segunda-feira, 12 de agosto de 2013

TERAPIA OCUPACIONAL E ARTETERAPIA


            É comum quando as pessoas se interessam pela arteterapia imaginarem se tratar da Terapia Ocupacional. Por isto me motivei a escrever este texto. São dois campos de saber legítimos, pertinentes e coexistentes em serviços de saúde. Embora tenham suas interseções, são distintos e cada um tem seu objeto e sua função no desenvolvimento ou na recuperação do individuo. 
           Em linhas gerais, a Terapia Ocupacional é um campo de estudo que envolve três grandes áreas: a Reabilitação Física, a Saúde Mental e a Área Social. A ocupação humana é o objeto de estudo.e, dentro desse contexto, é especializada em análise de AVDs (Atividades de Vida Diária) – alimentar-se, tomar banho, vestir-se com independência etc – como também de AVIs (Atividades de Vida Instrumentais) – lazer, trabalho, comunicação, etc – gerando condutas de prevenção, manutenção e tratamento, fazendo inclusive adaptação de materiais e treino de uso dos mesmos. Numa análise de atividade considera as articulações, os grupos musculares, tipo de movimentação envolvida, características específicas de possíveis estímulos neuropsicomotores e outros. Entretanto também é papel do TO avaliar e lidar com fenômenos que permeiam o processo de tratamento a partir do uso de atividades: o envolvimento emocional, social e afetivo do sujeito, o vínculo terapêutico, a tolerância à permanência em atividade, o significado que se dá a este “fazer”, o desenvolvimento de um começo, meio e fim... Ou seja, fenômenos que acontecem em um atendimento, onde o encontro desse triângulo “paciente – atividade – terapeuta” podem gerar processos semelhantes de expressão e/ou internalização, porém cada campo de atuação acolherá este sujeito e suas questões com sua visão e estratégia diferenciada.
            De fato, a Arteterapia pode manejar em sua atuação estes benefícios que a Terapia Ocupacional visa, como o efeito terapêutico do “fazer” e o desenvolvimento do corpo em suas partes motoras e cognitivas. Entretanto seu foco primário, seu objeto é outro. Para além disto, sua “matéria prima” é outra: o inconsciente.
            A Arteterapia se faz em um modo de atuar, pelo qual a utilização das técnicas gera um efeito no psiquismo. Não está propriamente dita no campo do desenvolvimento de habilidades ou das finalidades artísticas, mas visa a expressão e a comunicação de conteúdos psíquicos: sentimentos, pensamentos, conteúdos inconscientes.
            Jung no Livro “A Prática da Psicoterapia” dá valor à utilização de técnicas expressivas pois por meio das imagens criadas o sujeito vê-se diante da circunstância de “traduzir o indizível em formas visíveis.” Este recurso tem benefício ao favorecer posteriormente a expressão em palavras daquilo que antes não tinha nome, identidade ou sequer lugar ou espaço para manifestar-se.
            Nas palavras de Maria Cristina Urrutigaray, a Arteterapia:

“... é um passo viável, visível objetivado que possibilita aproximar elementos ou realidades ocultas (inconscientes) às dimensões mais acessíveis de serem compreendidas, facilitando a conscientização dos mesmos.” **

* Este texto foi escrito com a colaboração de minha amiga, Terapeuta Ocupacional Aline Bini.
** Meterial de Apoio: “Arteterapia – A transformação pessoal pelas imagens” Maria Cristina Urrutigaray

6 comentários:

  1. Arteterapia pode ser um recurso utilizado pelo terapeuta ocupacional em suas intervenções, seja no dali da saúde mental, da reabilitação física, da educação, entre outros.
    É preciso atentar para o processo histórico sobre o uso de ocupações com fins terapêuticos. Exemplo o trabalho de Nise da Silveira em Terapêutica Ocupacional, baseado na abordagem de C.Jung, no Brasil, e que mais tarde deu origem à profissão de Terapia Ocupacional.
    O debate histórico é necessário.
    Por Derivan Brito da Silva
    Terapeuta Ocupacional
    Docente UFPR.

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    1. Onde lê-se "dali" leia-se "campo". Porque Derivan

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  2. À arteterapia possibilita se conhecer mais distintamente os indivíduos, mesmo estando trabalhando em grupos,e em conjunto com a TO, seria mais eficaz ainda.

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  3. A arteterapia como instrumento físico, auditivo e visual tende a ajudar nas mais diversas formas de artes como desenho, pintura, dança e até contação de histórias como entretenimento dos pacientes é benéfica para a melhora deles.

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  4. Muito esclarecedor. Arteterapia e Terapia Ocupacional possuem pontos em comum, porém, com objetivos distintos. Suas fronteiras se entrelaçam e ganham novos rumos, entretanto ambas visam o bem estar do sujeito como pessoa na sua integridade tanto física como mental.

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  5. Gostei muito do que li e me esclareceu as minhas duvidas.

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