“A
cor é um meio de exercer influência direta sobre a alma: a cor é a tela, o olho
é o martelo, e a alma é o piano com suas cordas”.
– Wassily Kandiski –
Por Juliana Mello - RJ
Como
mencionei anteriormente, além do elemento água, também podemos trabalhar a
regulação emocional por meio das cores. Esse recurso expressivo costuma ser uma
das formas mais confortáveis para que o paciente manifeste aquilo que, muitas
vezes, as palavras não conseguem traduzir: o que está sentindo.
Sabemos que existe uma
infinidade de emoções, muito mais do que as cores disponíveis na paleta. Por
isso, é importante lembrar que cada cor pode “falar” sobre um sentimento
diferente de acordo com a experiência e percepção de cada pessoa. Em outras
palavras, a cor é subjetiva. Por exemplo: o vermelho pode representar amor,
vitalidade, mas também sangue ou alerta; o preto pode remeter ao luto e à
perda, mas também à elegância, sendo muito usado em roupas; o rosa pode estar
associado ao feminino, mas também à delicadeza ou à infância. Eva Heller,
especialista em teoria das cores, relata que:
“Não existe cor destruída de significado. A
impressão causada por cada cor é determinada por seu contexto, ou seja, pelo
entrelaçamento de significados em que a percebemos”. (2013)
De acordo com Maria
Cristina Urrutigaray, professora e psicóloga Junguiana:
“O mundo constitui-se pelas cores. Quando
acordamos e abrimos os olhos, a primeira coisa que vemos são as cores, através
de tons e sombreados, que nos dão tons ou qualidades afetivas as nossas
percepções em função da luminosidade existentes”. (2017)
Trabalhadas
no setting terapêutico, as cores podem dar contorno às emoções, especialmente
quando estas se apresentam muito expansivas, intensas ou difíceis de regular.
Isso pode acontecer por meio de imagens pré-estabelecidas, papéis com texturas
mais “ásperas”, entre outros recursos que oferecem limites e estrutura. Da
mesma forma, o inverso também é possível: quando as emoções estão muito
contidas, retraídas ou parecem “presas”, as cores podem favorecer a expansão e
a expressão, principalmente quando utilizadas junto a materiais que envolvem o
elemento água, como guache, aquerela e nanquim. Neste contexto, a Arteterapia
auxilia, de forma profunda e de acordo com a demanda de cada paciente, o
trabalho com as cores, ocupando um papel central como mediadora simbólica das
emoções.
No processo terapêutico,
solicitamos que o paciente passe um tempo em contato com as cores, selecionando
aquelas que melhor representam as emoções que está sentindo no momento, ou
mesmo emoções vivenciadas anteriormente e trazidas para a sessão. Se houver
dificuldade em nomear uma cor para cada emoção, o paciente pode simplesmente
escolher a cor que “chama”, atrai ou convida, confiando na própria experiência
interna.
Ao colorir a imagem, de
modo simbólico, imagina-se que essas emoções estão sendo colocadas no papel,
ganhando forma e concretude. Algumas perguntas que podem ajudar nesse processo
são:
·
Que forma tem esse sentimento?
·
Qual é a sua intensidade?
·
Como ele deseja se expressar?
·
Tem forma concreta ou é mais
abstrata?
Alguns materiais que podem ser utilizados com foco nas
cores: papéis coloridos, miçangas, botões, tecidos, lã, lápis de cor, giz de
cera, canetinha, embalagens coloridas, etc.
Integrada à Terapia Cognitivo-Comportamental, a
exploração das cores pode favorecer insights para identificar pensamentos e
comportamentos, além de trabalhar atenção, foco, escolhas e práticas de Atenção
Plena. Frequentemente, os pacientes relatam um alívio emocional, contribuindo
assim para a Regulação Emocional.
Seguem abaixo algumas
práticas trabalhadas com foco nas cores:
Desenho com lápis
pastel oleoso em papel Kraft
Mandala com lápis de cor
Colagem em papel colorido
Frotagem e lápis de cor
Lápis de cor na forma
Ao unir Arteterapia e TCC,
ampliamos as possibilidades de compreensão, regulação e transformação emocional
dentro do processo terapêutico.
Bibliografia:
COUTINHO,
Vanessa. ARTETERAPIA COM CRIANÇAS. Rio de Janeiro: Wak editora, 4ª edição,
2013.
HELLER, Eva. A PSICOLOGIA DAS CORES: COMO AS CORES AFETAM A EMOÇÃO E A
RAZÃO. São Paulo: Editora GG, 1ª edição, 2013.
URRUTIGARAY, Maria Cristina. INTERPRETANDO IMAGENS, TRANSFORMANDO
EMOÇÕES. Rio de Janeiro: Wak Editora, 1ª edição, 2017.
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Sobre a autora: Juliana Mello
Psicóloga, Arteterapeuta e Coach






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