Por
Eliana Moraes (MG) RJ
naopalavra@gmail.com
O pequeno período sabático que
me propus nos últimos dois meses, me levou a uma viagem no tempo. Meus
pensamentos passearam por momentos da minha história, desde 2013, quando
intuitivamente decidi começar a escrever para registrar minhas observações e
reflexões do dia a dia como arteterapeuta. Revisitei meus primeiros textos e
pude reviver as sensações tão primárias de quem está aprendendo a andar. Mas
revivi também as sensações de quem continua a caminhar, fortalece as pernas, os
passos e enfim assume uma marcha. Hoje a escrita faz parte da minha vida e ela
me compõe.
Sincronicamente, quando voltei
ao consultório em meados de janeiro, uma paciente em meio às suas associações,
contou que estava lendo o livro “Romancista
por vocação” de Haruki Murakami. O nome daquele livro capturou minha escuta
e guardei-o para que pudesse pesquisar no momento oportuno.
Foi assim que conheci
Murakami, escritor japonês, considerado um dos autores mais importantes da
atual literatura japonesa. Neste livro, Murakami nos conta sua história pessoal
e sua percepção sobre como se tornou um romancista:
“Afinal, nem eu mesmo entendo direito como
me tornei romancista. Não decidi quando era jovem: ‘No futuro quero ser
escritor’, não estudei para isso, não fiz treinamento especial, ou seja, não
segui nenhum passo específico para me tornar romancista. Eu apenas estava
fazendo várias coisas na vida, isso e aquilo, e, por impulso e por acaso,
acabou acontecendo assim. A sorte me ajudou muito também. Lembrando disso agora
acho até assustador, mas fazer o quê? Foi assim que aconteceu”. (p 63)
Sorri. Senti um calor no peito
quando nesta e outras passagens do livro encontrei um eco para meus caminhos
pela escrita sobre o que eu trabalho, vivo e acredito.
Murakami relata seu processo
para o desenvolvimento de um estilo próprio de escrita (vale a pena conferir os
detalhes no livro) mas em suma, significou um processo de SIMPLIFICAR tudo o
que era “demais”, como palavras difíceis ou belas expressões para impressionar
as pessoas e tudo o mais que parecesse pesado:
“... acredito que... para encontrar um
estilo ou um discurso pessoal e original, o necessário de fato é subtrair algo.
Parece que viemos acumulando muita coisa ao longo da vida. Estamos
sobrecarregados de informações, bagagens... quando tentamos nos expressar, todo
esse peso acaba sobrecarregando o motor. E não conseguimos mais nos mover.
Nesse caso, temos que jogar fora o conteúdo desnecessário e limpar o sistema
para que a nossa mente se torne mais livre e ágil...
Eliminar da mente todo conteúdo
desnecessário, simplificar e reduzir fazendo a subtração, talvez não seja tão
fácil de colocar em prática, apesar de parecer simples.” (p 57-58)
Essa subtração ao que há de
mais simples possibilitou-o a continuar a fortalecer suas pernas, seus passos e
assim assumir sua marcha. Mais uma vez me identifiquei com Murakami. Quem
acompanha meu trabalho de perto sabe o quanto tenho falado sobre a beleza do
retorno ao simples e quantas riquezas encontramos quando nele investimos nossa criatividade.
“Comecei usando esse estilo simples, bem
ventilado... e a cada obra que produzia, fui aos poucos acrescentando
conteúdos, à minha maneira, em um processo bastante demorado. A estrutura foi
se tornando tridimensional e multifacetada e a armação foi ficando cada vez
mais espessa, ou seja, fui criando condições para depositar aí uma narrativa
maior e mais complexa... o processo de desenvolvimento da minha escrita foi
natural, não intencional. Só fui perceber isso mais tarde.” (p58)
Eu seguia minha leitura em um
profundo diálogo com o autor, com direito a respostas em voz alta: “Sim Murakami, a gente só percebe mais
tarde.”
Sorri mais uma vez quando o
autor contou sobre o movimento de se deslocar dos enquadramentos racionais e
acessar outras instâncias mais sensitivas e intuitivas no ato de escrever:
“A sensação que eu tinha enquanto escrevia
era mais próxima de tocar um instrumento musical do que à de escrever. Até hoje
guardo essa sensação na mente, com cuidado. Resumindo, talvez eu utilize mais
as sensações corporais e não a cabeça para escrever: garantir o ritmo,
encontrar um belo acorde e acreditar no poder da improvisação.” (p 30)
Se eu fosse resumir tudo o que
li de Murakami em uma palavra, eu diria LIBERDADE. E foi exatamente isto que
ele se propôs:
“... escrever livremente o que eu sentir,
o que vier à minha cabeça, abandonar ideias preconcebidas de que romance tem
que ser assim, de que literatura tem que ser assim...
Se existe algo de original nos romances
que escrevo, acredito que seja o fato de eu ser livre...
Penso que na base dos romances que escrevo
existe essa sensação de liberdade e espontaneidade... Isso é a minha força
motriz.” (p. 27/58-59)
“Pensando
a Arteterapia”: meu primeiro livro
Toda esta jornada interior
aconteceu porque, em paralelo às minhas memórias e à leitura de Murakami, eu
estava em diálogo com a Larissa da Editora Semente, para a construção do meu
primeiro livro “Pensando a Arteterapia”
- sua capa ilustra este texto. O livro, com lançamento previsto para o mês de abril deste ano, será a compilação dos textos de minha autoria
publicados no blog “Não Palavra” desde sua criação em 2013 até o início
de 2017.
Receber cada etapa de edição
em meu email fazia com que meu coração batesse mais forte, ainda não
acreditando que meu caminho com a escrita estava alcançando novas searas.
Meu desejo é que ele sirva
como material de estudo para aqueles que desejam atuar na Arteterapia, mas
também como provocador de diálogos – inclusive por meio de discordâncias – pois
acredito que é dessa forma que construímos um saber, conscientes de que esse
nunca se esgotará.
Assim começa 2018 e quis abrir
os trabalhos do blog com esta novidade. Neste ano o blog segue seu ritmo
semanal de produção de textos. Mas este espaço só se sustenta com a
participação daqueles que se “atrevem” à escrita. O blog segue recebendo
textos, mantendo-se como um espaço colaborativo.
Minha intenção hoje é
incentivar que os leitores do blog “Não Palavra” escrevam (para o blog e tantos
outros espaços) pois eu posso afirmar: vale a pena.
E faço minhas as palavras de
Murakami. Escrever:
“... é uma sensação incrível. Ela é
revigorante, como se surgisse mais um dia dentro do dia de hoje.
E desejo que, se possível, meus leitores
sintam a mesma coisa. Quero abrir uma nova janela na parede do seu coração e
levar um ar novo até ele. É o que eu penso e desejo, sempre que estou
escrevendo. Do fundo do coração, de forma bem simples.” (p 61)
Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
Sobre a autora: Eliana Moraes
Arteterapeuta e Psicóloga.
Especialista em Gerontologia e saúde do idoso e cursando MBA em História da Arte.
Fundadora e coordenadora do "Não Palavra Arteterapia".
Escreve e ministra cursos, palestras e supervisões sobre as teorias e práticas da Arteterapia.
Atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia.
Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Nascida em Minas Gerais, coordena o Espaço Não Palavra no Rio de Janeiro.
Parabéns Eliana, estou bem feliz por esta sua vitória!!! Sucesso!!! bjs, Virgínia
ResponderExcluirMaravilha Eliana! É impressionante como o mesmo texto, lido e comentado por outra pessoa, renasce, ganha nova vida. Obrigada! Adorei a sua leitura do Murakami. E não sabia da novidade: a publicação do seu livro! Bravo! Parabéns! Estaremos lá pra usufruir e prestigiar. Bia
ResponderExcluirComentário enviado por Tania Salete:
ResponderExcluirUhuuu! Parabéns, Eliana! Que noticia maravilhosa e empolgante! Esta é uma vitória da Arteterapia e de todos os arteterapeutas que voce tem instrumentalizado com seu conhecimento, suas reflexões, palestras e compartilhamentos. Sua generosidade em dividir esta gerando frutos, mobilizando e incentivando outras (os) a colocarem os pés no caminho, a fortalecerem seus conhecimento através de mais estudos e pesquisa e muita prática. Só gratidão pelas oportunidades concedidas. Certamente o "Nao Palavra" tem se tornado um referencial de busca e fortalecimento da nossa profissão, atraves da seriedade, paixão, comprometimento e amor! Felicidades! Sucesso! Que as poderosas mãos do Eterno continuem estendidas sobre voce, conduzindo seus passos de maneira firme e segura! Bjs
Tania Salete - Carioca em Fortaleza
Parabéns, Eliana!
ResponderExcluirFico feliz com sua evolução e conquistas. Você é um exemplo e inspiração para mim. Que venham os leitores, pois um sucesso já é o seu trabalho. Com carinho, Suzane.
Eliana, seus artigos sempre foram muito especiais e estimulantes à reflexão arteterapeuta. Há tempos acompanho. Sei que SP a receberá com muito carinho e admiração. Poder fazer a ponte me traz uma grande alegria, e, além do workshop e das vivências, apresentar o seu mais novo filho "Pensando a Arteterapia" será o auge desse encontro. Aguenta coração. Bjs carinhosos.
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