Por Vera Lúcia Gavazza – ES
gavazzavera@gmail.com
Em Arteterapia não analisamos o objeto
expresso, é o sujeito quem fala de seu objeto, mas é este quem faz falar o
primeiro, o símbolo estrategicamente provocando o verbo. A dialética entre o
sujeito e o objeto é também dialógica, a medida que outros “eus” são revelados
e convidados vir a cena, provocando as lutas internas do sujeito.
A arteterapia lida com o processo criativo,
onde possibilita expressar a existência e as emoções humanas mais profundas,
não tendo que se preocupar com técnica e estética, favorecendo as tomadas de
consciência dos padrões de comportamentos inconscientes (VASCONCELLOS, 2010).
Identifiquei-me com a Terapia Reichiana e
suas couraças, essa identificação foi ainda maior quando comecei a estudar na
Pós de Yoga sobre os chakras e toda essa energia vital, trazida da filosofia
hindu.
Observando a Couraça Caracterológica, Reich
sentia que o caráter se forma como uma defesa contra a ansiedade criada pelos
intensos sentimentos sexuais da criança e o consequente medo da punição. A
primeira defesa contra este medo é a repressão, que refreia os impulsos sexuais
por algum tempo. A medida que as defesas do ego se tornam cronicamente ativas e
automáticas, elas evoluem para traços ou couraças caracterológica. Os
principais segmentos da couraça estão centrados nos olhos, boca, pescoço,
tórax, diafragma, abdome e pélvis. A proposta de Reich é quebrar essas energias
acumuladas em cada couraça para assim trazer uma nova energia.
Falarei sobre os chakras de forma simples
para que você leitor entenda e interaja com o processo desta pesquisa de forma
harmônica sem prejuízo ao entendimento deste trabalho.
Os Chakras, no contexto do yoga, essa palavra
se refere a centros de energia que se encontram em pontos específicos do corpo,
os localizados ao longo da coluna são tidos como os mais importantes e
consequentemente também são os mais conhecidos, são eles: múládhára,
swádhisthána, manipura, anáhata, vishuddha, ájña e sahásrara.
O homem como um reflexo do macrocosmo possui
a mesma estrutura e nosso processo de formação é análogo. O sistema
cerebroespinhal é a primeira parte do organismo a ser desenvolvido durante a
gestação e a partir dele materializam-se todas as formas corporais. Isso é
representado nos chakras através dos elementos a eles associados, do topo da
cabeça à base da coluna, temos o caminho da manifestação cósmica na qual eles
se apresentam do estado mais sutil ao mais denso: consciência, mente, espaço,
ar, fogo, água e por fim, terra.
Esse projeto foi feito com um grupo de 8
mulheres, todos numa faixa etária entre 40 e 50 anos de idade. Aqui apresento a
experiencia que tivemos com o chakra Swadhisana e a couraça pélvica.
A proposta de Reich é quebrar essas energias
acumuladas em cada couraça para assim trazer uma nova energia para que o ser
flui na energia vital.
A proposta do yoga é alinhar as energias dos
chakras, assim energizamos nossa energia vital (prana) para que ela volte a
circular.
Quando montei este projeto fiz na intuição,
pois segui principalmente os estudos de Reich e não me prendi aos chakras. Por
ser praticante de yoga, usei uma linguagem corporal de meu maior domínio, os
exercícios de posturas (asanas) e técnicas respiratórias (pranayamas) e de
relaxamento corporal (Yoga Nidra) para auxiliar no desbloqueio das couraças e
comecei os desbloqueios de baixo para cima como no yoga faz no alinhamento dos
chakras. Também por intuição, me pareceu correto não começar pelo chakra que é
apontado como pélvico, pois para Reich a couraça pélvica fica na direção logo
acima do órgão sexual, e o chakra pélvico é apontado no sacro (entre o órgão
sexual e o anus). Então o chakra Swadhisana que é apontado na mesma direção da
couraça pélvica, ficou como referência para a couraça pélvica. O chakra
diafragmático com a couraça do diafragma, foram os mesmos, o chakra cardíaco e
a couraça do tórax os mesmos. Porém a couraça do pescoço e da boca foram um só
chakra, o laríngeo, onde é tratado com o mesmo aspecto tanto de relaxamento do
pescoço externo como das cordas vocais internas, com a fala e a expressão oral.
A couraça dos olhos teve como referência o chakra Ajina (fica entre os olhos) por
se tratar dos olhos e outras partes mais sutis como o cérebro e glândulas
pituitárias.
Não tive nenhuma pretensão aqui de despertar
a Kundalini, pois é outro tipo de trabalho, e também não foram trabalhados o
primeiro chakra e nem o último chakra, aspecto necessário para despertar a
kundalini.
Parece-me, pelo que tenho conhecimento do
Yoga e que li em Reich que, apesar de serem numa abordagem prática
completamente diferentes nos desbloqueios, eles auxiliam bastantes uns aos
outros neste processo.
Couraça Pélvica / Chakra Swadhisana
1º momento
Começamos com respirações conscientes
inflando o diafragma, inspirando e expirando pelo nariz. Fizemos umas posturas
de yoga relacionada ao chakra Swadhisana e finalizamos com relaxamento
(alinhamento das energias).
Logo após foi o desbloqueio da couraça
pélvica. onde fizemos amarrando as pernas e debatendo com a pélvis no chão
(quebra da energia). A seguir foi proposto uma expressão com tinta xadrez
equilibrando em papel A3. Cada participante narrou uma fala com sua pintura
individual para expressar sua vivência com acouraça pélvica. Foi proposto que
cada uma aproveitasse a forma abstrata que saiu ao manusear a tinta, e formasse
uma imagem, conversando com esta imagem de forma fluida e ágil. O estímulo ao
pensamento fluido e ágil é um dos principais modelos de ativador criativo. As
ideias desencadeadas com rapidez ajudam a distanciar-se do pensamento mecânico
e lógico. Com este ativador procuramos tirar o fluxo das ideais da redoma do
pensamento concreto e repetitivo. Uma palavra vai fluidamente gerando a outra,
mais outra e assim sucessivamente.
2º Momento - expressão corporal
Foi proposta que cada uma trouxesse uma
música de sua preferencia para compartilhar na roda. O compartilhar da vivência
da dança foi muito significativo para todas de um modo particular no ato de
dançar e se soltar, numa proposta de dança circular numa visão arteterapêutica.
Nesta vivência, quando se refere a dança e a
expressão com os quadris notamos que o imaginário é circundado por memórias da juventude
e vivencias da vida adulta. Na juventude existia a liberdade e uma série de
memórias revigorantes. No entanto na vida adulta é percebida como o período de
temor e vergonha muito significativo. Circunda aqui um imaginário criativo que
veio a tona em todas elas, nesta couraça.
O despertar do envolvimento da dança com a
procura da música, do passo, do ritmo, onde se deu conta que os compromissos,
casamento, filhos, trabalho levou ao abandono no significado desse embalo.
Foi relatado pelo grupo sobre as sensações, o
despertar corporal a energia e a alegria agregadora que levaram todas a fazerem
uma “festa” partilhando da alegria de cada dança proposta pela colega. A
música, a dança atraiu durante o processo aquelas que não tinham expectativas
de vivenciar o momento, de uma forma sutil, o próprio experienciar individual
convidou partilhar os movimentos que a magia da música, trouxe e de forma
natural a participação de todas.
O temor de se expor foi quebrado com a
intimidade coesa do grupo como proposto no trabalho, o racional da mente que
levou algumas ao desconforto de preparar uma “apresentação” individual se
quebrou com a interação do grupo quando se deu a sincronia de uma dança
conjunta de cada uma ao seu modo, com liberdade e desprendimento.
Nas palavras de Cavalcante, “A água simboliza
o ventre materno como um espaço onde se realizam os grandes nascimentos e as
grandes mudanças; por isso foi comparada pelos alquimistas a um laboratório, a
um lugar de transformação (1977,p.162). O imaginário da boas pistas de que se
está começando a explorar um fértil território de mudanças.
Tiveram muito relatos interessantes de
percepção de suas condutas internas. As vezes somos o que somos sem nos
perceber, aqui esses processos se tornam conscientes.
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Sobre a autora: Vera Lúcia Gavazza
Formação: Pedagoga, Pós graduação
em Tecnologia da Educação (IFES), Arteterapia e Yoga (Instituto Fênix) Área de
atuação/projetos/trabalhos: Trabalho na Aposvale( terceira idade) desde 2016
como professora de Yoga, no início de 2018 atuei como Arteterapeuta com grupo
de mulheres também na Aposvale até o final de 2019. Trabalhei 6 meses com
Arteterapia e yoga no Crevida ( Centro de recuperação de dependentes químicos).
Faço atendimento no meu espaço particular.
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