobre a casuística serão colocados em estudo tanto pela ampliação da expressão arteterapêutica, quanto pela abordagem da Bioenergética - e o trabalho pela necessidade de equilíbrio entre os cômodos citados em analogia. A abordagem de Nathaniel Brenden estará presente junto dos 6 pilares da AUTOESTIMA, que estão sendo cuidadosamente semeados no setting de Arteterapia.

 

REFERÊNCIAS

 

BRENDEN, N. Autoestima e os seus seis pilares. Tradução de Vera Caputo. 7ed. São Paulo: Saraiva, 2002

 

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Sobre a autora: Milena Medeiros

 


Arteterapeuta AARJ1122

Coordenadora do Projeto de Atendimento Social do Não Palavra e demais projetos.

Cursando Bioenergética, uma abordagem de Alexandre Lowen – Corpo Terapeuta

Pós Graduada em Arte terapia pela Clínica Pomar RJ

Com mais de 15 anos de experiência em Gestão de Pessoas e Negócios no mercado Corporativo, hoje atua com a Arteterapia nas empresas.

Practicioner em PNL Programação Neuro Linguística pelo Instituto Espaço Ser/SC;

Certificada pela UNAT-Brasil - 101 Introdutório Oficial de Análise Transacional. Abordagem psicológica de Erick Berne que trata de maneira prática e compreensível os aspectos mais importantes da personalidade e das relações entre as pessoas;

Certificada em Visão Sistêmica Organizacional - Systemic Team Awareness - Mundo VUCA (Volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade); Metaforum Internacional SP

Certificada - Visão Sistêmica com base Psicoterapêutica de Bert Hellinger;

Graduada em Gestão de PMES - Universidade Metodista de SP.

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