Por Mércia Maciel - RJ
mercia.m@terra.com.br
Dando
seguimento às minhas pesquisas sobre Arteterapia e família, tenho buscado, na
medida do possível, direcionar o meu foco para o contexto dessa articulação na pós-graduação
em Arteterapia e Processos de Criação que curso no momento.
Assim
é que, a partir de um trabalho sobre vida e obra de um artista (de qualquer
época) para a disciplina de História da Arte e Estética, realizei uma pesquisa
bibliográfica sobre a vida de um dos maiores gênios da história da arte no
mundo: o holandês Vincent Van Gogh. Comecei contextualizando o período
histórico em que viveu o artista e, em meio à farta e interessante bibliografia
encontrada sobre o tema, uma me chamou a atenção em particular.
Trata-se
da tese de Livre-Docência da psicóloga Claudete Ribeiro, apresentada ao
Instituto de Artes da UNESP, em São Paulo, no ano 2000, intitulada “Arte e
Resistência: Vincent Willem Van Gogh”.
Nessa
rica análise é apresentada uma interessante reflexão a respeito do perfil
psicológico do artista, a partir de sua obra e de sua correspondência com o
irmão, mas também de seu contexto familiar. A autora considera que a história
familiar de Van Gogh pode revelar muito a respeito de sua personalidade e trajetória
de vida.
Entre
outras questões levantadas, analisa o fato do nome do artista ser também um
nome que se repete a cada geração da família, sendo Vincent Willem Van Gogh também
o nome do avô paterno do artista, do tio paterno, do irmão natimorto que
antecedeu seu nascimento e, por fim, do sobrinho dele, filho de seu irmão Theo.
Sendo esse seu avô (assim como seu pai) um pastor calvinista e grande pregador
e seu tio um artista reconhecido, Van Gogh, em busca por seu lugar no mundo,
envereda primeiro pelo caminho religioso, para só mais tarde iniciar sua
carreira artística.
A
autora considera que, ao carregar o fantasmagórico nome, Vincent revelava uma
dinâmica familiar de reedição das histórias, em que a família:
“... apresenta uma organização
fantasmática por meio das figuras mitificadas e de um conjunto de crenças que
foram partilhadas e transmitidas pelas gerações dos seus filhos, estabelecendo
assim, os mitos como verdades ao longo da sua existência, de forma a preencher
as necessidades de sucesso e poder da família, traçando o destino do Vincent,
ora em estudo.” (Ribeiro,
2000)
Considero
muito motivante esse tipo de análise sobre famílias de artistas, que no meu
caso, pode apontar para um possível tema de dissertação na conclusão da minha Pós-
Graduação.
Uma
entrevista com Maíra Bonafé Sei
Dando
continuidade ao compartilhamento dos meus estudos sobre o tema, apresento uma
entrevista com a Professora Dra. Maíra
Bonafé Sei, PhD em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo e
arteterapeuta, que gentilmente a concedeu especialmente para publicação no blog
Não Palavra. Trata-se de uma das poucas
profissionais que se voltaram à pesquisa e à prática da Arteterapia com família
no Brasil até hoje.
Confira:
Como profissional
de Terapia Familiar e de Arteterapia, como vê a interlocução entre as duas
áreas de conhecimento, seus limites e suas possibilidades?
Maíra B. S.- A
Arteterapia se configura como um campo do saber que dispõe de ferramentas
passíveis de utilização no cenário da terapia familiar, tipo de intervenção
clínica que agrega participantes de diferentes idades. Por meio dos recursos
artístico-expressivos, diminui-se a distância cognitiva entre adultos e
crianças e lida-se com a censura habitual presente no discurso verbal, fato que
incentiva o uso destes nos atendimentos de famílias.
Como terapeuta de família, qual a linha teórica com a qual mais se identifica e como ela te ajuda no trabalho de arteterapia com famílias?
Como terapeuta de família, qual a linha teórica com a qual mais se identifica e como ela te ajuda no trabalho de arteterapia com famílias?
Maíra B.S.- Minha atuação baseia-se na
Psicanálise de Casal e Família, com foco na contribuição de psicanalistas
franceses, que inclusive valorizam o uso de recursos mediadores no setting terapêutico.
Como vê a atuação da Arteterapia com famílias hoje e suas possibilidades de avançar e se estabelecer no Brasil como campo de trabalho para o arteterapeuta?
Como vê a atuação da Arteterapia com famílias hoje e suas possibilidades de avançar e se estabelecer no Brasil como campo de trabalho para o arteterapeuta?
Maíra B. S. - Entendo
que a Arteterapia com famílias ainda se apresenta de forma incipiente no
Brasil, com poucos arteterapeutas com formação e interesse para atuar com este
público. Compreendo tratar-se de um tipo de intervenção clínica de grande
relevância social, ao se contemplar a família como um todo, grupo e relações
nem sempre contempladas nos atendimentos individuais.
O que a levou a escolher essa forma de trabalhar?
O que a levou a escolher essa forma de trabalhar?
Maíra B. S.- Minha atuação com casais e famílias se
iniciou em 2005, por meio de minha pesquisa de doutorado, de Arteterapia com
Famílias no contexto da violência familiar, orientada pela Profa. Titular Isabel
Cristina Gomes, vinculada ao IP-USP.
Compartilhe conosco um pouco sobre sua prática com famílias através da arteterapia.
Compartilhe conosco um pouco sobre sua prática com famílias através da arteterapia.
Maíra B. S.- A
prática de Arteterapia com Famílias pode ser conhecida por meio do livro
"Arteterapia e Psicanálise" da editora Zagodoni. Além disso, tenho
vários artigos publicados e que podem ser conhecidos por meio do acesso ao meu
currículo Lattes.
Entre
os Projetos de Pesquisa realizados pela Professora, estão o “Catálogo de Textos Científicos em Arteterapia no Brasil” (integrantes: Maíra
Bonafé Sei - Integrante / Cristina Dias Allessandrini - Coordenador / Margaret
Rose Bateman Pela - Integrante) e “Arteterapia com famílias e Psicanálise
Winnicottiana: proposta de intervenção em instituição de atendimento à
violência familiar” (integrantes: Maíra Bonafé Sei - Coordenador / Isabel
Cristina Gomes – Integrante).
As diversas publicações da
autora sobre o tema encontram-se elencadas no site do CNPq citado acima pela
autora.
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
Referência:
RIBEIRO, Claudete. ARTE E
RESISTÊNCIA: Vincent Willem Van Gogh. Tese de Livre- Docência apresentada ao
Instituto de Artes da UNESP, São Paulo, SP, Brasil, 2000. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/116108/ribeiro_c_ld_ia.pdf?sequence=1
Acesso em: 22/06/2017
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Sobre a autora:
Mércia Maciel
Assistente Social pela UFF (1994), pós-graduanda em Arteterapia e Processos de Criação pela UVA.
Experiência como assistente social: atendimento de família, dependência química, e crianças em situação de abuso.
Para ver os textos anteriores de Mércia Maciel CLIQUE AQUI e CLIQUE AQUI
Mercia, muito bom seu texto e a entrevista foi algo fascinante, com possibilidades de acesso a outros textos e acervos. Muito obrigada por compartilhar conosco suas pesquisas e parabenizo-a pela escolha do tema. Eliana, novamente, o Não Palavra enriquecendo a nossa pratica e conhecimento com textos maravilhosos!
ResponderExcluirObrigada, Tânia!
ResponderExcluirO texto aponta possibilidades mediadas pela pesquisa. E a pesquisa como forte suporte para se pensar a instituição familia, considerando o viés terapêutico aliado à arte. Muito bom porque além de informativo, o texto ratifica entendimentos da complexidade do ser no seu envolvimento familiar, a questão da importância do nome, bem como o propósito/motivação da escolha dele, com interferências na identidade, refletindo nos relacionamentos.Temas FAMILIA-ARTETERAPIA bem-vindos. Eis que antes mesmo de sabermos lidar com as nossas, formatadas tal como sao, digamos, numa forma, "tradicional", eis que nos deparamos com novos formatos, quando a questão do gênero aflora. Se o formato anterior traz implicações com graus de dificuldade, mais e maiores (dificuldades) a instituição familia enfrentará, quando novos formatos emergem com força, amplamente respaldaldos pela mídia que oculta (as dificuldades), que nega (as dificuldades) e desinforma ao investir fortemente na veiculacao do senso comum, deixando à margem os estudos sérios e de valor. Família é tema revestido de complexidade e continuará a sê-lo, tanto no ocidente quanto no oriente. Recomendo o filme "I saw the sun". Desse modo, são bem-vindos pesquisadores que nos auxiliem na reflexão FAMÍLIA-ARTETERAPIA, permitindo que nos afastemos dos "achismos do senso comum" e nos aproximemos das reflexões mais comprometidas com o adequado. Nesse sentido o Não Palavra cumpre o seu papel social.
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