segunda-feira, 12 de abril de 2021

DO FAUVISMO À ARTETERAPIA: HENRI MATISSE

"A dança" Henri Matisse

Por Eliana Moraes

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A tendência dominante na cor deve ser a de servir o melhor possível à expressão. (MATISSE in CHIPP, 1996, p 130)

Encerrando a série de textos que explora possíveis articulações entre o movimento fauvista e a Arteterapia, hoje nos aprofundaremos no caminho de protagonismo de Matisse depois dos anos de 1920, quando o movimento foi perdendo força.

Até o fim de sua vida Matisse permaneceu dedicado à sua pesquisa sobre as cores e seu potencial expressivo, além de produzir um conjunto de obras icônicas ao longo de algumas décadas. Sempre ratificou que o uso das cores em suas obras não se baseava em escolhas racionais ou teóricas, mas sim em suas sensações e emoções:


A escolha de minhas cores não repousa em nenhuma teoria científica: baseia-se na observação, no sentimento, na experiência de minha sensibilidade. Inspirando-se em certas páginas de Delacroix, um artista como Signac se preocupa com as complementares, e o conhecimento teórico delas o levará a empregar, aqui ou ali, este ou aquele tom. Quanto a mim, procuro simplesmente empregar cores que expressem minha sensação. (MATISSE in CHIPP, 1996, p 131)

Matisse, como outros pintores que fazem a relação entre as cores e as emoções, também associa as cores com o som musical, formando um diálogo entre a pintura e a música:


O pintor escolhe a sua cor na intensidade e na profundidade que lhe convém, como o músico escolhe o timbre e a intensidade de seus instrumentos. (MATISSE in CHIPP, 1996, p 139)

Henri Matisse


Contudo, um dos recortes mais intrigantes da biografia de Matisse se dá nos últimos anos de sua vida. Em 1941, aos 71 anos, Matisse foi diagnosticado com câncer, o que muito lhe prejudicou no ato de pintar. Passava muito tempo na cama e na cadeira de rodas e foi proibido de pintar com os materiais tradicionais devido ao seu potencial tóxico.

O diagnóstico que poderia ser tomado como uma sentença para o fim da carreira de um grande pintor, não o venceu. Aquele que havia passado uma vida inteira pintando e criando através das cores, mais uma vez se reinventou: criou uma nova técnica que consistia em uma combinação de desenho e pintura em colagens feitas com papéis recortados e coloridos com guache. Matisse chamou a técnica de “Pintando com a tesoura” ou “Desenhando com a tesoura”. Naturalmente, o artista segue utilizando as cores de forma singular, e ao contemplarmos suas colagens podemos sentir a intensidade das cores e consequentemente, de suas emoções.


Desta técnica, 20 pranchas impressas, feitas especialmente para o álbum “Jazz: a arte da improvisação” foi publicado em Paris. Matisse faleceu aos 85 anos, tendo ainda vivido quinze anos de pura “resiliência criativa”.

De Matisse à Arteterapia: “Pintando com a tesoura”


A biografia de Matisse pode ser utilizada como estímulo projetivo em práticas arteterapêuticas, ao trabalharmos com seus experienciadores momentos em que a vida nos fecha uma porta, nos diz um “não”, nos impede de fazer aquilo que amamos, nos identificamos ou desejamos. Com esta técnica, observamos o poder resiliente e ressignificador da arte. Matisse nos ensina sobre a “resiliência criativa” e a capacidade de nos reinventarmos através da arte! Experimentar seu processo “Pintando com a tesoura” proporciona um encontro do experienciador da Arteterapia com seu mais profundo potencial criativo, não apenas para a arte, mas para a vida!

 


Concluindo

A pesquisa continuada sobre as possíveis articulações entre a História da Arte e a Arteterapia tem sido uma das minhas grandes motivações. Matisse, sem dúvida, é um dos artistas que mais falaram à mim ao longo deste processo. E hoje encerro esta série com duas de suas falas que muito me inspiram como uma arteterapeuta atuante no século XXI e tudo o que ele contém:

Sonho com uma arte de equilíbrio, de pureza, de serenidade, desprovida de motivos inquietadores ou deprimentes; uma arte que seja, para todo trabalhador cerebral, para o homem de negócios ou para o artista das letras, por exemplo, um lenitivo, um tranquilizante mental, semelhante a uma boa poltrona que o faz repousar de suas fadigas físicas. (MATISSE in CHIPP, 1996, 131-132)

Gostaria que o homem cansado, sobrecarregado, acabado, encontrasse paz e sossego nos meus quadros. (MATISSE in WALTHER)


Bibliografia:

CHIPP, H.B. (org) Teorias da Arte Moderna. Ed Martins Fontes, SP. 1996

GOMPERTZ, Will. Isso é arte? 150 anos de arte moderna do Impressionismo até hoje. Rio de Janeiro, Zahar, 2013.

WALTHER, Ingo F. Matisse. Taschen, 1993.

WHITFIELD, Sarah in STANGOS, Nikos (org). Conceitos da arte moderna, Jorge Zahar Ed, RJ, 2000.

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Sobre a autora: Eliana Moraes


Arteterapeuta e Psicóloga.


Pós graduada em História da Arte
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso.
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 
Dá aula em cursos de formação em Arteterapia em SP e MS. 
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia. Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.

Autora dos livros "Pensando a Arteterapia" Vol 1 e 2

Organizadora do livro "Escritos em Arteterapia - Coletivo Não Palavra" 

 

Um comentário:

  1. Lindo Eli! Amo Matisse!Matisse das colagens, Matisse das telas! Que lição! Que vida! Seu texto e as ilustrações trouxeram pra bem pertinho de nós uma beleza tamanha!!! Beatriz Coelho

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