segunda-feira, 2 de setembro de 2024

UM OLHAR ARTETERAPÊUTICO SOBRE A VIDA E OBRA DA ARTISTA BOTÂNICA MARGARET MEE “DAMA DAS FLORES”

 Por Débora Castro - RJ

@deborarterapia

Sou Débora de Castro, Graduada em Pedagogia e Artes Visuais e hoje tenho muito orgulho de me apresentar também como ARTETERAPEUTA. Minha trajetória vem sendo trilhada com muita sensibilidade e sempre com um olhar atento no que os artistas/pintores, podem nos possibilitar e nos ajudar no nosso processo de AUTOCONHECIMENTO.

Hoje apresento a artista botânica, ambientalista, escritora  e professora, Margaret Ursula Mee. A artista botânica britânica, nasceu em (1909-1988),  viveu no Brasil  durante trinta anos e devotou a vida a viajar acima do rio Amazonas. Dos seus vários tributários, realizou expedições onde coletou e pintou  várias plantas da Amazônia, nomeadamente orquídeas, bromélias e outras espécies da flora tropical. 

 

Margaret Mee perpetuou  pelas suas obras a delicadeza dos desenhos e a fidelidade à natureza. Suas pinturas foram importantes não só para o desenvolvimento da botânica, mas também preciosas ao estudo das cores, das formas e da técnica de grafite e aquarela sobre papel. Uma poeta da botânica, que escrevia seus versos com pigmentos suspensos em água. A natureza era o tema; a aquarela, o verbo de Margaret Mee. Sépalas e pétalas versam a obra desta artista inglesa que se especializou em plantas da Amazônia brasileira. 

A artista foi capaz de superar a própria natureza, (aparentemente) frágil, de mulher quase octogenária, para colher, nos confins de uma densa floresta, em noite de lua cheia, a beleza de uma única flor: a FLOR DA LUA, que se abre, exala seu perfume, oferece seu pólen e se fecha, em uma só noite - um reflexo lunar da rosa de Malherbe.

A Flor da Lua inspirou uma das aquarelas mais caras à Margaret Mee, retratada em seus diários. Ela teve muita dificuldade em encontrá-la, devido a sua existência efêmera, pois esta flor vive apenas uma noite, durante a lua cheia. E assim como é possível conhecer suas estruturas pelas vias da ciência, também é possível ter sensações potencializadas pela sensibilidade artística de Margaret Mee.

                                                      


Ilustração em aquarela “FLOR DA LUA” – Floresta da Amazônia

Seu trabalho artístico era repleto de pinceladas em aquarela, as cores dialogavam com o ambiente livre, intenso, um mergulho profundo em meio da Floresta Amazônica, destemida e corajosa, a artista nos inspira e nos mostra o quanto somos capazes de enfrentarmos nossos medos e superá-los com determinação e resiliência.

Margaret Mee é fonte de inspiração para meu trabalho como Arteterapeuta.  Assim, apresentei a de forma poética a história da artista a um grupo arteterapêutico de mulheres que atendo na modalidade continuada. A proposta do encontro foi despertar nas participantes um olhar sobre o quanto precisamos “Regar para Florir”  para que nossas  flores internas possam desabrochar, com Liberdade e sensibilidade. Aprender com as flores é entender a importância de olharmos para dentro e cuidarmos daquilo que realmente importa, nosso INTERIOR. O jardineiro somos nós e o jardim é o nosso interno, nossa consciência, nossas emoções, nossos sentimentos e a forma como cuidamos do nosso interno, de nós mesmos.

Durante a sessão de Arteterapia o grupo também assistiu um pequeno fragmento do documentário: “FLOR DA LUA” – Dama das Flores

 


Documentário completo: https://www.youtube.com/watch?v=Mr70PGqAgSw

A partir das reflexões sobre a história da artista e das analogias feitas no nosso processo de AUTOCONHECIMENTO, fiz as seguintes perguntas para o grupo:

      Convido você nesse momento, a olhar para essa FLOR que existe dentro de você.

      Observe como está a raiz que sustenta essa flor, as cores, as folhas, as texturas.

      Como você tem nutrido e regado o solo para essa FLOR crescer e desabrochar cada vez mais.

              Em seguida fomos para plástica arteterapêutica, as participantes foram convidadas a mergulhar no seu jardim interno, observando as flores, raizes, texturas e suas nuances que fazem parte da estrutura emocional do grande Jardim chamado “INTERIOR”.

Registro das participantes:

“O sol me dando energia e assim como a Margareth Mee, um olhar determinado para frente, estando em um mar de emoção (água), mas sendo capaz de ser frágil como as flores e a Flor da Lua, mesmo com os espinhos”.

 


Participante “D”

“A encontro mediado pela arteterapeuta Débora de Castro, sobre a  artista botânica Margaret Mee foi de uma profundidade sensacional tudo pensado com carinho do relato sobre a artista , passando pelas imagens e músicas belíssimas. Fomos incentivadas a cuidar do nosso jardim interno, de forma suave e bela. A sessão foi muito reflexiva e o que a artista me despertou é que tenho  que ser resiliente e corajosa. Podemos tudo, basta a gente querer. Se empenhar e não deixar nada para depois”.

 


Participante “S”

Transitar pelo campo das flores e trazer à tona aquilo que precisamos regar, cuidar e preservar é algo muito potente na vida de todo ser humano. Vivemos num cotidiano com tantas tarefas e responsabilidades que a vida nos apresenta, que esquecemos  de usar o nosso regador emocional. Não podemos deixar de lado aquilo que nos rege todos os dias, nossos sentimentos. Reguemos nossas flores no individual e no coletivo. Somos uma grande floresta que precisa de cuidado para se manter viva e com saúde.

Como Arteterapeuta me coloco num lugar de muita responsabilidade e acolhimento durante meus atendimentos seja em grupo ou individual.  Falar da Margaret Mee para mulheres num grupo de Arteterapia,  foi um  fio condutor muito reflexivo e potente, pois, o  despertar através da arte, dos materiais expressivos e também das obras da artista , ajudou a ampliar o olhar das participantes, estimulando-as  a cuidarem cada vez mais dos seus Jardins Interno. 

Encerro esse texto com uma frase de Margaret Mee:

“Sei que minha morte não significará o fim do meu trabalho. Onde quer que eu esteja, tentarei influenciar aqueles que estão destruindo o planeta para que deem à natureza uma chance de sobreviver”.

Reflitamos, então, que Margaret cumpriu o seu legado até o fim, mas os frutos de seus trabalhos e conhecimento continuam se multiplicando até os dias de hoje e a beleza e importância de seu trabalho sempre será lembrado! Como em 1994, ano em que foi tema do enredo da Escola de Samba Beija Flor, no Rio de Janeiro, com a música "Margaret Mee a dama das bromélias".

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Sobre a autora: Débora Castro



Sou Débora de Castro, graduada em Pedagogia, Educação Artística, com pós-graduação em Psicopedagogia e Pós-Graduação em Educação Especial e Inclusiva. Com formação em Arteterapia. Atuo na área de Educação há mais de 28 anos, como professora de Artes Visuais e História da Arte. Atualmente coordeno um grupo de Arteterapia para Mulheres e ministro oficinas Arte terapêuticas no online e presencial.