segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

O USO DO ORIGAMI NAS PRÁTICAS DA ARTETERAPIA

 



Por Eliana Moraes

naopalavra@gmail.com

@naopalavra 

Um dos enfoques do Não Palavra ao longo de 2022 foi produzir conteúdos que pudessem estimular e desenvolver a escuta arteterapêutica. Observo que um dos temas mais recorrentes em espaços de supervisão que sustendo giram em torno do uso das linguagens e materiais de forma consciente – entendendo que esta é uma das especificidades da prática arteterapêutica. De fato, este é um conteúdo  iniciado nos cursos de formação, porém impossível de ser esgotado nessa etapa. O estudo e aprofundamento da riqueza e pluralidade de possíveis recursos arteterapêuticos se dá de forma continuada, enquanto o arteterapeuta permanecer em atividade. 

Dessa forma, se faz muito importante que o arteterapeuta se mantenha em busca de novas experiências e experimentações, vivências e participação de ateliês variados. Um outro caminho também muito interessante se dá no diálogo e troca constante com nossa rede e parcerias de jornada. 

Foi assim que meu olhar foi despertado para a técnica do Origami, de forma mais atenta, em 2022. Foram alguns compartilhamentos de Isabel Pires, arteterapeuta do RJ e pertencente à rede Não Palavra, que me estimulou a estudar e experimentar mais desta técnica em minhas práticas arteterapêuticas individuais e grupais. 

Uma síntese do estudo de Isabel sobre o tema, foi registrado em texto anterior nesse blog (CLIQUE AQUI) e no mês de novembro oferecemos a palestra “O uso do origami nas práticas da Arteterapia” em parceria com o Espaço Crisântemo. 

O texto de hoje é um recorte da parte que me coube na palestra: a síntese das propriedades do Origami nas práticas arteterapêuticas. 

 


Inicialmente o Origami é uma técnica bastante facilitadora pois é feito com papel, um material extremamente cotidiano a nós. Este fato torna facilitador também para práticas criativas online, as quais dependemos dos materiais que o paciente/cliente possui em casa. Vale registrar que esta foi minha porta de entrada do despertar para o Origami. Como atualmente me estabeleci no atendimento online, permaneço em ativa, sempre em busca de atividades que sejam acessíveis à esta modalidade de atendimento. 

Todas as práticas criativas estimulam as quatro funções psíquicas junguianas. Entretanto, é possível pensarmos que na experiência do Origami, a Função Principal e o Pensamento e a Função Secundária, a Sensação. 

Esta é uma técnica construtora e estruturante. Proporciona, em seu processo, um desafio, coragem, persistência, paciência e autodisciplina, força de vontade, satisfação, autoestima. Muitas vezes acessa memórias afetivas e o contato com a criança interior, a imaginação e o divertimento. 

O Origami atualiza de forma bastante clara os dois pilares da Arteterapia: o processo e a imagem. O processo de sua construção informa sobre características comportamentais, emocionais e subjetivas do criador. Durante seu processo criativo o arteterapeuta deve exercer sua escuta específica, a escuta do agir: “O que seu paciente/cliente te conta sobre seu funcionamento ao longo do processo criativo do origami?” 

Através da imagem resultante é possível o aprofundamento em um símbolo e seus desdobramentos. O estímulo à ampliações simbólicas pode ser feito na  associação com outros materiais e linguagens e na passagem do bi para o tridimensional. 

O caminho para o tridimensional é mais uma rica propriedade do Origami, pois envolve o movimento de se ganhar volume, ainda que seja de forma intermediária. Por essa razão, lida com a percepção sensorial e com muitas variáveis como peso, equilíbrio, proporção, texturas... Por essa razão, é mobilizador e desafiador de movimentos físicos, cognitivos e psíquicos. 

Neste contexto, trabalha o pragmatismo, a busca de soluções e a “tentativa e erro”. E quando, de fato, tridimensional, proporciona o deslocamento do olhar para múltiplas perspectivas e outras percepções. 

Um dos grandes benefícios do Origami está no potencial de desenvolvimento cognitivo e afetivo, no público idoso e infantil, mas estendendo-se ao público aberto. 

Estimula a psicomotricidade,  coordenação motora,  estruturação e ordenação lógica e temporal. Desenvolve habilidades mentais, visualização espacial, raciocínio lógico, matemático geométrico,  abstrato e simbólico. 

Atua na prevenção de doenças do sistema nervoso ao estimular o crescimento de conexões neuronais mais complexas e a neuroplasticidade. Estimula funções cognitivas como: memória, atenção, concentração, as funções executivas e praxia. 

Acessa um estado meditativo, ao se trabalhar o equilíbrio, a harmonia mental, a atenção plena para o aqui e agora, o mindfulness. 



Entretanto, o processo do Origami também possui os seus potenciais de resistência. Pode ser um desafio para pessoas bastante ansiosas, com dificuldade de concentração e manejo com processos minuciosos.  É importante que o arteterapeuta atente-se para os graus de dificuldade de cada origami bem como a progressão dos desafios para cada experienciador, além de manter a constância de práticas para evolução paulatina dos desafios e experiências. 

Por fim, acredito que seja bastante orientador ao arteterapeuta ter em mente os “verbos” que cada processo criativo coloca seu paciente/cliente em ato, pois em Arteterapia entendemos que o que fazemos fora, estamos mobilizando por dentro. Alguns verbos que podemos citar no processo do Origami são: dobrar, desdobrar, virar, girar, vincar, marcar, encaixar, repetir, empurrar, pressionar, abrir, fechar. Dar forma, dar volume, levantar, construir, verticalizar, estruturar. Brincar. 

Encerro essa reflexão com um trecho do texto de Isabel Pires que nos faz um convite tão instigante:

 

A magia dessa transformação, através de movimentos precisos e cuidadosos de nossas mãos, num material simples e delicado como o papel, sempre nos surpreenderá como um truque de mágica bem-sucedido. E a beleza e engenhosidade das obras criadas sempre nos trarão encantamento.

 

Por isso, convido vocês, arteterapeutas, a levarem essa arte para o seu setting arteterapêutico e oferecer a seus pacientes/clientes a possibilidade de descobrir as infinitas e inesperadas formas escondidas numa simples folha de papel e ousar revelar essas formas em peças de delicada beleza e profundo simbolismo. (PIRES, 2022)

 

Referência: 

PIRES, Isabel. A ARTE DA DOBRADURA DE PAPEL: ORIGAMI E ARTETERAPIA. Blog Não Palavra, 2022. Disponível em: https://nao-palavra.blogspot.com/2022/04/a-arte-da-dobradura-de-papel-origami-e.html

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Sobre a autora: Eliana Moraes


Arteterapeuta e Psicóloga
Pós graduada em História da Arte
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso.
Cursando MBA em Logoterapia e Desenvolvimento Humano
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 
Faz parte do corpo docente de pós-graduações em Arteterapia: Instituto FACES - SP, CEFAS - Campinas, INSTED - Mato Grosso do Sul. 
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia online, sediada em Belo Horizonte, MG. 

Autora dos livros "Pensando a Arteterapia" Vol 1 e 2

Organizadora do livro "Escritos em Arteterapia - Coletivo Não Palavra"

3 comentários:

  1. Regina (Espaço Crisântemo)13 de dezembro de 2022 às 01:06

    Parabéns às duas, Eliana e Isabel. Trouxeram uma técnica para o setting muito importante e estimulante. Há tempos a utilizo na psicopedagogia, mas é importante destacar os simbolismos na arteterapia. Enriqueceu muito mais a prática. Gratidão.

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  2. Adorei! Será muito útil na minha prática! Heloísa de Lucca

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