Por Juliana Mello - RJ
Sr.
Miyagi: Confie na sua intuição.
Daniel:
E como vou saber se é o certo?
Sr.
Miyagi: Se vier de dentro de você é sempre certo.
(Karate
Kid: A Hora Da Verdade,1984)
No texto anterior falei um pouco
sobre as emoções e a importância da regulação emocional. É importante
flexibilizarmos a nossa forma de sentir emoções. Por exemplo, em uma situação
de perigo ou catástrofe é importante regular a emoção e ativar o pensamento
mais racional, para um comportamento mais adequado e seguro possível. Por outro
lado, em uma situação agradável, como conquistar um objetivo (fazer exercícios,
passar em uma prova), sentir a emoção de forma intensa fortalece nossas
memórias afetivas e a forma como nos percebemos. Esse equilíbrio entre sentir e
expressar as emoções com consciência é o que chamamos de Inteligência
Emocional, e ela se desenvolve justamente por meio da Regulação Emocional.
De acordo com as emoções
desagradáveis adotamos comportamentos disfuncionais, que em muitos casos,
reforçam as sensações “ruins”: esquiva (evitar ou fugir da situação
estressora), compensação (descontar as emoções em ingestão de comida e/ou
bebidas), ruminação (ficar preso em pensamentos repetitivos e negativos) e a
manutenção (ações automáticas que só reforçam o estado emocional difícil). De
acordo com Leahy e seus colaboradores:
“Expressão
e validação são úteis na medida em que normalizam, melhoram a compreensão,
diferenciam várias emoções, reduzem a culpa e a vergonha e ajudam a aumentar a
crença na tolerabilidade da experiência emocional” (2013).
Ou seja, o objetivo não é
deixar de sentir, mas acolher, aceitar e expressar de forma funcional,
aprendendo a lidar com o que sentimos e reconhecendo os sinais que o corpo nos
dá.
Para relembrar nosso
funcionamento na TCC:
- Pensamento: automático, surge sem nosso
controle — como se “caísse” na nossa mente.
- Sentimento/emoção: também não controlamos
o que vamos sentir, pois ela está conectada ao pensamento. Mas é possível
aprender a regular a intensidade.
- Comportamento: aqui está nosso ponto de
escolha. Entendendo como pensamos e sentimos, podemos decidir agir
conscientemente, em vez de apenas reagir.
A TCC nos ajuda a
ressignificar pensamentos, emoções e comportamentos, ampliando a forma como
percebemos e lidamos com as situações. Ressignificar é um processo, e
exige dedicação ao autoconhecimento. Quanto tempo você pensa, sente e se
comporta da maneira atual? Lembre-se: se você age de um certo jeito há muito
tempo, não se cobre mudanças da noite para o dia. Mas mudança pode acontecer
antes do que você imagina, desde que você se comprometa com você mesmo(a).
Mas, na prática, como podemos
trabalhar isso?
A Terapia
Cognitivo-Comportamental nos oferece várias técnicas eficazes, que podem nos
auxiliar:
-Treinamento de habilidades
emocionais na psicoterapia: O processo terapêutico é um espaço seguro para
aprender como funcionamos emocionalmente. Ali, vamos identificando padrões e treinando,
na relação terapêutica segura, novas formas de agir e reagir.
- Flexibilidade cognitiva:
que é a habilidade de ver uma situação por vários pontos de vista, adaptar
nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos diante de mudanças e
imprevistos, deixando de lado uma ideia fixa quando ela já não serve mais e
tentar novas estratégias. Favorece o uso da reestruturação cognitiva.
- Reestruturação Cognitiva:
Técnica terapêutica de identificar, questionar e reformular pensamentos. É um
método estruturado para mudar crenças disfuncionais.
- Reavaliação dos
resultados: É um momento de pausa para refletir: qual era meu objetivo? O
que fiz para alcançá-lo? Quais foram os resultados? Ao identificar o que
funcionou (ou não) através de evidências (fatos inquestionáveis), podemos
ajustar rotas, criar novas estratégias e fortalecer o autoconhecimento. Avaliar
e criar estratégias mais adequadas, auxilia na regulação emocional, pois é
possível acessar previamente momentos que podem ser desregularizadores.
- Escrever: Auxilia a
não perder o controle da situação, dando tempo para pensar. Colocar no papel o
que se passa na cabeça ajuda a organizar os pensamentos e as emoções. Não
precisa se preocupar com ortografia ou estrutura — é uma escrita livre e
criativa, que serve como canal de expressão e autorregulação.
- Respiração consciente:
Uma sugestão simples: inspire contando até 4, segure por 2 segundos e expire
contando até 4. Mãos sobre a barriga ajudam a perceber o movimento. Outra opção
é usar os dedos (indicador e mínimo) para alternar as narinas ao inspirar e
expirar. São técnicas que ajudam a regular a intensidade emocional.
- Mindfullness (Atenção
Plena): Muito utilizado atualmente, o mindfulness ajuda a nos manter no
presente, o que é essencial para lidar com ansiedade (futuro) e depressão
(passado). Podemos meditar até nas pequenas atividades do dia: ao beber água,
tomar banho, lavar louça ou caminhar. Recomendo sempre o vídeo no YouTube
chamado “Meditação em um minuto”, que mostra como meditar de forma prática é
possível, quebrando a ideia de que meditar é parar tudo e “esvaziar a mente”.
Como reconhecer que é hora de
usar uma técnica de regulação emocional?
Tudo começa com reconhecer que
estamos sentindo algo. O corpo sempre dá sinais — quanto mais intensa a emoção,
mais evidente será a resposta fisiológica (como sudorese, taquicardia, tensão
muscular, etc). Esses sinais são como um termômetro emocional. Ao percebê-los,
conseguimos escolher qual técnica aplicar naquele momento.
É importante destacar: as
técnicas precisam ser praticadas mesmo quando você estiver bem, para que o
cérebro registre e torne essas estratégias mais acessíveis e naturais no
momento de crise
E quando o emocional
“explode”? Técnicas emergenciais:
- Mudança de foco: olhe ao
redor e descreva o ambiente. Note as cores, os objetos, o número de móveis,
pessoas ou sons. Isso ajuda a "aterrar" sua atenção e reduzir a
intensidade emocional.
- Gelo nas mãos: segure
um cubo de gelo enrolado num pano. A sensação térmica ajuda a mudar o foco e
traz o corpo de volta para o presente.
- Atividade física: Uma
caminhada rápida, pular corda ou dançar pode ajudar seu cérebro a sair do “modo
alerta”. A atividade física libera substâncias que reduzem a tensão e trazem
bem-estar. Além disso, o movimento desvia o foco da mente para o corpo,
favorecendo o retorno ao presente e interrompendo ciclos de ruminação ou
pensamentos catastróficos."
E como a Arteterapia auxilia
na regulação emocional, inclusive como técnica emergencial?
a Arteterapia também pode ser
uma estratégia eficaz em momentos de desregulação emocional.
Quando colocamos nossas
emoções em forma de desenho, colagem, pintura ou escrita espontânea, ativamos
áreas do cérebro relacionadas ao autocontrole e à autorregulação.
Além disso, o ato de criar nos ajuda a sair do piloto automático, focar no
presente e processar sentimentos de maneira segura e simbólica. Não é preciso
“saber desenhar” — o que importa é permitir que o corpo e a emoção se
expressem, sem julgamento. O movimento do pincel, o rasgar do papel ou o toque
do lápis já são formas de ‘esvaziar’ o que está sobrecarregado internamente.
Também não é preciso saber escrever, a ideia não é fazer uma redação, mas
expressar livremente os conteúdos internos.
Uma outra forma é escolher uma
música, cantar e dançar de forma livre, além de criar movimentos livres em uma
folha de papel. Posteriormente, pintar os espaços com as cores que as emoções
representam naquele momento, de formar a mapear, organizar e regular a
intensidade das emoções presentes.
“Você
não pode impedir que as ondas cheguem, mas pode aprender a surfar” (Jon
Kabat-zinn – criador do Mindfulness baseado na redução de estresse)
Bibliografia:
LEAHY, Robert L.; TIRCH,
Dennis; NAPOLITANO, Lisa A. Regulação Emocional em Psicoterapia: um guia
para o terapeuta cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed, 2013.
KOTSOU, Ilios. Caderno de
exercícios de inteligência emocional. Coleção cadernos: praticando o
bem-estar. 4ª edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2017.
KOTSOU, Ilios. Caderno de
exercícios de Atenção Plena. Coleção cadernos: praticando o bem-estar. 4ª
edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2017.
SMEDT, Marc de. Caderno de
exercícios de meditação no cotidiano. Coleção cadernos: praticando o bem-estar.
5ª edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2016.
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Sobre a autora: Juliana Mello
Psicóloga, Arteterapeuta e Coach