Por Janaína de Almeida Sérvulo
janainaservulo@gmail.com
Entre
tantas técnicas utilizadas na arteterapia, tenho um encantamento especial pelas
mandalas e será sobre elas que irei falar hoje. O texto a seguir foi elaborado
a partir da minha apostila do curso “Oficina de Mandalas”, voltado para
profissionais da saúde e da educação, e para o público em geral interessado no
autoconhecimento.
A
palavra mandala vem do sânscrito (língua antiga falada na Índia) e aparece em
alguns dicionários como substantivo masculino, significando centro, círculo
mágico, símbolo de totalidade e harmonia e da integração do homem com o cosmos. Pelo costume e para evitar o estranhamento
geral, optei por usar aqui o feminino, uma vez que é assim também que a palavra
se apresenta na maior parte da literatura sobre o assunto.
Em
muitas culturas, as mandalas fizeram parte da expressão religiosa e artística,
sendo observadas desde as pinturas rupestres (arte pré-histórica). Já na área
terapêutica, foi Carl Gustav Jung, psiquiatra suíco, o primeiro a utilizá-las
enquanto instrumentos que facilitam a estruturação psíquica.
Durante
os anos de 1918 a 1919, Jung fez mandalas diariamente e percebeu que, sempre
que estava em conflito, desenhava uma mandala alterada. Dia a dia, foi
observando sua transformação psíquica e percebeu que este instrumento tinha uma
eficácia dupla: conservava a ordem psíquica se ela já existia, ou ajudava a
restabelecê-la quando ela havia desaparecido.
No
cenário brasileiro, Nise da Silveira, psiquiatra precursora no uso da arte nos
hospitais psiquiátricos do Rio de Janeiro, observou que essas formações
circulares eram muito comuns nas produções artísticas dos seus pacientes
esquizofrênicos. Correspondendo-se com Jung, este não teve dúvida que as imagens
enviadas por Nise eram mandalas, e que “representavam, no seu ponto de vista, o
potencial autocurativo da psique, mobilizado espontaneamente como uma forma
natural e não consciente de compensar a dissociação vivida pelos indivíduos que
as configuravam”.
Minha
história pessoal com as mandalas começou há muitos anos atrás... Inicialmente, eu
apenas admirava a beleza e a simetria perfeita destes “círculos mágicos” que,
só de olhar, já me acalmavam. Afinal, não é à toa que são muito utilizadas nas
meditações e nos rituais de cura...
Mas
construir minha própria mandala foi uma experiência intensa e transformadora. Aos
poucos, pude perceber que, enquanto eu desenhava, pintava ou colava sementes
buscando um traçado organizado e harmônico, meus pensamentos se organizavam e
meus sentimentos se harmonizavam. E para cada detalhe que eu precisava
reproduzir ao redor do círculo diversas vezes, era necessário um exercício de
paciência, atenção, concentração e persistência...
As
primeiras não foram fáceis. A autocrítica era implacável e me dizia que não
estavam perfeitas, e foi aí que começou meu diálogo com elas... E como elas me
ensinaram! Com umas, aprendi que era preciso arriscar mais. Ousar com cores
diferentes, formas menos delicadas... Já outras insistiam numa verdadeira
explosão de energia e cores, sinalizando em outro momento que era preciso
voltar ao meu centro. Em algumas, percebi claramente símbolos surgindo do
inconsciente, como recados claros do que eu precisava aprimorar.
Trabalhar
com mandalas é, acima de tudo, um diálogo franco consigo mesmo. É exercitar a percepção
e a criatividade, e começar a conhecer faces de você mesmo que não viriam à
tona de outra forma. Por isso é um recurso tão valioso para ser utilizado na
prática clínica, tanto na psicologia como na arteterapia, facilitando a
expressão das emoções, a materialização de conflitos e a organização psíquica.
Na educação também, afinal, através delas, é possível trabalhar desde a coordenação
motora até habilidades fundamentais ao processo de aprendizagem, como
percepção, atenção, concentração e persistência.
E
você, o que está esperando? Não perca tempo! Experimente e descubra como pode
ser transformador construir a sua!
Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
Referências
Bibliográficas:
JUNG,
Carl Gustav. Memórias, sonhos e
reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
JUNG,
Carl Gustav. O Homem e seus Símbolos.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
MELLO,
Luiz Carlos. Nise da Silveira:
caminhos de uma psiquiatria rebelde. Rio de Janeiro: Automática Edições LTDA,
2014.
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Sobre a autora: Janaína de Almeida Sérvulo
Graduada em Psicologia pela UFMG, com especialização em Arteterapia pela FAVI, em convênio com o INTEGRARTE.
Atua como psicóloga e arteterapeuta em clínica particular em Belo Horizonte-MG e na rede pública da região metropolitana. Experiência de mais de 15 anos com atendimento individual e em grupo a crianças, adolescentes e adultos.
Para conhecer mais sobre seu trabalho, visite a página do facebook: @artisticamente7
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Este é o segundo texto escrito por Janaína para o Não Palavra.
Para ler o primeiro texto CLIQUE AQUI
Amei o texto sobre a mandala!
ResponderExcluirRealmente ao criarmos uma mandala nos conectamos com nosso interior.
Ao realizar trabalho com os grupos percebo como as pessoas ficam bem conectadas e em um silêncio profundo.
Parabéns Janaína Sérvulo!
Parabéns Eliana por esta bela iniciativa de trocas.
Obrigada,Luciana! Realmente, trabalhar com mandalas é transformador!
ExcluirSempre admirei as imagens cores e formas das mandalas. Como faço artesanato, resolvi arriscar-me na produção para venda... Doce ilusão!!! Mandalas exigem um esforço psíquico que não me permitem produzi-las em serie, de maneira comercial. Cada uma é especial e única. Amo f continuo produzindo, e quem as compra leva consigo um pouquinho de toda energia desprendida na sua confecção!
ResponderExcluirVerdade! Cada mandala é um lindo e único caminho que se percorre! Gratidão pelo depoimento!
ExcluirImagens lindas e um texto produzido de forma concisa e esclarecedora! Obrigada, Janaina, por compartilhar conosco sua trajetória com as mandalas!
ResponderExcluirObrigada!
ExcluirSim, Janaína: "[...meus pensamentos se organizavam e meus sentimentos se harmonizavam..]" e o caminho surge, a seguir. Realmente, há uma bela integração! Parabéns! Bjs.
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