Patrícia Paladino – SP
@patriciap.arteterapia
Talvez você ache que eu já tenha todas as respostas.
Eu mesma já quis acreditar nisso.
Mas a verdade é que, todos os dias, também estou aprendendo a me escutar.
Existe um mito silencioso que paira sobre os terapeutas: o
de que estamos sempre bem, emocionalmente equilibrados, quase imunes às
turbulências da vida. Como se o fato de trabalharmos com o sofrimento alheio
nos blindasse do nosso próprio. Mas não é assim.
Eu sou arteterapeuta. E sou humana.
Tenho dias bons e dias ruins. Tenho dúvidas, dores, sombras. E sigo, como
todos, em constante construção.
Acredito que a terapia é uma via de mão dupla. Enquanto
alguém se permite ser visto, algo em mim também se transforma. Não estou no
controle. Não sou um oráculo. E definitivamente não estou num pedestal.
O que faço, com presença e cuidado, é caminhar ao lado. Segurar a lanterna por
um momento. Oferecer um espelho simbólico, uma imagem, uma cor. E, se for
possível, construir um espaço seguro onde a alma possa respirar e se despir.
Jung dizia:
“Conhecer a própria escuridão é o melhor método para lidar
com as trevas dos outros”
E eu não poderia concordar mais.
Como escreveu Beatriz Helena Paranhos Cardella:
“O psicólogo oferece o colo que
aninha, o ombro que consola, a mão que encoraja, o discernimento que guia.
Mesmo que em seu interior ele careça de tudo isso. [...] Para tanto, precisa de
coragem. Uma coragem imensa. Um desprendimento admirável. Uma humildade
encarnada – não virtuosa, mas condição necessária para exercer seu ofício com
alguma dignidade” (CARDELLA, 2023, p. 241).
Se há algo que aprendi nesses caminhos é que ninguém cura
ninguém, mas todos podemos ser testemunhas do crescimento do outro. E, ao
sermos tocados por esse processo, também crescemos por dentro.
Ser arteterapeuta, para mim, é um compromisso com o outro,
mas também comigo mesma. Com a honestidade de continuar me olhando. Com a
humildade de saber que ainda estou em processo.
E com a confiança de que, mesmo imperfeita, posso ser instrumento de cuidado,
afeto e transformação.
Como ela também diz:
“Sua precariedade pode estar a
serviço do semelhante. Sua fragilidade carrega uma sabedoria sobre a condição
humana – e esta mesma sabedoria pode ajudar um outro humano a recordar-se da
potência presente em sua fragilidade” (CARDELLA, 2023, p. 44).
Se hoje eu caminho ao lado de outras pessoas, não é porque
cheguei a algum lugar.
É porque aprendi que podemos seguir juntas.
E que o verdadeiro encontro se dá não quando um sabe mais que o outro, mas
quando ambos se permitem ser humanos.
Trabalhar a partir da própria humanidade muda tudo. Muda a
escuta, que se torna mais sensível. Muda o olhar, que deixa de buscar respostas
prontas. E muda o espaço terapêutico, que deixa de ser um lugar de correção
para se tornar um lugar de criação, escuta e acolhimento.
E isso só acontece quando há confiança. Quando o outro sente
que não está sendo analisado, mas acolhido. Não estou ali para interpretar tudo
o que é feito, mas para testemunhar o que se revela. E, às vezes, o mais
importante é simplesmente sustentar o silêncio.
Referências
CARDELLA, Beatriz
Helena Paranhos. O Curador Ferido e a Clínica Contemporânea. Amparo: Gráfica
Foca, 2023.
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Sobre a autora: Patrícia Paladino
AATESP 984/0823
Arteterapeuta com formação pela USCS (Universidade de São Caetano do Sul) com
especialização em psicologia analítica pela mesma universidade.
Ofereço Atendimentos individuais para adultos (on-line e presenciais em São
Caetano do Sul), grupos arteterapêuticos
e vivências criativas.
Contato:
Instagram : @patriciap.arteterapia
E-mail: patriciap.arteterapia@gmail.com
O que é legal na Arteterapia é ter o espaço para criar se enxergando, tudo que as vezes precisamos é de alguém para ouvir nossa dor sem julgamento.
ResponderExcluirReflexão necessária.
ResponderExcluirEsquecemos que o terapeuta que está nos ajudando diante das nossas dificuldades emocionais, talvez também passa pelas mesmas inseguranças, traumas...
ResponderExcluirEntre um encontro e outro, muitas vezes esquecemos que o terapeuta, antes de tudo, é um ser humano.
Não tem todas as respostas, nem carrega soluções mágicas para os nossos problemas.
Ele nos orienta, aponta caminhos, mas a verdadeira transformação vem de dentro de nós.
Enquanto nos ajuda, também carrega emoções, histórias e desafios.
Por isso, mais do que nunca, ele também precisa de cuidado.
Texto interessante que me tirou algumas dúvidas. Uma delas era que se os terapeutas faziam uma auto terapia, entendi que precisam de terapia tanto quanto todos.
ResponderExcluirParabéns Patrícia pelo texto esclarecedor e intrigante.
Elizio
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