terça-feira, 27 de maio de 2025

ESCOLHAS E O MEDO DA FRUSTRAÇÃO - TCC E ARTETERAPIA



Por Juliana Mello - RJ

@vivendotccearte 

Seguindo com o tema escolhas, uma das principais queixas que percebo no consultório é o de fazer uma escolha e esta “dar errado”, não ser exatamente como planejada e isso causar frustração, que é um sentimento super desagradável. No Livro Emocionário podemos encontrar a seguinte definição para frustração: “É o mal-estar e o aborrecimento que nascem quando você não consegue fazer algo que desejava ou quando as coisas não acontecem como você esperava”.

Muitas vezes, as coisas não acontecerem como planejada, não significa que não se alcançou o objetivo, porém o pensamento rígido sobre algo faz com que o nosso foco fique em uma única possibilidade de acontecimento. Muitas vezes não são as escolhas que causam a frustração (“Ah! Se não saiu exatamente como eu planejava, fiz uma escolha errada!”), mas, sim, a forma como reagimos ou interpretamos elas.

O primeiro passo a ser trabalhado na Terapia Cognitivo-Comportamental é naturalizar os sentimentos e o desconforto que alguns podem gerar. Os sentimentos não são nossos inimigos, mas termômetros para nos indicar alguma coisa em determinada situação. E a frustração quer dizer que algo não saiu como planejado ou não aconteceu. Como não ter desconforto com isso? Mas, ao perceber essa emoção, é possível trabalhar na resolução de problemas, com mudanças de estratégias.

Fazer os prós e os contras sobre as situações e, posteriormente, se pensar em quais resultados podem ser alcançados com as escolhas, também ajudam a reduzir o desconforto, caso algum tipo de frustração possa ocorrer. Porém, é importante ressaltar que é na ação que podemos ir analisando as possibilidades.

No início do ano, ocorreu a primeira atividade do grupo Quiron, um grupo voltado para Arteterapeutas, orientado pela Eliana, do  blog “Não Palavra”. Achei a atividade super interessante e nela foi possível perceber alguns pensamentos gerados pela frustração.

A primeira etapa da atividade consistia em escrever 2025 em um papel e recortar. As imagens abaixo foram apresentadas pela Eliana, para exemplificar como poderia ser feito:

 


 


 Aqui, já era possível vivenciar um pouquinho de frustração, pois os números não saíram tão certinhos como eu imaginava. Porém eu poderia escolher continuar, ou parar. Continuei.

 


 O próximo passo foi colar os números em papel A3, na posição que desejasse, como durex ou fita, trazendo cores para o 2025. Minha pintura, inicialmente, começou a “dar errado”, a “borrar”, porque eu não colei os números direito, a forma como eu pintava, em alguns momentos passava por baixo do número. Alguns pensamentos começaram a surgir: “Ixi, não vai dar certo!”, “meus números vão ficar sem forma, pois estão saindo do molde”, “o desenho que eu pensei não vai sair certo.” E eu poderia ter paralisado com o medo de me frustrar com o resultado. Mas percebi meus pensamentos, no instante em que estava realizando a atividade e mudei de estratégia, coloquei mais durex para segurar os números e mudei a direção de como eu pintava. E o resultado foi:

 

                                                                                                

Algumas manchinhas ficaram nos números, porém eu amei o resultado. Coloquei o foco, não no que não tinha saído como eu pensava, mas na conclusão do meu resultado, que gostei muito. A Arteterapia auxiliou na identificação dos pensamentos, de forma lúdica e ativa, permitindo ressignificar e escolher a forma como eu gostaria de agir, auxiliando na flexibilização cognitiva..

Aaron Beck, um dos fundadores da TCC, escreve:

 “Se nosso pensamento fica atolado de significados simbólicos distorcidos, pensamentos ilógicos e interpretações erradas, nos tornamos, de verdade, cegos e surdos.”²

 

 

Bibliografia:

² As 8 melhores frases de Aaron Beck. Disponível em: https://amenteemaravilhosa.com.br/as-8-melhores-frases-de-aaron-beck/ Acesso em 30/01/2025.

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Sobre a autora: Juliana Mello



Psicóloga, Arteterapeuta e Coach

Atendimento clínico  individual e grupo om criança, adolescente, adulto e idoso.
Abordagem em Terapia Cognitivo- Comportamental e Arteterapia

Palestras e Workshop motivacionais.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS COMO RECURSO ARTETERAPÊUTICO





Por  Erika Coracini - SP

 erikacoracini22@gmail.com

 @erika.coracini

A contação de histórias tem permeado os percursos arteterapêuticos conduzidos por mim: a história narrada como ponto de partida para uma criação artística, e para o reconhecimento e a elaboração de um sentimento ou de um conflito em questão. 

Quem ouve histórias imagina os personagens e as situações de acordo com as experiências que já vivenciou. O sujeito se projeta nas situações vividas pelas personagens, e através desta projeção consegue identificar sentimentos e reações suas na história contada. Assim, o sujeito tem maior facilidade em elaborar e em expor seus sentimentos, seja pela palavra ou por imagens simbólicas. 

Segundo Bonaventure (1992), os contos nos mostram como os personagens processaram conflitos como os da infância, da adolescência, os grandes problemas da existência, e como a sabedoria popular os resolve. Há como que um encantamento, um efeito observável e também misterioso, vindo de sua linguagem mágica. 

As histórias e contos representam o universo simbólico e os problemas da humanidade, pois trazem sentimentos, conflitos e inquietações que permeiam o pensamento de todos: cada história apresenta, através da narrativa do personagem, uma maneira de resolver esses conflitos e assim humaniza os desafios vividos por todos. 

É com este intuito que a história está presente no setting terapêutico: o paciente se reconhece e através da materialização artística proposta em seguida, pode elaborar como aquela história perpassa sua vida e seus conflitos. A possibilidade do sujeito se identificar e a percepção de não estar sozinho, alivia e impulsiona o sujeito a elaborar e encontrar caminhos para si. 

“Outro aspecto importante a ser destacado, quanto aos benefícios do uso terapêutico dos contos ou histórias infantis, é a melhora na comunicação e capacidade de expressão, à medida que as narrativas auxiliam o processo cognitivo de construção do verbal, levando as crianças a criarem suas próprias histórias, enriquecendo a vida imaginária, ampliando assim, as possibilidades de representar afetos e conteúdo emocional. “ (MARTINS, 2020, p. 17) 

Ler e ouvir histórias faz o sujeito pensar em si mesmo, muitas vezes entrando em contato com sentimentos e conflitos difíceis de lidar. Segundo Perrow (2013, p. 16), as histórias são poderosas pois trazem à tona emoções internas e questões presentes em todas as pessoas, seu trabalho é invisível, sem se darem conta as pessoas identificam-se e transformam-se junto com as personagens e o enredo da história. 



O livro Vestido de Menina de Tatiana Filinto e Anna Cunha por exemplo, tem proporcionado boas vivências terapêuticas na minha clínica. O livro conta a história de uma menina que tem um vestido feito de muito fios diferentes, durante a história ela vai se dando conta que os fios nasciam de conversas ouvidas na sua casa, fios ora compridos, ora truncados, fios nascidos nas gargalhadas do dia a dia familiar, alguns grossos e cheios de nós, e assim, pouco a pouco seu vestido foi crescendo junto com ela, e a menina vai se dando conta que alguns fios pesados não são dela, percebe que às vezes seus fios se emaranham nos fios de outras pessoas, e por fim, a menina, crescida, se dá conta de que pode se tornar ela mesma a narradora da história dos fios que compõem o seu vestido. 

A primeira pergunta que o livro nos traz é “com quantos fios se faz uma história?”. A partir desta pergunta, propõe-se que cada um escolha um fio comprido que representa a sua própria história, em seguida, vem o convite para se dançar com o fio da história de cada um, até que o fio trace um caminho numa folha de papel. Quase sempre o fio ganha alguns nós durante a dança. O caminho/fio é observado pelo paciente e ele escolhe um trecho para representar uma cena de sua história pessoal. E assim, o paciente se apresenta à partir daquela memória. 

Essa história reaparece instigando outras perguntas no setting: “quais fios carregamos que não são nossos?”; ou “ como a história da minha infância foi compondo o vestido que eu uso para estar no mundo?; ou “como podemos pegar nas mãos este fio e sermos enfim narradores da nossa própria história?” Assim, cada paciente vai trazendo seu olhar, e cada pergunta vai trazendo novas perguntas para o processo terapêutico. 

Através da Arteterapia embalada por histórias, é possível revelar e desbloquear o potencial criativo do paciente e estimular sua capacidade de identificar e expressar suas emoções. Assim, mesmo diante da dificuldade de acessar o afeto e a entrega, as histórias trazidas, propõem aos pacientes um exercício de autorregulação e gerenciamento dos inúmeros sentimentos que vivenciam todos os dias. 

De acordo com Perrow (2013), na elaboração de histórias, as metáforas surgem contribuindo para uma construção de uma ponte com a imaginação do ouvinte, integrando os estados de desequilíbrio e desconforto, como também os de equilíbrio, reconfortantes. 

“O próprio enredo constrói a “tensão” conforme a história se desenvolve, levando a trama para dentro ou através do comportamento “desequilibrado” e novamente para fora, na direção de uma solução integral e positiva (que não induz à culpa).” (PERROW, 2013, pg 16) 

A escuta e contação de histórias, a elaboração de narrativas, o espaço de fala, e as produções a partir dos inúmeros instrumentos arteterapêuticos que podem ser utilizados durante as sessões, oferecem recursos para que os pacientes elaborem seus sentimentos, reconhecendo seus espaços de dor, para que se possa percorrer os caminhos e vislumbrar dissoluções de conflitos. 


Bibliografia 

BONAVENTURE, Jette. O que conta o conto? São Paulo: Editora Paulus, 1992. 

DUCHASTEL, Alexandra. O Caminho do Imaginário: O Processo de Arte-terapia. Paulus Editora; 1ª edição (1 dezembro 2010). 

MARTINS. Tatiane Terres. A UTILIZAÇÃO DE HISTÓRIAS NO PROCESSO ARTETERAPÊUTICO DE CRIANÇAS ABRIGADAS - Revista Arteterapia Cores da Vida, Ano 16 - Volume 27 - Número 2 - Julho – Dezembro - 2020 

PERROW, Susan. Histórias Curativas para Comportamentos Desafiadores Ed. Antroposófica. 2ª edição 2013. 

URRUTIGARAY, Maria Cristina - Arteterapia - A transformação pessoal pelas imagens. - Maria Cristina - Ed. Wak - 6ª edição – 2023.

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Sobre a autora: Erika Coracini



 Arteterapeuta, atriz, arte

 educadora, contadora de histórias e mãe.

 Especializou-se em Arteterapia no Instituto Faces, onde também cursou Orientação e Arteterapia Familiar. Em formação de Análise Bioenergética pelo IABSP. Formada pela ECA/USP, Mestra pela USP sob o tema “Jongo e Teatro – Leitura de Princípios Performáticos da Festa”. Foi docente da Escola Superior de Artes Célia Helena. É fundadora do grupo Tá na Boca do Conto. Realiza vivência corporais,  atendimentos individuais e grupais emArteterapia.


segunda-feira, 12 de maio de 2025

A ARTETERAPIA E A DOENÇA DE ALZHEIMER - RELATO DE EXPERIÊNCIAS

 


Por  Anderson Amaral RJ/CE 

 

Para contextualizar a Doença de Alzheimer é possível dizer que trata-se de uma crise global de saúde, pois tem afetado mais de 55 milhões de pessoas em todo o mundo, conforme dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2024). Trata-se de uma condição neurodegenerativa progressiva e sem cura, mas que pode ser gerenciada por meio de abordagens terapêuticas diversas. Dentre essas, destacam-se as intervenções farmacológicas, como os inibidores da acetilcolinesterase e moduladores do glutamato, além das não farmacológicas, como exercícios cognitivos, musicoterapia, terapia assistida por animais e Arteterapia.

A Arteterapia, em particular, tem sido amplamente estudada por seu potencial em estimular funções cognitivas, promovendo o bem-estar emocional e fortalecendo a socialização de pessoas com Doença de Alzheimer (EMBLAD; LADINSKA, 2021). É uma intervenção valiosa que visa aprimorar não apenas o aspecto cognitivo, mas também o afetivo e social dos participantes.

As Oficinas de Arteterapia

As oficinas tiveram como objetivo apresentar a Arteterapia como uma intervenção integrativa, buscando o aprimoramento cognitivo, afetivo, motor e social dos participantes, além de promover o controle do humor, o bem-estar e a qualidade de vida. Utilizamos técnicas expressivas e nutrição imagética por meio de movimentos artísticos, promovendo a expressão pessoal, o autoconhecimento e o equilíbrio emocional, com base nos princípios da Arteterapia e seus principais representantes.

Durante os 12 encontros, foram abordadas as obras e técnicas de artistas renomados, como Jackson Pollock, Henri Matisse e Vincent Van Gogh, para público masculino, ou seja, homens com idades variando de 71 a 85 anos e com diagnóstico de Doença de Alzheimer.

Cada sessão começava com uma técnica de relaxamento, visando organizar emocionalmente os participantes e despertar sua atenção. Após isso, era projetado um vídeo com as principais obras do artista da sessão como estratégia de nutrição imagética, acompanhado por músicas suaves. Em seguida, realizavam-se as intervenções arteterapêuticas, onde os participantes eram incentivados a expressar-se livremente.

 Encontro com Vincent Van Gogh: "O Quarto em Arles" e "A Noite Estrelada"



No oitavo encontro, o foco foram as obras de Van Gogh. Como parte do processo de nutrição imagética, foi exibido um vídeo com as principais obras do artista, acompanhado da música "Starry, Starry Night", interpretada por Lianne La Havas. Após a projeção, dois quadros de Van Gogh foram apresentados: "Noite Estrelada" e "O Quarto em Arles - 2ª versão".

Os participantes foram convidados a observar e contemplar as imagens das obras. Em seguida, receberam versões em branco dos desenhos e puderam escolher uma para pintar livremente. Todos optaram por "O Quarto em Arles" e, para a execução da atividade, foram disponibilizados lápis de cor e giz de cera. Essa diversidade de materiais permitiu que cada um selecionasse a opção mais adequada à sua pegada, proporcionando maior conforto e acessibilidade, especialmente para aqueles com distúrbios de movimento ou dificuldades articulares.

Para garantir um processo criativo livre de influências externas, a imagem do quadro "O Quarto em Arles" foi retirada do telão antes do início da pintura. Após a conclusão da atividade, os participantes foram convidados a refletir sobre a escolha da obra, explorando as sensações, emoções e memórias despertadas, além de observarem o resultado de seus trabalhos. Esse momento possibilitou uma conexão mais profunda com o processo criativo, permitindo que cada um se reconectasse com seus próprios sentimentos e vivências.

Observações e Reflexões sobre as Reações dos Participantes

As emoções mobilizadas durante a sessão terapêutica foram predominantemente de alegria, bem-estar e afeto, evocando lembranças positivas da infância e da relação com os filhos. No entanto, a reação à obra "A Noite Estrelada" foi diferenciada, despertando sentimentos de tristeza e incômodo, principalmente devido à sensação do cair da noite, associada pelos participantes a um desconforto emocional. Esse foi o principal motivo para a não escolha dessa obra na hora de realizar o trabalho plástico.

Esse relato ganha relevância quando analisado à luz da literatura sobre a Síndrome do Pôr do Sol, uma condição frequentemente observada em pessoas com Doença de Alzheimer. É um fenômeno clínico de grande significância e amplamente disseminado entre pacientes com demência, resultando em um sério fardo para os cuidadores. Sua prevalência atinge mais de 60% em alguns estudos. A síndrome se manifesta com inquietação, agitação, irritabilidade ou confusão, especialmente no final da tarde e início da noite (REIMUS; SIEMINKI, 2025).

A predominância de tons frios e a movimentação expressiva das pinceladas de "A Noite Estrelada" podem ter potencializado essa percepção emocional. Cores como o azul intenso e o preto, combinadas à dinâmica das formas no céu, podem evocar sensações de melancolia e introspecção, aprofundando a conexão entre a obra e os sentimentos dos participantes.

A Experiência com "O Quarto em Arles"

Em contraste com outras obras, "O Quarto em Arles" proporcionou uma experiência emocionalmente oposta, transmitindo sensações de acolhimento, conforto e tranquilidade. A obra, com seus tons quentes de amarelo e laranja, criou uma atmosfera aconchegante e segura, evocando um ambiente intimista e acolhedor. Para muitos participantes, a pintura despertou profundas memórias afetivas, remetendo aos quartos de sua infância, às casas onde viveram ou aos quartos de seus filhos. Esse resgate emocional fortaleceu o senso de familiaridade e pertencimento, tornando a experiência visual mais reconfortante e prazerosa.

Algumas das frases evocadas pelos participantes incluíram:

"Esse quadro me fez lembrar da minha época de infância, onde morava em um quarto simples como esse, mas repleto de amor."

"O quadro me fez recordar da época de infância de meus filhos."

"Esse quadro me lembrou do quarto da minha avó, onde eu costumava ir aos finais de semana quando era criança."

"Lembro-me do quarto da minha mãe, que era o espaço onde nos reuníamos para conversar, trocar carinho e histórias."

Essas reações destacam como essa obra de Van Gogh, com sua simplicidade e acolhimento, foi capaz de resgatar memórias afetivas significativas, proporcionando uma sensação de conforto e pertencimento aos participantes.

Conclusão

Relatos como estes enfatizam ainda mais o potencial transformador da Arteterapia no contexto da Doença de Alzheimer, destacando como essa abordagem pode promover o bem-estar emocional e cognitivo dos pacientes. As intervenções arteterapêuticas, exemplificadas pela utilização das obras de Van Gogh, mostram como a arte facilita o resgate de memórias afetivas, proporcionando uma sensação de acolhimento e tranquilidade. Ao estimular a percepção sensorial e a expressão emocional, a Arteterapia contribui significativamente para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes.

Esta experiência também reforça que, por meio da contemplação e da criação artística, a Arteterapia possibilita uma conexão profunda com as memórias pessoais e permite que os pacientes explorem suas emoções. As reações dos participantes às obras de Van Gogh ilustram a importância de personalizar as intervenções arteterapêuticas, ajustando-as às necessidades emocionais de cada indivíduo, uma vez que diferentes obras podem gerar respostas emocionais variadas.

Além disso, exemplos como o programa do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), que utiliza a arte como ferramenta de estimulação cognitiva para pessoas com Alzheimer, demonstram o impacto positivo da arte na promoção da criatividade e no fortalecimento da identidade e dignidade dos pacientes. Dessa forma, a Arteterapia não apenas ressignifica a vida dos pacientes, mas também cria momentos de conexão emocional e bem-estar, favorecendo o autoconhecimento e a socialização.

Obs: Relato de experiência faz parte do pré-requisito para a conclusão da Formação em Arteterapia do Espaço Psi, no Rio de Janeiro, sob a coordenação e supervisão da Arteterapeuta Naila Brasil. 


Referências bibliográficas:

EMBLAD, S.Y.M.; LADINSKA, M. Creative Art Therapy as a Non-Pharmacological Intervention for Dementia: A Systematic Review. J Alzheimers Dis Rep. 2021. Disponível em https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC8203286/

MUSEU DE ARTE MODERNA DE NOVA YORK (MoMA). História do Projeto Alzheimer do MoMA. Disponível em https://www.moma.org/visit/accessibility/meetme/resources/index_sp.html?utm_source=chatgpt.com#history_sp

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Mês Mundial do Alzheimer 2024: é hora de agir pelas pessoas com demência. 2024. Disponível em https://www.paho.org/pt/noticias/9-9-2024-mes-mundial-do-alzheimer-2024-e-hora-agir-pelas-pessoas-com-demencia

REIMUS, M.; SIEMINSKI, M. Sundowning Syndrome in Dementia: Mechanisms, Diagnosis, and Treatment. Journal of Clinical Medicine. 2025. Disponível em https://www.mdpi.com/2077-0383/14/4/1158

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Sobre o autor: Anderson Amaral



Arteterapeuta, Mestre em Saúde e Tecnologia, Pós-graduado  em Geriatria e Gerontologia, Pós-graduado em Neurosicologia com ênfase em Reabilitação Cognitiva, Pós-graduado em Neurociência e Longevidade.  Professor da Oficina de Estimulação Cognitiva do UNATI/NucEH/UERJ, Membro do Projeto de Extensão Terapias Não Farmacológicas na Atenção à Saúde do Adulto e do Idoso UNIRIO, Pesquisador e Colaborador do projeto “Estimulación Cognitiva en Adultos Mayores Frank País Cuba e Professor da Pós-graduação em Gerontopsicomotricidade (Associação VemSer).

Autor dos livros: Jogos Cognitivos: Um Olhar Multidisciplinar; Jogos de Estimulação Cognitiva e Motora; Animada (Mente) Estimular através do jogo (Portugal); Diferentes Perspectivas da Animação e do Envelhecimento (Portugal); Envelhecimento como Perspectiva Futura (Portugal); Diálogos em Gerontologia – UnATI/UERJ; Tratado de Jogos de Regras e Manual de Telerreabilitação Cognitiva pós-COVID.

Autor dos E- books: Jogos & Atividades Psicomotoras; Estimulação Cognitiva pós-COVID, Os Benefícios das Atividades Físicas para um Envelhecimento Saudável; Terapias Mente & Corpo em Gerontologia; Teleoficinas: Exercícios Cognitivos UNIRIO; Arte & Ludicidade: Teleoficina Atendimento Remoto (UnATI/ UERJ), Programa de Animação Terapêutica (Portugal), Gerontoteca: Espaços Terapêuticos e Tele-Estimulação Cognitiva.

Coautor dos Livros: Estimulação Cognitiva para idosos: ênfase em Memória

segunda-feira, 5 de maio de 2025

"CADA UM SABE A DOR E A DELÍCIA DE SER O QUE É"- UMA JORNADA QUE VALE A PENA SER VIVIDA NA ARTETERAPIA



Por Cris Silva – RJ

 @arteterapia_crissilva

Tomo emprestado os versos da canção “Dom de iludir”, de Caetano Veloso, para tecer reflexões sobre como o processo arteterapêutico pode ajudar a criar conexões para o autoconhecimento e o que mais estiver vinculado a esse mergulho, que sim, tem nuances de dores e delícias.  

Muitas vezes ser quem somos é uma jornada complexa e se ficarmos na superfície, enxergaremos unicamente aquilo que queremos. No entanto, ao nos autorizarmos a trilhar um caminho que leva a um olhar mais profundo, fazemos contato com conteúdos psíquicos que talvez ainda não tenham sido acessados ou que foram varridos para debaixo do tapete.

Penso que de maneira geral, sem ajuda terapêutica, poucas são as pessoas que querem olhar para suas “mazelas”, talvez pela dor que possa gerar ou ainda por entrar no embate de sair do mundo das idealizações e ficar frente a frente com as próprias limitações e fraquezas. Entretanto, quando nos autorizamos e permitimos ser vulneráveis e honestos conosco, nos damos conta de que há partes de nós que precisam de cuidado e atenção, ou seja, partes que precisam ser integradas. É nesse autoacolhimento que um chamado ecoa, abrindo alas para o crescimento e a trans(evolução).
Sendo a Arteterapia uma modalidade terapêutica que se utiliza da expressão artística para também ajudar a ver forças, habilidades, fraquezas e vulnerabilidades, o acesso às emoções, sentimentos e pensamentos acontece de maneira mais profunda e significativa.
Diante da reflexão “da delícia de ser quem se é”, penso que seja uma experiência única e preciosa, que nos conecta ao sentimento de liberdade e autenticidade, que nos abraça quando nos permitimos ser quem somos, sem medo de julgamento ou rejeição.

Acredito que o processo de ser quem somos é contínuo e cheio de desafios, uma jornada que nos leva a explorar nossas próprias profundezas e a descobrir novas facetas de nós mesmos. Sem essa caminhada que nos leva a crescer, o dom que ficará em evidência é o “dom de iludir”.
A Arteterapia também nos permite desenvolver uma maior compaixão e empatia por nós mesmos, o que é fundamental para confrontar nossas fraquezas e vulnerabilidades. Ao criar arte, podemos começar a ver nossas fraquezas e vulnerabilidades como partes naturais e necessárias de nossa experiência humana, em vez de como defeitos ou falhas, podemos representar o que for incômodo de maneira simbólica, tecendo analogias, o que pode ser mais fácil do que expressá-las diretamente. Isso permite lidar com esses aspectos de maneira mais segura e equilibrada. 

No senso comum há a ideia de que por trabalhar com materiais prazerosos como tinta, canetinha, giz de cera, argila, massa de modelar, colagem e afins, o processo arteterapêutico trará somente os prazeres. Sinto dizer que não será. No entanto, trago a boa notícia de que a partir dessa autorização para o autocuidado, o autoconhecimento conduzirá à capacidade de aceitar a si mesmo, com incompletude, fraquezas e limitações, sem julgamentos ou críticas.

E eu que comecei a refletir e escrever esse texto de mãos dadas com os versos de Caetano Veloso, vou me dando conta de que na imersão que fiz, abri a roda para receber Paulo Freire e Manoel de Barros, que falam do inacabamento do ser, da incompletude. É por esse olhar de incompletude que desejo ver a  mim mesma como ser humano e também como profissional, pois entendo que somente assim serei capaz de acolher o meu semelhante, também inacabado. 

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Sobre a autora: Cristiane da Silva



Arteterapeuta: AARJ 1125 /08. Formada em Pedagogia (UERJ/RJ), tem trinta e três anos de regência em sala de aula – da Educação Infantil à Educação de Jovens e Adultos neurodivergentes na rede pública de ensino do Rio de Janeiro. Pós-graduada em Arteterapia em Educação e Saúde (UCAM/RJ) e formada em Arteterapia pelo Atelier de Artes e Terapias Eveline Carrano. É graduanda em Psicologia (UVA/RJ). Foi voluntária por 4 anos na ONG Anjos da Tia Stellinha, atuando no projeto CONSTRUINDO A MINHA HISTÓRIA – resgate de vínculos entre mães e filhos. Realiza oficinas e vivências em Arteterapia, é mediadora de Biblioterapia e Escrita terapêutica. Acredita que as artes, as leituras, a escrita e a cooperação mudam o sentido da vida e que, sempre, abrem caminhos para o desenvolvimento pessoal e social.