Por Maria Matina
matinarte@gmail.com
Eu entrei na Arteterapia em busca de uma maior compreensão
sobre o poder transformador da arte. Venho de um a família de artistas e desde
sempre observei que a arte era muito mais que uma representação. A arte é o
resultado de um processo, armazenamento de muitas emoções, capítulo final de
uma jornada para o início de outra, um ciclo contínuo e infinito como a própria
vida. Ao mergulhar no universo da Arteterapia em 2009, comecei a compreender um
pouco mais sobre esse processo e gradativamente fui modificando o meu olhar
sobre a arte e o fazer artístico, e uma vez que ele se modifica nunca mais
voltamos a ser os mesmos!
Por nascer e viver na arte acredito que naturalmente sempre
tive uma certa facilidade para o sensível, invisível e não dito, e isso me conduziu
ao longo dos anos nas minhas escolhas profissionais e pessoais. Tive também a
sorte de ter bons mestres no meu caminho, pessoas que me apresentaram seus
olhares sobre as coisas e que aos poucos foram transformando o meu. Sou muito
grata pelos aprendizados e espero poder compartilhar um pouco do meu olhar
multifacetado hoje para vocês e futuramente apresentar os meus mestres e seus
olhares sobre o mesmo objeto: o bebê.
Meu trabalho com bebês se deu de forma gradativa, não era
algo que eu havia planejado, mas a vida foi me apresentando esse universo e eu
fui engatinhando em direção a ele. Comecei trabalhando como assistente de um
musicoterapeuta que tinha um espaço de desenvolvimento infantil e um dom
incrível para se conectar com as crianças. Depois de alguns anos trabalhei em
uma clínica de psicologia focada na estimulação precoce e foi onde me encantei
pelo trabalho exclusivamente voltado para bebês e de lá fui parar no Museu de
Arte Naïf (Rio de Janeiro) que precursoramente tinha um projeto de visitação ao
museu voltado para os bebês e suas famílias.
Hoje posso dizer que começo a querer dar meus primeiros
passos nessa aventura que é trabalhar com bebês e tem sido um aprendizado
maravilhoso pelo qual cada vez me encanto mais. Atualmente
vivo entre Portugal e o Brasil e o maior desafio tem sido compreender essa nova cultura. Realizei dois encontros para bebês em Lisboa e foi
incrível constatar que apesar das diferenças os bebês são igualmente abertos e
fascinados, o único contraste entre as culturas se dá na relação com os pais.
Aqui os pais demoram um pouco mais a se envolver com a proposta, porém estão
muito mais atentos durante a atividade (sem a presença constante do telefone
tirando fotos). Ao longo do encontro vão se soltando e o resultado final têm
sido o mesmo nos dois lugares: a alegria estampada no rosto.
Os bebês são seres em total conexão com o momento, vivem e
experimentam o mundo de forma muito intensa, são capazes de perceber e sentir
(olfato, tato, audição, paladar e visão) o todo ao seu redor de uma forma muito
mais complexa do que os adultos. O cérebro do bebê está em constante
desenvolvimento e crescimento. Em 12 meses de vida o bebê chega a ter o dobro
de neurônios que uma pessoas adulta e é fundamental nesses primeiros meses de
vida uma estimulação correta e ampla para que se possam criar o máximo de
sinapses e ligações possíveis.
Na minha prática acredito que o primeiro passo para trabalhar
com os bebês foi me abrir à percepção deles, me “despir” das minhas defesas e
rigores, me permitir brincar e me relacionar. Ao estarmos dispostos a nos
relacionar abrimos o caminho para a troca. É importante estar consciente de que
tudo é novo e fascinante para o bebê e que o aprendizado e interesse podem
estar em tudo (na brisa, no olhar, na textura, no som, na sombra, no sabor,
etc).
Outra coisa fundamental no trabalho com bebês é o acolhimento
e atenção aos pais, pois como dizia Winnicott “Não existe um bebê sozinho, ele
existe com sua mãe”. A inclusão dos pais na atividade é fundamental, é através
deles que o mundo vêm sendo apresentado ao bebê e é nosso dever (terapeutas,
dinamizadores e professores) cuidar dessa relação com atenção, respeitando a
díade que mãe-bebê representam e facilitando breves desligamentos (momentos em
que os indivíduos se descolam).
O seguinte passo para se trabalhar com bebês é sem dúvida
criar um ambiente facilitador (Winiccott), desenvolver e escolher materiais
adequados para cada faixa etária. Eu particularmente gosto de criar materiais
principalmente utilizando sucata pois aprendi ao longo dos anos com meus
mestres que no caso de bebês “menos é mais”, o primordial é que o material seja seguro, higiênico e
interessante para o bebê.
Ao nos abrirmos para a relação com o bebê e sua família e
criarmos um ambiente facilitador, damos o primeiro passo em direção ao trabalho
com bebês. Os seguintes passos se darão nas atividades. Os bebês são capazes de
perceber diversos estímulos simultaneamente, então é muito importante
apresentar as propostas por partes (apresentando e retirando os estímulos) e de
maneira multissensorial, respeitando o ritmo do bebê e seu interesse natural.
Acredito que o tempo ideal de atividade para bebês seja de 40 min a 1h.
Hoje compartilho com vocês um pouco da minha prática com
bebês e dos cuidados que considero mais importantes. Minha intenção é
apresentar nos próximos textos os colegas que me inseriram no maravilhoso mundo
dos bebês e suas práticas na área da música, psicologia e educação. Agradeço o
convite do Não Palavra para escrever sobre minha experiência, têm sido um
excelente pretexto para mergulhar um pouco mais na teoria e com ela
complementar meu saber.
Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.
A Equipe Não Palavra te aguarda!
Referências
Bibliográficas:
A criança e seu mundo (Winnicott). Trad. de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro, Zahar Editores,
1985
Baby Art: os primeiros passos com a arte (Anna Marie Holm)
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Sobre a autora:
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