terça-feira, 29 de julho de 2014

EVENTO AARJ SOBRE SURREALISMO - Um relato




“O surrealismo consiste no cultivo e na prática de comunicar o inconsciente utilizando-se da escrita, da pintura, da escultura e de outros meios.”
(Edward W. Titus. Editor da revista The Quarter. Inglaterra.1932).

            No último domingo Flávia Hargreaves e eu estivemos no evento da AARJ sobre  Surrealismo, inspirado na exposição de Salvador Dali no CCBB-RJ. Lá pudemos apresentar um pouco mais o resultado sobre nossa pesquisa sobre o Surrealismo e a Arteterapia.
            Flávia apresentou a palestra “Acaso e inconsciente: identificando o dada e surrealismo na arteterapia”, onde apresentou a importância dos movimentos artísticos Dadaísmo e Surrealismo para nossa prática, e a convergência dos pensamentos destes artistas e teóricos e os princípios básicos da Arteterapia, propondo uma reflexão sobre o processo criativo que tem por princípio estabelecer uma ponte com o inconsciente.
            Em seguida, apresentei a palestra “Dada e Surrealismo na prática da Arteterapia – casos clínicos” onde coloquei fragmentos de minha prática de aplicação das técnicas destes movimentos em dois grupos arteterapêuticos de 3ª idade e um atendimento individual. Pudemos perceber que estas técnicas são pertinentes a serem trabalhadas com pacientes de perfil racional e controlador. Com questões como pensamento enrijecido e cristalizado, necessidade de manter a ordem e a estabilidade. Que trazem marcas de um tradicionalismo, educação rígida, regras e uma visão polarizada (bem/mal; certo/errado).
            Nos casos de grupo, três das técnicas exploradas pelos artistas foram expostas. O poema dada (já mencionado e relatado neste blog) e duas formas de desenho automático: com nanquim e areia. No caso individual, além destas, técnicas de pintura espontânea e escrita automática. A prática destas técnicas no setting terapêutico possibilita o aparecimento do que chamamos de “símbolo espontâneo”, um símbolo que emerge do ato criativo sem que se passe pela escolha ou racionalização do paciente (“vou desenhar uma borboleta pois esta simboliza transformação.”). Mas um símbolo, que justamente por ter sido acessado de forma espontânea, conteúdos inconscientes transbordam para a imagem de forma muito potente e justamente por isto, muitas vezes objeto de resistência por parte do paciente.
            Concluímos então que as experimentações e técnicas feitas pelos dadaístas e surrealistas são amplamente aplicáveis no setting terapêutico propondo flexibilidade, maleabilidade, o não controle, o acaso, características tão pertinentes à vida. Encerramos com um poema dada produzido por uma paciente que compreendemos resumir a essência do que é a vivência surrealista: “Voo livre: o invisível revolucionando o papel da experiência...”

             Finalizando o evento, Claudia Brasil, apresentou a palestra O Surrealismo e o arquétipo do inválido na prática da arteterapia”, onde apresentou o surrealismo como uma expressão criativa do inconsciente, trazendo também o conceito do arquétipo do inválido que nos fala de aspectos pouco desenvolvidos em cada um de nós, entendendo a invalidez como parte integrante da natureza humana. Abordou também a importância da expressão espontânea compartilhando conosco um pouco da sua experiência com a Dra. Nise da Silveira.

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