segunda-feira, 19 de agosto de 2013

DO DADAISMO AO SURREALISMO


            (Dando seguimento à série de textos sobre o Surrealismo e  a Arteterapia. Ver textos anteriores.)

O surrealismo nasceu de um desejo de ação positiva, de reconstrução a partir das ruínas do Dada, que ao negar tudo acaba por negar a si mesmo. De fato, Dadaísmo e Surrealismo são bastante semelhantes, principalmente no que se refere ao posicionamento político e no ataque às formas tradicionais da arte. A diferença fundamental entre eles estava na formulação de teorias e princípios do Surrealismo em vez do anarquismo Dadaísta. O Surrealismo aboliu o veto que o Dada aplicou à arte e devolveu ao artista a sua razão de ser, sem impor um novo conjunto de regras estéticas.
O lugar do “acaso” nas obras Dadaístas se transformou na influência do inconsciente na arte, na teoria Surrealista. André Breton, líder do movimento, era médico psiquiatra e estudioso de Freud, que na época estava em pleno desenvolvimento da teoria psicanalítica, baseada no conceito do inconsciente. Para Breton, no inconsciente pensa-se por imagens, e como a arte produz imagens é o meio mais adequado para trazer à superfície os conteúdos profundos do inconsciente.
Breton explora todo o potencial deste novo paradigma no contexto da arte:
“... em 1928 Breton publica Le Surrealisme et la peiture...[e defende que] O inconsciente não é apenas uma dimensão  psíquica explorada com maior facilidade pela arte, devido à sua familiaridade com a imagem, mas é a dimensão da existência estética, e portanto, a própria dimensão da arte. Se a consciência é a região do distinto, o inconsciente é a região do indistinto: onde o ser humano não objetiva a realidade, mas constitui uma unidade com ela. A arte pois, não é representação, e sim comunicação vital, biopsíquica, do indivíduo por meio de símbolos. Tal como na teoria e na terapia psicanalíticas, na arte é de extrema importância a experiência onírica, na qual coisas que se afiguram distintas e não-relacionadas para a consciência revelam-se interligadas por relações tanto mais sólidas quanto mais ilógicas e incriticáveis.”*

            Entretanto é interessante ressaltar que embora a origem do Surrealismo se desse na teoria psicanalítica, seus fins se diferenciavam. Os surrealistas viam nos sonhos a imaginação em seu estado primitivo e uma expressão pura do “maravilhoso”, sem qualquer espírito de pesquisa científica. Freud, certa vez recusou-se a colaborar com uma antologia de sonhos organizada por Breton porque não conseguia vislumbrar  em que uma coletânea de sonhos, sem as associações e as lembranças da infância do sonhador, poderia ter de interesse para seus estudos e para a psicanálise.
            Desde o início da formação de arteterapia já somos apresentados ao grande potencial de comunicação que as mais variadas linguagens da arte possuem. Já somos ensinados também sobre o potencial expressivo de conteúdos que estão para além da razão e do racional, mas estão no campo do inconsciente. E nossa prática, que é soberana, nos confirma estes fenômenos.
            Porém, de minha parte, acho fascinante e creio que amplia nossa percepção como arteterapeutas, conhecer os caminhos que nossos precursores traçaram até chegarmos aqui.
           
* “Arte Moderna” Giulio Argan

* Material de apoio: “Conceitos da Arte Moderna – com 123 ilustrações” org. Nikos Stangos

Um comentário:

  1. Talvez seja porque o Terapeuta busca o diagnóstico e o Artista busca a doença. Regis Santos. Designer de Interiores.

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