No último dia 27 de outubro estive
no evento da Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro, chamado “O
Inconsciente e a Arte” juntamente com minha parceira de estudos e prática
Flavia Hargreaves, coordenando a oficina “Arteterapia e História da Arte: Dada
e Surrealismo”. Foi um encontro delicioso e surpreendente, onde pudemos
vivenciar duas técnicas propostas pelos artistas destes movimentos que têm como
premissa a tentativa de tirar a possibilidade de controle e racionalidade
inicial no ato criativo.
Para experimentar o acaso dadaísta fizemos o “Poema Dada”,
ao qual palavras escolhidas por cada participante são colocadas em um saco e
misturadas. Em seguida cada participante retira algumas palavras “escolhidas pelo acaso”
e a proposta é que cada um as dê
um sentido, organizando-as, associando-as, completando-as... “O poema sempre
será parecido com você” dizia Tzara, pois para ele o acaso poderia ser tão
pessoal quanto uma ação consciente. E o
que pudemos testemunhar é que ele não estava enganado.
Outra recurso usado pelos surrealistas para se burlar a
racionalização no ato criativo eram os jogos grupais:
“O trabalho em colaboração também
era um modo de criar imagens que desafiassem o aparato racional da mente
individual e consciente do artista. Os dadaístas já tinham feito alguns
experimentos com o colaborativismo...
No surrealismo, porém, a colaboração e o coletivismo tiveram uma importância
crucial.” *
Os surrealistas inventaram o jogo
chamado cadavre exquis, cujos
resultados eram regularmente publicados na revista La
Revolution
Surréaliste e
que alguns dos quais serviram também de inspiração para obras de Miró.
Em arteterapia podemos utilizar esta técnica em
grupos, onde uma folha de papel será dividia em 3 partes. Um participante
desenha o que seria a cabeça – passamos o desenho para o participante da
direita – um segundo o que seria o corpo – passamos para a direita – e por fim
o terceiro, o que seriam as pernas e pés. O resultado é um personagem criado a
6 mãos, ao qual o participante recebe e tem a oportunidade de colocar cor e um
cenário. Faz-se uma riquíssima reflexão sobre o que herdamos (dos nossos pais,
da cultura, do meio ambiente, da genética, etc) e como “nos construímos como
personagens” diante disto. Os resultados desta experiência riquíssima em
simbolismos e conteúdos encontram-se na sessão IMAGENS QUE FALAM deste blog,
com a autorização dos participantes da oficina.
Por fim, vale a reflexão de que como
terapeutas, ao propormos aos nossos pacientes técnicas que o façam experimentar
o não controle, também nos coloca neste mesmo lugar: como é para mim lidar com o acaso em minha
prática como arteterapeuta?
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