segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

REDE, ENRAIZAMENTO E PERTENCIMENTO AO ARTETERAPEUTA: FECHANDO 2022

 


Por Eliana Moraes – MG

naopalavra@gmail.com

@naopalavra 

Chegamos ao fim de mais um ciclo. 2022, desde seu início, já dava sinais de que seria um ano bastante desafiador em seus movimentos de extroversão – retomada progressiva de atividades externas e presenciais – e consequentemente desafiador quanto às relações interpessoais, somando-se ao cenário hostil e polarizado no campo coletivo. 

Sustentar-se estruturado em meio ao caos externo através dos “Auto e Heterossuportes” (Gestalt Terapia) e de plena posse de sua “Liberdade Interior” (Logoterapia) foi para mim um mote orietador nos espaços terapêuticos individuais e grupais que coordeno. 

Uma atenção especial foi direcionada para a sustentação do arteterapeuta. Consciente de que o este está altamente demandado em seu ofício devido à grande busca por ajuda pela saúde psíquica, acredito que ele também precisa ser sustentado em uma rede de suporte. Neste sentido, encontrei eco nas palavras de Beatriz Cardella:

 

O terapeuta anfitrião tem consciência de que é também, hóspede…

O terapeuta é também peregrino, pois está de passagem, em viagem, em travessia, em peregrinação.

Embora anfitrião, tem consciência de que é Inquilino, pois não detém a posse da terra e da morada… Terapeuta e paciente são ambos convidados da vida que lhes é ofertada. (CARDELLA, 2020, 65) 

No livro “De volta para casa: ética e poética na clínica gestáltica contemporânea” Beatriz defende que dentre as necessidades fundamentais da dignidade humana encontra-se a hospitalidade, o pertencimento e o reconhecimento. Sendo o terapeuta também peregrino na travessia da vida, também possui sua necessidade de pertencimento, e este pode ser encontrado no grupo de estudos, em suas diversas modalidades:

 

As necessidades de pertencimento e inclusão são necessidades fundamentais da pessoa humana, dando sentido ao papel dos Grupos de Estudos e Pertencimento não só como possibilidade de ampliação  e aprofundamento do conhecimento em Psicoterapia, mas de troca viva de experiências entre psicoterapeutas, cujo ofício é caracterizado por uma solidão decorrente do imperativo ético do sigilo profissional. (CARDELLA, 2020,271) 



Cada vez mais tenho considerado a rede de arteterapeutas que frequentam os espaços do Não Palavra Arteterapia como um grande Grupo de Estudos com contornos mais flexíveis, porém, bastante ancorados no vínculo grupal. Ao longo de 2022, além de estudar juntos e trabalhar no desenvolvimento do raciocínio e manejo arteterapêutico, estabelecemos nosso campo como um território de pertencimento ao arteterapeuta, seja através das palestras teórico-vivenciais, do Grupo Quíron, das supervisões, das trocas espontâneas entre os participantes. Está claro que formamos um grupo, com todos os seus potenciais:

 

Há dimensões da experiência grupal que são incomunicáveis.

Torna-se fortalecimento das relações ao longo do tempo e do convívio, o clima de acolhimento, respeito e afeto que constituem a rede de sustentação que possibilita as experiências de pertencimento, inclusão e hospitalidade e a abertura para viver o risco de conhecer. (CARDELLA, 2020, 281) 

O primeiro espaço de compartilhamento gerado e sustentado pelo Não Palavra se deu com este blog e 2022 foi seu 9º ciclo de produção de textos em Arteterapia. Neste ano publicamos 42 textos de 14 autores: Milena Medeiros, Vera de Freitas, Mercedes Duarte, Isabel Pires, Claudia Abe, Tania Salete, Rosângela Nery, Silvia Quaresma, Simone Aguiar, Clara Abdo, Juliana Mello, Kátia Santos, Sheila Leite e Eliana Moraes. Toda gratidão a cada parceira que colaborou para que o blog se mantivesse ativo em mais um ano. Gratidão também à Regina Célia e Ana Paula que me ajudam a sustentar os eventos do Não Palavra. 

Hoje entramos de recesso para que possamos descansar, recarregar as energias e retomar os trabalhos de publicação de textos em 7 de fevereiro de 2023. 

E para fecharmos esse ano tão marcado por conflitos e atravessamentos relacionais, trago hoje a bela poesia de Rupi Kaur, poeta contemporânea indiano-canadense:  

“Acima de tudo ame
Como se fosse a única coisa que você sabe fazer
No fim do dia isso tudo
Não significa nada
Esta página
Onde você está
Seu diploma
Seu emprego
O dinheiro
Nada importa
Exceto o amor e a conexão entre as pessoas
Quem você amou
E com que profundidade você amou
Como você tocou as pessoas à sua volta
E quanto você se doou a elas.”
 


Referência: 

CARDELLA, Beatriz Helena Paranhos. De volta para casa: ética e poética na clínica gestáltica Contemporânea. Editora Amparo, SP. 2020

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Sobre a autora: Eliana Moraes


Arteterapeuta e Psicóloga
Pós graduada em História da Arte
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso.
Cursando MBA em Logoterapia e Desenvolvimento Humano
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 
Faz parte do corpo docente de pós-graduações em Arteterapia: Instituto FACES - SP, CEFAS - Campinas, INSTED - Mato Grosso do Sul. 
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia online, sediada em Belo Horizonte, MG. 

Autora dos livros "Pensando a Arteterapia" Vol 1 e 2

Organizadora do livro "Escritos em Arteterapia - Coletivo Não Palavra"

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