Por Elaine Cristina Tomaz - Ribeirão Preto/SP
@tessera.arteeterapia
Era uma vez... Tantas ocasiões ao longo da vida escutamos esta expressão, ou ainda alguém que nos diz: “vou te contar uma história”.
Desde crianças bem pequenas, ouvimos histórias de nossa família, dos livros preferidos, com professores, os amigos da escola e, quando mais velhos, as narrativas que nós escolhemos.
As histórias capturam pessoas de várias idades, pois uma história bem contada tem o poder de acessar profundamente os pensamentos, emoções e experiências de uma pessoa – das mais difíceis, às mais felizes.
No livro “Contos para Curar e Crescer”, Jean Monbourquette (Dufour, 2005) ressalta a afinidade incontestável que existe entre o psiquismo humano e a arte de se exprimir através de histórias. E ainda questiona: “não é verdade que quando dormimos, nosso inconsciente se delicia em contar histórias sob a forma de sonhos? Sabemos muito bem que retemos melhor o conhecimento e os princípios da sabedoria humana quando são transmitidos nos enredos das histórias”.
Neste sentido, Giordano (2007) enfatiza:
O Era uma vez...é o lugar onde mora o reino das possibilidades, e o lugar onde não há tempo nem espaço, é aquele lugar onde as pessoas dizem: saí daqui e durante o conto estava lá! Mas lá onde? No Era uma vez..., as personagens do conto te guiam para dentro de você mesmo rumo às suas próprias possibilidades. Esse lugar é onde se compartilha sentimentos de pertencimento com todos os humanos.
As narrativas são repertórios de alegria, reflexão, criatividade, heroísmo, imaginação e acionam em nós sensações de acolhimento, identificação, encantamento, inspiração e incentivo. Historias também podem enriquecer nosso vocabulário, nos estimulando a falas mais assertivas e aumentando as habilidades de escuta o que, consequentemente, gera uma comunicação melhor.
No setting Arteterapêutico, contar histórias é um recurso valiosíssimo, que beneficia todas as idades – da criança ao idoso, passando pelos adolescentes e adultos.
As histórias são ferramentas para despertar imagens, acionar memórias guardadas, mergulhar em nosso psiquismo, desafiar nossas crenças cristalizadas e nos levar a considerar novos pontos de vista, nos dar voz e possibilidades para expressar em arte, aquilo que muitas vezes sentimos, pensamos, mas não temos como explicar, nos encoraja, provoca e podem ser base para processos terapêuticos valiosos, pois fazem o caminho do intelecto e da imaginação ao nosso coração e vice-versa, proporcionando uma organização interna e outro olhar, um novo significado às nossas próprias histórias de vida.
Diante disso, Philippini (2013), ressalta que:
As estruturas simbólicas destes relatos expressam fenômenos universais por serem oriundas do inconsciente coletivo. São desdobramentos da memória humana ancestral e estuda-lás vai facilitar nossa compreensão do psiquismo humano em sua trajetória de aperfeiçoamento e individuação.
A autora (2013) nos lembra ainda que estas estruturas reaparecem de forma similar, reapresentadas nas tramas contemporâneas de todos nós e, desta forma, sugere aos profissionais da Arteterapia “aprofundar-se no fantástico universo dos mitos, contos de fada, fábulas, contos de ensinamento”.
Como Arteterapeutas, é importante procurarmos narrativas que tenham relação com o processo do cliente, estudar, observar, buscar, intuir, temas que possam despertar, acolher, encantar, proporcionar reflexões e oferecer estímulos de forma que o paciente entre em contato com seus questionamentos, dores, potenciais, inquietações e sonhos e, também para que possa expressar artisticamente o que sente, pensa e deseja.
E muito além de uma moral da história e/ou um ensinamento, no processo arteterapêutico precisamos estar abertos ao que faz sentido ao paciente e a sua história de vida. Fazer questionamentos e oportunizar análises e considerações a partir de estímulos diversos de acordo com a idade do paciente, por exemplo: que parte da história mais o tocou e porquê; que frase ele destacaria para expressar em arte; que lembrança a história traz, o que o personagem principal tem a ver com ele; que personagem da história ele seria e porquê, que desenho faria para ilustrar a história; o que a história fala sobre o seu momento de vida; o que ele mudaria na história e porquê, o que mais gostou o que não gostou, como narraria aquela história; fazer associações livres e tantas outras possibilidades.
E quais histórias contar? As clássicas, os livros de literatura infantil, mitos, contos de fadas, lendas, parábolas, fábulas e mil e uma histórias que falam do humano em nós. São instrumentos que podem ressignificar sentidos e promover o autoconhecimento, o crescimento, a cura, a saúde mental.
Arteterapeuta AATESP 336/0616
Referências:
Dufour, Michel. Contos para Curar e Crescer. (Trad.Alice Mesquita).São Paulo: Ground, 2005.
Giordano, Alessandra. Contar histórias: um recurso arteterapêutico de transformação e cura. São Paulo: Artes Médicas, 2007
Philippini, Angela. Para entender Arteterapia: Cartografias da Coragem.
Rio de Janeiro: Wak, 2013.
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Sobre a autora: Elaine Cristina Tomaz
Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário Barão de Mauá, com Habilitação em Administração
Escolar.
Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional - Centro Universitário Barão de Mauá.
Formação em Educação em Valores Humanos (Básico) pelo Instituto Sathya Sai de Ribeirão Preto.
Especialista em Arte e Arteterapia aplicada à Educação, Saúde, Social e Organizações pelo
NAPE – Nucleo de Arte e Educação/FAVI – Faculdade Vicentina – AATESP 335/0616.
Formação em Mandala Terapêutica pelo CEIMAS® (Centro Internacional de Mandala, Arte e Simbolismo) - SP
Formação como Facilitadora SoulCollage® pelo SoulCollage® Brasil.
Atuou como Gerente de Projetos e Coordenadora de Formação de Mediadores de Oficinas de Leitura e Escrita na Fundação Palavra Mágica em Ribeirão Preto/SP
Professora Alfabetizadora das Redes Estadual e Municipal de Ribeirão Preto/SP.
Atendimento em Arteterapia, Mandalaterapia e SoulCollage® para jovens e adultos, individual e grupos, presencial e online em clinica própria – Téssera Arte & Terapia
@tessera.arteeterapia
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