segunda-feira, 22 de abril de 2013

PSICANÁLISE E ARTE


            Neste final de semana estive no I Colóquio sobre Arte e Psicanálise, promovido pelo Hímeros – Departamento de Mestrado e Doutorado em Psicanálise e Arte da UVA.
            Durante as exposições me vi envolvida com todo o embasamento e as considerações teóricas da Psicanálise sobre o artista e suas produções. Ouvi. “A arte é o que separa a Psicanálise da Medicina e da Psicologia.”
A teoria da Psicanálise me atrai. Mantenho com ela um “flerte desconfiado”. Acredito que ela é base para qualquer um que queira trabalhar com o inconsciente. E nos últimos momentos do Colóquio, escrevo este post com minha inquietação: Se a Psicanálise reconhece a arte como tal e se propõe a embasá-la com sua teoria, por que não se pode pensar a prática da arte no contexto da sua clínica? O modelo da prática analítica, baseado na fala (palavra), no divã e demais pilares da psicanálise é definido e (me parece que) não há espaço para outras possibilidades – salvo muito específicos contextos, mas não como uma prática continuada.
A arte na prática da psicanálise é estabelecida com a clínica da psicose, como signo, pois através dela o psicótico representará seu discurso. Com a justificativa de que o neurótico FALA, a arte não possui lugar nesta clínica.
Porém, embasada em minha prática, penso que o neurótico FALA através da palavra mas também FALA através de outras linguagens, e então todas as possibilidades da arte encontram seu lugar. Alias, o nome deste blog e sua inspiração inicial nascem justamente da possibilidade real da “fala sem a palavra”.
Voltando ao Colóquio, ouvi: “A obra de arte torna visível o desejo”. “Arte, presentificar o não sabido”. “Poesia: tensão entre a linguagem e o indizível.”
Eu me atrevo a ampliar o último conceito:. Seria a arte a tensão entre a fala e o indizível? Se sim, por que não dar espaço para esta técnica na prática da clínica da psicanálise, como recurso para que o sujeito FALE? 

2 comentários:

  1. O que me chama atenção em seu texto é me deparar com o enlace entre a Psicanálise, a Medicina e a Psicologia, penso que esse nó (borromeano) não se desfará nem em nome da arte, já que a Medicina usa a arte, a Psicologia idem e a Psicanalise também. Eu diria que estas três categorias tem se debruçado sobre a dor -física e subjetiva- dos seres humanos e indispostas ou não, caminham juntas.
    Penso que, se é que existe alguma resposta à sua pergunta ''por que não se pode pensar a prática da arte no contexto da clínica psicanalítica? '', esta deve estar nos significantes utilizados pelo paciente em análise. O analista não usará a técnica -da arte- pois a unica que ele acata num setting analítico é a função de ouvir. E assim, não sairá desta função para exercer a função -desejante- de oferecer algo, mesmo arte ao paciente. Agora, se este paciente é atendido em Instituições, na rua, ou ambiente que possibilite ao psicanalista ouvir, e se o meio for a arte, o analista ouvirá. Penso que vivemos um mundo de falantes, e todos tem o que oferecer como instrumento de 'melhora' ao mal estar existencial; a Psicanalise não se oferece para esta calmaria interna, já que não trabalha aquiescendo angustias e sim promovendo desejos; como ? de que forma? da forma em que o paciente, sujeito do desejo endereçar. Se um sujeito chega com desenhos, com pinceis, com recortes, o analista acatará, mas não entrará em diálogos pois estes são para a lógica do entendimento cognitivo, onde o sujeito se sabe; e a Psicanalise transita onde o sujeito nao se sabe, o inconsciente;e a arte não se explica, ela representa um instante, o instante em que o olhador fica afetado por ela. A arte para a psicanalise não é um recorte ou uma frase, mas uma construção na qual alguém, um terceiro se afeta por ela.
    Esta afetação não acontece o tempo todo, e o instante no qual o sujeito foi afetado, passou. E geralmente não tem o que o repita ou represente.
    O inconsciente é a base, o não compreensível é a base. O lugar onde não se pensa é a base. O artista não poderá ser interpretado, este também não sabe nem como nem porquê presentificou o não-sabido...!
    A vida subjetiva é emoldurada pelo possível e não por encomendas.
    Jaqueline Ferreira

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  2. Sendo bem simplista: em sua primeira tópica, Freud descreve o inconsciente como povoado por coisas, diferente do pré-consciente, povoado por palavras. Se a psicose e todas as patologias que flertam com ela são mais profundas e o pensamnto do psicótico é mais concreto, porque não usarmos técnicas projetivas como as da arteterapia, a exemplo do que acontece no Reino Unido?
    Técnicas arteterapêuticas facilitam que conteúdos profundos emerjam, podendo serem interpretados e promovendo insights. Além do que, no ato de fazer arte, mesmo que dentro do consultório, há embutida uma fala, uma linguagem, uma expressão e uma história, ou seja, uma forma de comunicação tão válida quanto a fala e mais profunda que esta. Isto pode deixar a terapia mais flexível e possibilitando a captação de riqueza do mundo emocional não verbalizável.
    Freud deixa claro que a arte é uma alternativa sadia à fantasia e a sua teorização preferida sobre a arte é a associação que ele faz da obra de arte com a biografia do artista. Olhando de perto, percebemos que para ele a arte não é vista apenas no sentido defensivo sublimatório, mas com um potencial transformador em si.
    Em Winnicott temos que o fazer arte transita na zona intermediária e faz uma ponte entre dois mundos: o interno e o externo, o imaginário e o real, o inconsciente e o consciente, o impulso e a segurança. A saúde em Winnicott vem justamente deste espaço potencial intermediário onde o fazer arte transita. Para ele, a arte é um meio de comunicação. E se a comunicação essencial, no seu pensamento, não é verbal e nem verbalizável, o artista que trabalha com o não-verbal está sempre comunicando algo essencial e profundo. É por isso que trabalhar com elementos não verbais pode ser um caminho para uma comunicação essencial e profunda.
    E porque não arteterapia e psicanálise?

    Parabéns pelo seu texto e pelas suas colocações.
    Rosana Ferreira Machado

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