segunda-feira, 10 de abril de 2017

ENTRE NÓS: Um diálogo entre a Transpsicomotricidade e a Arte


Por Amanda Machado

“Não devemos ter medo de inventar seja o que for. Tudo o que existe em nós existe também na natureza, pois fazemos parte dela.” Pablo Picasso 

Sou formada em Transpsicomotricidade Educacional, uma das linhas da psicomotricidade que  vem aceitar o desafio da Complexidade e transcender à questão do dualismo corpo-mente, realizando uma ampliação poliocular nas leituras psicomotoras existentes, incluindo o ecológico, o espiritual, o artístico, além de outros múltiplos fatores que compõem a 'unitas multiplex', que é o ser humano ( Costa 2011). Como Transpsicomotricista Ed., articulo minha prática em escolas e espaços de interesse, com os mais diferentes saberes que possam ajudar a religar o sujeito com ele mesmo, com o outro, com o planeta. 
Em todo trabalho Transpsicomotor que realizamos podemos aliar as artes e demais influências que levem o sujeito a pensar sobre si e sua relação com o mundo, tendo o corpo como ponto de partida, de modo que “sempre deve haver a integração de si mesmo, o auto-exame e a possibilidade de fazer a auto-crítica. Integrar qualquer conhecimento é uma necessidade epistemológica fundamental” (Morin, 2000 p.53) e que tornamos presente nos “settings” que seguem. Num primeiro momento, o corpo é experienciado, vivido na relação consigo, com o material simbólico e com o outro. Então trazemos a arte como possível fonte organizadora, onde o sujeito possa se expressar e elaborar o vivido.
Nossos encontros têm como base teórica o pensamento complexo (Morin) e os princípios Transpsicomotores foram construídos com base nos “sete saberes necessários para educação do futuro” (Morin, 2011), premissas para uma educação mais solidária e cooperativa. Quando abordamos princípio da Identidade Terrena, pretendemos desenvolver e ampliar o olhar para nossa identidade planetária, então trazemos raízes, folhas, frutos, sementes, ventos e tudo mais para o centro das atividades, elementos que nos possibilitam sentir a terra em nossas mãos, que nos fazem sentir vivos, como parte de um rizoma que fortalece nossos vínculos e que desperta nosso espírito criativo mais primitivo, pois “somos, a um só tempo, seres cósmicos e terrestres” (Morin, 2011 p. 45).
 Em jogo, o sujeito explora, cria e abre seus sentidos para sentir a beleza que sua natureza é capaz de produzir – e tem algo mais terapêutico?- o Homem como agente de sua produção, convidado a expandir em toda sua livre criação, transforma em gozo estético o que outrora veria como lixo orgânico. É a partir do reconhecimento da necessidade de harmonização com equilíbrio ecológico, que possibilitamos um encontro consigo mesmo, deixando de lado todos os tabus e paradigmas aos quais nos submetemos diariamente e assim, nos sujamos, lameamos e enfrentamos todas as incertezas que o vazio momentâneo pode oferecer. Ao sentir o poder dessa entrega, toda energia passa a circular dentro de nós e parece que se esvai por entre os dedos que se misturam ao barro, as folhas, as sementes... já não é possível experimentar só com o toque, é preciso lançar mão de todos os sentidos e, entregues, enfeitamos nossos corpos como tela plástica que exprime sentimentos e desejos.

Homem e Natureza. Entre Nós há tanto o que viver, experimentar e criar que precisamos, urgentemente, legitimar cada vez mais espaços para que essa  religação aconteça e, somente uma educação voltada para nossa essência, poderá possibilitar a interlocução de nossas culturas e biodiversidades. Espaços para se envolver e sentir toda mágica poética que se desenrola no contato com a natureza e seus elementos.
Corpo e arte, peças fundamentais que se encontram no fazer artístico, vivenciados na potência possível daquele momento. Porém, muitas vezes, também observamos sujeitos que se privam desses encontros e se mantém em suas conchas experimentando o isolamento, postura de conforto frente ao “vazio” que se apresenta com aqueles materiais, sem normas ou regras didáticas. Esse encontro parece paralisar as possíveis formas de expressar seus sentimentos, há um medo inconsciente que não permite viver a expansão, a liberdade de criação, onde não existe certo ou errado, apenas o belo criado de forma autonoma e independente. Hoje em dia, estamos acostumados a modelos prontos, a ter tudo bem dito e produzido para que possamos usufruir intensamente e, deixar-se levar pelas sensações é quase, ou completamente, angustiante para aquele que está no encontro. Nesses casos, “é preciso respeitar o tempo, até que o sujeito emprega um significado próprio e dá lugar a representação” (Rodrigues, 2011 p.194).  Ao contemplar sua obra, ele se assegura de um lugar, de pertencer a si e se sente parte de um todo maior.
É como Transpsicomotrista Educacional que tenho visto, sentido e vivenciado toda beleza que a arte pode possibilitar à compreensão do sujeito, a esse estado poético de contemplação do belo, que por nós é produzido após encontros, onde o corpo é palco de expressões simbólicas. Como educadora, acredito que os envolvidos na “tarefa de cultivar a poesia têm de poder viver sua complexidade à flor da pele, [e precisam] pulsar o máximo possível, contagiando outros com seu ruído” (Costa, 2013 p.139). É nessa religação que encontramos a arte de viver, aqui expressa por nossa identidade terrena, que nos liga com o cosmos, com o planeta e as grandes e pequenas felicidades.

Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.

A Equipe Não Palavra te aguarda!



Referências Bibliográficas:
COSTA, Eduardo e LOVISARO, Martha. Tranpsicomotricidade. Psicomotricidade com base no pensamento complexo. Rj: Ed.WAK, 2013.

MORIN, Edgar. Saberes globais e saberes locais: o olhar transdisciplinar. Rio de janeiro: Garamond, 2000.
___________ Os sete saberes necessários a educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2011.
RODRIGUES, Helio. Vertigens do vazio. Rio de janeiro: Livre Expressão, 2011.

Sobre a autora:


Amanda Machado é Transpsicomotricista, Pedagoga e apaixonada pela vida. Atua como monitora na formação em Transpsicomotricidade/Rio, Coordenadora na Creche Curiosa Idade, Transpsicomotricista no Núcleo de desenvolvimento infantil Transbrincantes e está disponível para levar essa prática para os grupos que se interessarem.



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