Por Jeany Amorim - RJ
@jeanysamorim.arteterapia
Tem
cheiros que acalentam a alma, que aquecem o coração...outros que simplesmente
apetecem, que agradam ou deixam o estômago embrulhado. Você já parou para
pensar quais são os “cheiros” da sua vida? O que estava presente na infância, o
que marcou a adolescência, o que traz aconchego...ou aquele cheiro que
anunciava a presença de alguém especial? O que os cheiros têm a ver com as
nossas construções afetivas? O que eles podem contar?
A
casa vizinha ao setting arteterapêutico estava limpando a fossa séptica. Por
mais que as janelas estivessem vedadas, o cheiro – mesmo que leve – se fazia
presente. Me desculpei. Ela imediatamente disse: não me incomoda. E, acreditem,
a limpeza da fossa séptica foi o disparador da sessão. Do cheiro da fossa,
partimos para as memórias da infância, onde uma vala poluída era parte do
cenário da casa da avó, seu lugar de predileção: “preciso contar isso a
alguém...mas amo sentir o cheiro do lixo queimado! Essa era a forma de descarte
na casa da vó Maria, meu lugar mágico!”
Os
cheiros penetram lugares de memórias, afetos e sensações com muita fluidez. E existe
uma explicação científica para o despertar dessas memórias provocadas pelos aromas,
que está diretamente ligada ao bulbo olfativo (decodificação dos odores), à
amígdala (processamento da emoção) e o hipocampo (memória e cognição) – vasto
campo para nossa atuação, como Arteterapeutas!
Não
existe idade para trabalhar com as memórias olfativas. Claro que as crianças
ainda as estão construindo, mas a potência imaginativa e criativa dos pequenos
acessa as emoções - e dão formas - através dos cheiros, com muita facilidade.
Já os adolescentes e adultos trazem um baú de memórias, pronto para ser
acessado, degustado e (re)vivido com o cuidado que toda “volta ao passado”
merece.
Quando
trabalho presencialmente, escolho entre ervas, alimentos e aromas geralmente
agradáveis: hortelã, pipoca, bolo, chocolate, alecrim, lavanda, tangerina,
café... Esses cheiros são escolhidos e sentidos às cegas – já que a visão seria
um entrave à livre associação. É delicioso acompanhar o desvelar das memórias!
Em seguida, vêm as cores e as formas, dando início a um oráculo de afetos.
Claro que temos o momento degustação, afinal, celebrar os afetos que nos constituem
e ressignificar os que nos encontram em nossa vulnerabilidade, também faz parte
do processo!
E
você? Tem algum cheiro “estranho” que te desperta aconchego ou alegria? Que
histórias ele conta? Que cores e formas ele tem?
Termino
compartilhando o meu: cheiro de gasolina! Ele tem a cor creme, a forma de uma
brasília, carrega sorrisos de crianças e cantigas e celebra férias em família!
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