segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

O PODER DO GRUPO




Por Eliana Moraes e parceiras de jornada - RJ 

Ao longo de 2019 tive a oportunidade de sustentar dois grupos para arteterapeutas: um de proposta vivencial, ao qual se constituía um espaço para que terapeutas se reservassem um tempo e um espaço para seu próprio processo criativo e contato com imagens pessoais; o outro, o grupo de estudos "Teorias da arte e a Arteterapia" ao qual estudávamos a História da Arte buscando possíveis aplicações para nossa prática arteterapêutica, tendo como leitura mestra o livro "Do Espiritual na Arte" de Kandinsky. 

Estes dois espaços receberam vários terapeutas ao longo do ano, mas naturalmente pela dinâmica do grupo e dos indivíduos, algumas participantes permaneceram. Ao fecharmos os encontros de 2019 pudemos olhar para trás, avaliar o percurso por nós construído e conversar sobre a potência sentida em cada uma a partir da sustentação do grupo, para seus desafios pessoais ao longo do ano. A palavra recorrente foi: enfrentamento. E o quanto o grupo se fez um território sagrado para que cada uma colocasse seus desejos, suas dúvidas e inseguranças, mas sobretudo que recebesse acolhimento e afeto, além de feedbacks construtivos para estes enfrentamentos. 

Foi assim que partiu de Selma a proposta de escrevermos um texto coletivo sobre a potência da experiência grupal para nós. A começar por mim, percebo e afirmo a importância do(s) grupo(s) como um espaço para colocar minhas ideias e propostas e receber um espelhamento honesto que em muito colabora para o direcionamento dos meus próximos passos. Observo que os textos que escrevi até aqui, que são a base dos dois livros que já publiquei, são profundamente atravessados pelos grupos de estudos que me acompanhavam em cada fase de trabalho. Tenho a clareza absoluta de que sem este espaço de compartilhamento e construções colaborativas, meu trabalho não seria o mesmo. Desta forma, manifesto minha gratidão a cada uma das participantes dos grupos sustentados pelo Não Palavra. E agora abro a palavra para que três delas compartilhem suas experiências.



O grupo é sem dúvida um trabalho igualmente importante e desafiador, já que trabalhamos com aspectos singulares de cada sujeito inserido em um grupo. Sou testemunha dessa experiência profunda, marcante e transformadora.

Ao longo de alguns meses participei junto com outras mulheres interessantes, inteligentes e o mais importante, dispostas a mergulhar num processo transformador e vivenciar cada proposta que nos foi ofertada.

O trabalho de grupo, por sua natureza e seus fenômenos, proporciona sermos influenciados e influenciarmos o ambiente, e o ambiente em que estivemos todos esses meses foi acolhedor, contribuindo para que aos poucos pudéssemos descobrir nossos medos, angustias, tristezas, nossas capacidades, e possíveis enfrentamentos de vida e esse foi um “mote” que o grupo compreendeu que era necessário dar uma atenção especial ao potencial criador de cada uma e que por motivos reconhecidos, estavam travando esse ato criativo a se realizar.

Foram momentos de profunda entrega, choros longos e sentidos, risos fartos contagiantes, abraços de coração com coração, enfim...

Agradeço a TODAS pelo belo encontro de vida e de grupo e o mergulho para as profundezas do oceano do inconsciente e descobrir um universo de possibilidades.

No grupo, o indivíduo dá-se conta de capacidades que são apenas potenciais enquanto se encontra em comparativo isolamento. O grupo, dessa maneira, é mais que um conjunto de indivíduos, porque um indivíduo num grupo é mais que um indivíduo em isolamento.” (ÁVILA in MORAES, p 119)

SELMA LESSA

Participar de um grupo vivencial em arteterapia demanda entrega e disponibilidade interna para mergulhar nas nuances mais profundas de nós mesmas. Quando esse mergulho pode ser feito ao lado de pessoas igualmente entregues ao processo e amorosas na escuta, tudo se torna intenso e simples ao mesmo tempo. Intensidade das memórias, medos, alegrias, angústias, dúvidas, cores e sentimentos aliada a simplicidade de estar presente para si e para o outro. E assim fica o registro no coração de encontros entre terapeutas que se permitiram, num ambiente acolhedor, serem terapeutas de si mesmas.
PATRÍCIA SERRANO

Em meio a uma grande cidade como o Rio de Janeiro, eu como estrangeira, vindo de outro estado, pude encontrar nesse grupo o fortalecimento da minha individualidade. Pode parecer um paradoxo, mas foi no grupal, no olhar do outro, que se deu a luz ao indivíduo que sou, ou - mais verdadeiro falar - o caminho para ser mais esse universo particular que sou. Em meio a multipliciades de questões e indagações, consegui dar luz, no sentido de gestar, os projetos e enfrentamentos. Não é a toa que a palavra que permeou o grupo foi justamente esta: "enfrentamento". 

Existem tantas mensagens motivacionais para que sigamos em frente, de sermos fortes, de nos encontrarmos... Mas eu acredito que a motivação vem de Eros, na sua particularidade de amor, acolhimento, olhar e sorriso. Eros move montanhas! E foi nesse grupo, permeado por Eros, que empurrei minhas montanhas e consegui estabelecer uma paisagem que me faz ver e sentir que não sou mais estrangeira no Rio e que aos poucos também não serei mais estrangeira de mim.

Espero que minhas amigas tenham se visto como universos particulares, valiosos e ricos, cada um do seu jeitinho. E a partir disso, ver a importante dinâmica da integração do diferente, meu universo se relacionando com tantos outros distintos.

Agradeço a Eliana por ser a mobilizadora de encontros. Isso faz toda a diferença nesses momentos difíceis pelos quais estamos passando.

LAILA ALVES DE SOUZA

O ofício do terapeuta pode ser bastante solitário se ele não buscar espaços de troca, diálogos e acolhimento. Neste texto compartilhamos nossas experiências para incentivar que os amigos do Não Palavra busquem grupos que possam potencializar sua jornada como terapeutas. Após este ano de profundas experiências, podemos afirmar: vale a pena!


Referência:

MORAES, Eliana. Pensando a Arteterapia, volume 1. 
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Sobre as autoras: Eliana Moraes 

Arteterapeuta e Psicóloga.

Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte.
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia. 
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia. Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Selma Lessa
Psicóloga/ Psicologa Socorrista/ Arteterapeuta/ Especialista Junguiana/ Instrutora de Yoga Integral/ Artista Visual/ Acima de tudo apaixonada pelo Ser Humano.
Patrícia Serrano
Psicóloga 
Arteterapeuta em formação 
Pós-graduada em Psicologia Hospitalar pela FIOCRUZ
Atendimentos clínicos individuais
Atualmente compõe a Equipe Não Palavra na gestão dos materiais e eventos

Laila Alves de Souza

Psicóloga
Pós- graduada em psicologia clínica na abordagem da Psicologia Analítica.
Atendimentos clínicos pela abordagem da Psicologia Analítica no Rio de Janeiro.

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