Por Luigina Lucia Palermo Antas/ RJ
e Tania
Moreira/ CE
“O homem saudável é
aquele que
possui um estado mental e físico em perfeito equilíbrio.”
(Hipócrates, considerado o pai da
medicina científica. 460 a.C.-37a.C.)
INTRODUÇÃO
Como a Arteterapia passa a ser um canal
de superação e bem-estar para o professor? O que é preciso transformar?
Esta
resenha explora a percepção que se tem sobre determinados acontecimentos
marcantes, que nesta contemporaneidade tem sido observado com uma crescente
preocupação, devido às pressões características de um ambiente escolar e nas
mudanças que são constantes no sistema escolar, gerando instabilidade na saúde
e na vida profissional do professor, e que também, quando em um momento
particular sensível de sua transição trabalho-aposentadoria, é seguido de um
processo de adaptação de uma nova rotina e identidade, o que faz refletir na
forma de como se sente, como deve agir e como deve se determinar às mudanças.
A
reflexão aqui proposta é sobre a importância da prevenção, da promoção e de um
caminho de superação, que são abordagens diferentes, mas que se complementam,
para alertar e trazer luz sobre a da saúde mental dos professores
atuantes/ativos e dos professores em processo de transição
trabalho-aposentadoria, da Rede Pública de Ensino, com foco no processo
terapêutico alinhado à Arteterapia, propiciando a evolução da consciência, numa
abordagem da Psicologia Analítica de Carl Jung.
A SAÚDE MENTAL DO DOCENTE
As
jornadas excessivas de trabalho, pressões por resultados, exigências de
desempenho e produtividade, desvalorização profissional, falta de suporte
institucional, etc., ressoam negativamente e impactam a saúde dos professores
em sua atividade laboral, desencadeando,
às vezes, um conjunto de sinais
do corpo e da psique (alma, espírito, mente), que caracterizam um sofrimento mental, e como também, diante das
mudanças da transição trabalho-aposentadoria (por sua vida estar profundamente
ligada ao seu senso de propósito e valor), podendo em alguns casos, se perceber
uma perda significativa de identidade por não ter mais o seu papel social,
estando sujeito à produção de riscos biopsicossociais (que engloba a saúde e a
doença através do estudo de elementos biológicos, psicológicos e sociais), e
que podem gerar perda da autonomia, sentimentos de desvalorização, vazio,
insegurança, ansiedade.
Ao se
permitir retirar a persona de profissional e estudante, de acordo com MORAES
(2025), mudar o registro da razão para o emocional e intuitivo, do aprendizado
para a experiência, há “um encontro com a alma.
Nem sempre é simples para o
profissional que vive intensamente seu ofício, a ação de retirada daquela
“capa” que de alguma forma compõem sua personalidade e por que não, faz parte
de sua identidade. Despir-se da persona é uma ação que envolve muitas camadas e
necessita de um trabalho psíquico muitas vezes exaustivo, porém necessário.
Dentre
outros caminhos,
“em Arteterapia apresenta-se como um
território criativo marcado por símbolos particulares, que segundo PHILIPPINI (2008),
assinalam, informam e definem sobre os estágios da jornada de individualização
de cada um. Este caminho único, compreende as transições e transformações em
direção a tornar-se um ‘in’-divíduo, aquele que não se divide face às pressões
externas e que assim procura viver plenamente, integrando possibilidades e
talentos, às feridas e faltas psíquicas.”
RELATO DE CASO: CANAL DE SUPERAÇÃO. ESTÁGIOS DA JORNADA DA INDIVIDUAÇÃO
A
Inteligência Emocional, é a capacidade que nossa mente tem de identificar e
administrar nossos sentimentos, para que ajam a nosso favor. O domínio das
emoções se faz por meio do autoconhecimento, que significa compreender e
reconhecer os nossos pensamentos, sentimentos e limites. À medida que nos
conhecemos, passamos a agir de forma positiva e equilibrada. (GUIMARÃES, 2025)
O depoimento da professora R. C., diz que o
desgaste físico e psicológico tem sido sintomas constantes, por não conseguir
desempenhar um trabalho de excelência: - “A gente aprimora, busca novos
conhecimentos e não consegue estruturar o trabalho na prática do dia a dia”.
Faltam recursos materiais, recursos humanos e falta de tempo de planejamento
escolar, verbas que nunca contemplam as necessidades de uma unidade escolar.
São várias crianças com muitas necessidades e precisamos identificar e
desenvolver diferentes habilidades tanto para crianças típicas, quanto das
atípicas. É uma sobrecarga de responsabilidade, das quais somos envolvidas de
forma incessante, invadindo as nossas prioridades enquanto ser humano.”
A professora L.P, menciona que vivenciar
uma rotina tão desgastante, o dia a dia, o “chão das escolas”, permitiu
conhecer e procurar lidar com os desafios, que muitas vezes acreditava não
poder superar. O corpo começava a sinalizar dores. Noites mal dormidas. O dia amanhecendo. Falta de credibilidade. Cansaço
contínuo. Sentimento de impotência. Saída da escola direto à clínica médica
próxima, para aferição da pressão arterial. Sinalizava o início de ansiedade.
Tempo de Chronos, com horários e prazos. Como sobreviver a jornada dupla em
duas escolas? O estresse estava querendo se instalar. Logo após, ainda passou
pelo processo de Transição Trabalho-Aposentadoria. E um novo dia... a cada dia.
Diálogo interno. Conseguir transformar a energia negativa, direcionando para a
energia positiva, ou seja, transformando em motivação. Tempo de Kairós, do
momento certo para realizar algo. Percursos simbólicos.
“Entender que o processo de
individuação é o caminho para o autoconhecimento, tornar-se o si mesmo é um
processo de autorrealização, no qual determinadas modalidades expressivas
empregadas, estimulam funções
psíquicas, como o pensamento, sentimento, sensação e intuição, iluminando
aspectos sombrios da psique, ( PHILIPPINI, op.cit.) e assim, resgatar a
possibilidade do livre fluir da energia psíquica.”
E assim, “a
energia psíquica encaminhada, desviada e transformada, ou seja, canalizada (Jung apud Hall e Nodby, 1993), gerou o primeiro percurso simbólico.: Baía de
Guanabara (Enseada de Botafogo), produção da professora L.P, com a técnica de
pintura Textura Visual, em preto e branco / luz e sombra, com lápis grafite.
Segundo
CARRANO E REQUIÃO (2013), o claro e escuro pode ser associado à determinada
situação ou algum fato em suas vidas que estão mais claras ou mais escuras.
Tempo
depois, no segundo percurso simbólico:
criação do Mandala, com fundo escuro indicando o processo do caminho da
individuação, em que a professora L.P., utilizou-se do origami na criação das
borboletas, símbolo da transformação e renascimento. De acordo com CARNEIRO (2010), Jung “ao pintar uma
mandala ou ria-la com mais diversos materiais, a pessoa vai se organizando
externa e internamente, direcionando a atenção para o centro do próprio ser – Self... energizando todo o ser para que se torne aquilo que ele é”.
E
no terceiro percurso simbólico,
a professora L.P., inspirada nas obras de arte da artista plástica Beatriz
Milhazes, fez uma reprodução em arte, entre cores e texturas, superposições de
formas, com colagem e pintura aquarela. Construção e integração de diferentes
aspectos do “eu”.
APOSENTADORIA:
É O FIM OU INÍCIO DE NOVO PERCURSO?
Para Viktor Frankl (1978/1989), o trabalho representa uma atividade humana que pode contribuir na busca de
sentido para a existência humana.
“No modo de
produção capitalista, que idolatra a produção aliena o trabalhador do processo de produção, a aposentadoria é frequentemente vivenciada
como a perda do próprio sentido da vida, uma espécie de morte social. Ao se
valorizar apenas aqueles que produzem, deprecia-se o sujeito aposentado.”’ (RODRIGUES
et al., 2005 apud MOREIRA).
Os
relatos mencionados fazem parte da realidade não só de professores, mas de
inúmeros profissionais de áreas diferentes, pois de uma maneira geral, estamos
todos imersos em uma sociedade que privilegia o desempenho, as metas, os
cronogramas e tudo debaixo de muito estresse, desgastes e adoecimentos.
Segundo filósofo Byung-Chul Han, a
sociedade contemporânea, denominada por ele de sociedade do desempenho, é uma
sociedade de autoexploração, onde o sujeito do desempenho explora a si mesmo,
até consumir-se completamente, em um processo de autoagressividade, bem
característico da Síndrome de Burnout. (HAN, 2017, p.101)
Profissões encaradas
como vocacionais, como por exemplo, professores, médicos, terapeutas, o
trabalho não é somente uma fonte de renda, mas tem um sentido existencial. Logo, quando a aposentadoria deixa de ser
algo distante e surge como a opção para “descansar” da rotina estressante, o
que se percebe é uma crise identitária. Muitos descobrem que perder o papel
social também gera um vazio e sensação de desorientação quanto ao
pertencimento. Porque este indivíduo
internamente mantém o mesmo padrão de autoexigência — buscando continuar
produtivo, ocupado e ainda sem desfrutar de tempo para si. De fato, o descanso
não acontece e o cansaço permanece, porque na sociedade do desempenho este
sintoma não é somente físico, mas é algo ligado a forma como a pessoa percebe o
mundo e a si mesmo. Neste processo de
dissociar que quem se aposenta é o cargo e não a real possibilidade de
continuar produzindo de outra forma, sendo útil de maneira mais saudável,
reconquistando o sentido de pertencimento e de verdade, investir em
autocuidado, o que antes era impraticável e até inviável.
Concluímos e afirmamos que a Arteterapia é uma
proposta que está na contramão da lógica do desempenho, pois é um convite
generoso para “ser”, antes de “fazer; processar as situações antes de produzir
algo pelo fato em si. Um convite à expressão genuína, muito longe das performances
tão idolatradas na sociedade, podendo ofertar ao indivíduo este lugar de pausa,
de observação do ritmo interno, do sentir, experimentar e expressar-se sem o
peso da produtividade. Assim, a aposentadoria deixa de ser um “fim” e se torna
um novo começo — um tempo de florescimento interior, com mais relevância,
qualidade e saúde em todos os sentidos.
REFERÊNCIAS:
CARNEIRO,
Celeste. Arte, Neurociência e transcendência. Rio de Janeiro: Wak Editora,
2020. 208 p.: 21 cm.
CARRANO, Eveline. REQUIÃO, Maria Helena. Materiais em
arte: sua linguagem subjetiva para trabalho terapêutico e pedagógico. Rio de
Janeiro: Wak Editora, 2013. 216p.: 24cm
GUIMARÃES,
Gislene Nunes. Ferramentas e Técnicas de Intervenção em Saúde Mental.
[Apresentação em slides]. In: GEPAM, Online, 29 jul. 2025.
HAN, Byung-Chul, Sociedade
do Cansaço, 2a edição ampliada, Editora Vozes, Petrópolis/RJ, 2017
MORAES, Eliana. Quem é você?
[Apresentação em slides.]. In: GRUPO QUÍRON: Encontros com o Curador Ferido,
Online, 11 out. 2025
MOREIRA, Jacqueline de
Oliveira. Imaginários sobre aposentadoria, Trabalho, Velhice: Estudo de caso
com professores universitários. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 16, n. 4, p.
541-550, out./dez. 2011. Disponível em <URL>. Acesso em: 5/09/2025.
https:scielo.br
PHILIPPINI,
Angela. Para entender arteterapia: cartografia da coragem. 4 ed. – Rio de
Janeiro: Wak Ed.. 2008
OpenAI, Google, Microsoft, 2025. [ABNT].
Acesso: URL.
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Sobre as autoras:
Tania Salete
Graduação em fonoaudiologia, pós graduação em psicopedagogia/UERJ. Especialização em Arteterapia pela POMAR, Rio de Janeiro. Pós graduanda em Envelhecimento Ativo, Artes e subjetividade pela Clinica Pomar. Atuou com grupos terapêuticos e de apoio em casa de recuperação feminina e masculina. Atendimentos presencial e online - individuais e Grupos de Mulheres (REDE), crianças e adolescentes. Em Fortaleza, atuou no IPREDE/CONECTA - com atendimento de crianças no Espectro Autista. Atualmente desenvolve atividades no REDE 60+ - Grupo de práticas criativas em Arteterapia para idosos.
Contatos: @caminhartes.arteterapia (Instagram e Facebook)
Luigina Lucia Palermo Antas
Formação:
Arteterapeuta AARJ 672/0515
Graduação em Pedagogia/Licenciatura Plena
Graduação em Educação Artística-Artes Visuais
Pós graduada em Arteterapia em Educação e Saúde
Pós graduada em Psicopedagogia
Formação Clínica em Arteterapia na Clínica POMAR
Área de atuação/ Projetos/Trabalho
Professora de Artes Plásticas/Visuais do Município do Rio de Janeiro, no âmbito da Secretaria Municipal de Educação.
Proponente, coordenadora e docente do Projeto Caminhos Facilitadores do Desenvolvimento Humano – Desenvolvido no IBC / Instituto Benjamin Constant – Integrantes: Equipe de Saúde Multidisciplinar e estagiárias do Curso de Pedagogia da Universidade Veiga de Almeida .
Publicado no site Instituto Arte na Escola em Relato de Experiência; Publicado no Caderno de Resumo dos Anais do CEDERJ, após conclusão do Curso de Aperfeiçoamento em Educação Especial e Inclusiva para Professores de Educação Básica/Fundação CECIERJ.
Projeto Todos Somos: Arte e Cultura Africana. Instituto Arte na Escola. Projeto Semifinalista XIX Prêmio Arte na Escola Cidadã. São Paulo. Brasil
Projeto Caminhos Flexíveis para a Aprendizagem. Caminho Educativo percorrido com Abordagem Terapêutica Breve/Junguiana. Rede Municipal de Ensino/RJ. Turmas do Ensino Fundamental/Alfabetização. E.M. Pedro Ernesto/Lagoa/RJ
Pesquisa Independente em Arteterapia, Arte e Educação : sem vínculo institucional.








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