(Dando seguimento à série de textos
sobre o Surrealismo e a Arteterapia. Ver
textos anteriores.)
O surrealismo nasceu de um desejo de ação positiva,
de reconstrução a partir das ruínas do Dada, que ao negar tudo acaba por negar
a si mesmo. De fato, Dadaísmo e Surrealismo são bastante semelhantes,
principalmente no que se refere ao posicionamento político e no ataque às
formas tradicionais da arte. A diferença fundamental entre eles estava na
formulação de teorias e princípios do Surrealismo em vez do anarquismo
Dadaísta. O Surrealismo aboliu o veto que o Dada aplicou à arte e devolveu ao
artista a sua razão de ser, sem impor um novo conjunto de regras estéticas.
O lugar do “acaso” nas obras Dadaístas se transformou
na influência do inconsciente na arte,
na teoria Surrealista. André Breton, líder do movimento, era médico psiquiatra
e estudioso de Freud, que na época estava em pleno desenvolvimento da teoria
psicanalítica, baseada no conceito do inconsciente. Para Breton, no inconsciente
pensa-se por imagens, e como a arte produz imagens é o meio mais adequado para
trazer à superfície os conteúdos profundos do inconsciente.
Breton explora todo o potencial deste novo paradigma
no contexto da arte:
“... em 1928 Breton publica Le Surrealisme et la peiture...[e
defende que] O inconsciente não é apenas uma dimensão psíquica explorada com maior facilidade pela
arte, devido à sua familiaridade com a imagem, mas é a dimensão da existência
estética, e portanto, a própria dimensão da arte. Se a consciência é a região
do distinto, o inconsciente é a região do indistinto: onde o ser humano não
objetiva a realidade, mas constitui uma unidade com ela. A arte pois, não é representação, e sim comunicação vital,
biopsíquica, do indivíduo por meio de símbolos. Tal como na teoria e na terapia
psicanalíticas, na arte é de extrema importância a experiência onírica, na qual
coisas que se afiguram distintas e não-relacionadas para a consciência
revelam-se interligadas por relações tanto mais sólidas quanto mais ilógicas e
incriticáveis.”*
Entretanto é interessante ressaltar
que embora a origem do Surrealismo se desse na teoria psicanalítica, seus fins
se diferenciavam. Os surrealistas viam nos sonhos a imaginação em seu estado
primitivo e uma expressão pura do “maravilhoso”, sem qualquer espírito de
pesquisa científica. Freud, certa vez recusou-se a colaborar com uma antologia
de sonhos organizada por Breton porque não conseguia vislumbrar em que uma coletânea de sonhos, sem as
associações e as lembranças da infância do sonhador, poderia ter de interesse
para seus estudos e para a psicanálise.
Desde o início da formação de
arteterapia já somos apresentados ao grande potencial de comunicação que as
mais variadas linguagens da arte possuem. Já somos ensinados também sobre o
potencial expressivo de conteúdos que estão para além da razão e do racional,
mas estão no campo do inconsciente. E nossa prática, que é soberana, nos
confirma estes fenômenos.
Porém, de minha parte, acho
fascinante e creio que amplia nossa percepção como arteterapeutas, conhecer os
caminhos que nossos precursores traçaram até chegarmos aqui.
* “Arte
Moderna” Giulio Argan
* Material
de apoio: “Conceitos da Arte Moderna – com 123 ilustrações” org. Nikos Stangos
Talvez seja porque o Terapeuta busca o diagnóstico e o Artista busca a doença. Regis Santos. Designer de Interiores.
ResponderExcluirEU ODEIO TDS VCS
ResponderExcluirOI
ResponderExcluiroi
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