Por Cristiane de Oliveira - RJ
crisarteterapia@hotmail.com
"Ah! Se o mundo inteiro me pudesse
ouvir
Tenho muito pra contar
Dizer que aprendi
E na vida a gente tem que entender
Que um nasce pra sofrer
Enquanto o outro ri
Mas quem sofre sempre tem que procurar
Pelo menos vir achar
Razão para viver
Ver na vida algum motivo pra sonhar
Ter um sonho todo azul
Azul da cor do mar”
Tenho muito pra contar
Dizer que aprendi
E na vida a gente tem que entender
Que um nasce pra sofrer
Enquanto o outro ri
Mas quem sofre sempre tem que procurar
Pelo menos vir achar
Razão para viver
Ver na vida algum motivo pra sonhar
Ter um sonho todo azul
Azul da cor do mar”
Tim Maia
“Quem canta seus males espanta”, diz o ditado. O que esse ditado representa tem fundamento, a música tem grande poder nos aspectos sociais, biológicos e emocionais do indivíduo. A música permeia a vida dos seres humanos desde sempre. Já no ventre da mãe, o bebê é capaz de ouvir e sentir a música, por isso é indicado que a mãe ouça canções e cante para seu bebê, gerando neles vários estímulos. Esses estímulos musicais vão se agregando ao longo da vida. A neurociência afirma que a parte do cérebro que não é afetada pelas demências como Alzheimer é a que armazena música. Por incrível que pareça, a memória musical não é afetada e, quando acessada, é possível “trazer a tona” sensações, sentimentos, lembranças que refletem no corpo. Assistindo ao documentário “Alive Inside”, foi possível ver as reações diversas de idosos em vários estágios do Alzheimer. Até o mais afetado reage com espasmos musculares em resposta à música ouvida.
Eu já era sabedora do poder
da música, dos ótimos efeitos no cérebro, no físico e na alma, entendia
que quem aprende um instrumento tem o desenvolvimento do cérebro diferente.
Sabia que ouvir música faz o cérebro “acender várias luzes” (podendo ser
observado em ressonância magnética) e, dessa maneira, tocar um instrumento
faz o cérebro parecer uma noite de fim de ano, com fogos de artifício
estourando por toda parte. Ver então essa reação nos idosos do
documentário só fomentou ainda mais o desejo de trabalhar com música na minha
prática em Arteterapia.
Além disso tudo, a música tem
caráter lúdico, permitindo a interação com o outro, promovendo
descontração e auto-expressão. Sendo também uma ótima ferramenta para retomar
movimentos corporais e, ao mesmo tempo, fazer um resgate da sua memória. O
melhor, então, foi experimentar tudo isso na prática. Dessa forma,
escutar músicas, cantar, criar instrumentos de sucata e tocá-los, jogos
musicais e criar produções plásticas baseadas em música são algumas das
atividades nas sessões arteterapêuticas. Nessas sessões, então, pude vivenciar
a ação da música sobre os longevos. Primeiro é o canto, ao ouvirem as músicas
de sua época, todos, inclusive os mais desconectados, recordam a melodia
e cantam. Observa-se nesses integrantes um certo despertar e maior
interação com o grupo. Cantam no seu ritmo, no seu tempo, mas
cantam. Os demais vão relembrando e solicitando outras canções, querem dançar,
relembram histórias. Percebe-se também a formação de vínculo entre os integrantes
e a arteterapeuta; a disponibilidade para ouvir o outro; uma boa integração do
grupo; o resgate de lembranças, trazendo uma auto-valorização, interesse e
prazer em participar das atividades propostas.
Desse modo, a música
permite ao longevo reordenar-se no tempo, não só recordando o passado, mas
percebendo-se no presente sendo possível reafirmar o valor de suas próprias
vivências. A música na Arteterapia propicia
a expressão de emoções, o desenvolvimento da criatividade, ajudando
a ampliar as perspectivas de vida e o bem estar através do
fortalecimento das interconexões cerebrais. Portanto, vamos abrir espaço
e permitir que os longevos soltem a voz e a alma.
“Quando eu soltar a minha voz
Por favor, entenda
Que palavra por palavra
Eis aqui uma pessoa se entregando
Coração na boca
Peito aberto
Vou sangrando
São as lutas dessa nossa vida
Que eu estou cantando
Quando eu abrir minha garganta
Essa força tanta
Tudo aquilo que você ouvir
Esteja certa
Que estarei vivendo
Veja o brilho dos meus olhos
E o tremor nas minhas mãos
E o meu corpo tão suado
Transbordando toda a raça e emoção
E se eu chorar
E o sal molhar o meu sorriso
Não se espante, cante
Que o teu canto é a minha força
Pra cantar
Quando eu soltar a minha voz
Por favor, entenda
É apenas o meu jeito de viver
O que é amar”
Gonzaguinha
Referências:
DOCUMENTÁRIO "ALIVE INSIDE"
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Sobre a autora: Cristiane de Oliveira
Formada em Pedagogia(UFF), Psicopedagogia (UNESA), Arteterapia (POMAR), cursando Pós Graduação em Arteterapia (POMAR)
Atuação em Arteterapia com adultos e idosos (individual e grupo), atendimento em domicílio e instituições.
Este é o segundo texto escrito por Cristiane para o blog Não Palavra. Veja o primeiro AQUI
Excelente texto! A música me emociona. Gratidão Cristiane por compartilhar sua experiência!
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