segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Processo criativo

Em 2015, o blog não-palavra recebe convidados especiais que compartilham conosco sua visão sobre Criatividade e Arte, temas que consideramos fundamentais para pensar a Arteterapia.
Nossa primeira convidada é Martha Pires Ferreira, com uma longa trajetória nas artes visuais, no estudo da psicologia junguiana e no desenvolvimento da criatividade através das atividades plásticas como colaboradora na Casa das Palmeiras.
PROCESSO CRIATIVO
Por Martha Pires Ferreira / 2008
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Martha Pires. Formas no Espaço, 2013.

Todo ser humano é potencialmente um criador. A criatividade é essencial à natureza humana, à expansão da personalidade.
O processo criativo se dá por conexões; impulsos internos e desejos de expressão interagem intuitivamente com o mínimo da interferência lógica, racional. Assim, penso, deveria ser. Para outros, ocorre o inverso, é o domínio da racionalidade com um quantum de impulso instintivo.
O anseio imagístico procura dar forma, ao se deixar revelar, desvelar o que antes era invisível ao conhecimento. É o novo que brota genuíno e real. Arte é descobrir, é tornar visível o que não existia. Não se cogita beleza estética, e sim dar origem a. Os caminhos são complexos e, por vezes, paradoxais. A apreensão sensível de conteúdos expressivos nas artes plásticas, musical ou poética são experiências efetivas e diretas da sensibilidade criadora de cada pessoa, individualmente. A obra de arte não se limita ao objeto em si, é mais que representação pictórica.
Criatividade é processo inesgotável. As mãos engendram quase por magia; nas atividades plásticas desde o artesão das cavernas, passando por toda a história da arte antiga, clássica e moderna com Cézanne, Matisse, Picasso, Paul Klee ou à sofisticada cognição intelectual interagindo simultânea, sensitivo e emocional, nas obras de artistas contemporâneo ou não, brasileiros, como Lygia Clark, Tunga, Beatriz Milhazes, Marília Kranz, Teresa Miranda, Antônio Dias ou Cildo Meireles. Citando estes apenas. Os olhos, um telescópio; constata e contempla a obra realizada, indo além, num mergulho misterioso. A criatividade é a mola impulsionadora da essência da vida. A obra acabada, é quem fala, se faz real e presente. É mais que um objeto.
No meu caso pessoal, desenhar é um ato de liberdade que se faz incontinenti. É deixar mostrar o latente, revelação, espanto intelectual e emocional obedecendo ao que a intuição determina. Deixar o imprevisível acontecer, descobrir, tocando o abissal. A sensibilidade é o tom que contribui para a criação pictórica se tornar manifesta. O artista é, apenas, um instrumento ativo no processo.

Enlouquecida, aprendi com Hokusai (1760 - 1849) que no exercício de desenhar, no penetrar na essência de todas as coisas manifestas, pode-se chegar a um nível de consciência, de saber, mais elevado, impensável, onde tudo vive; cada ponto, gesto, linha, cor. Arte é celebração. O que a imaginação apreende como fogo criador, sopro e beleza, é verdade, é espiritualidade. Além disso, nada sei. 

Martha Pires Ferreira
Astrologia e Artes Visuais /colaboradora voluntária na Casa das Palmeiras e 
Coordenadora do Grupo de Estudos C. G. Jung (2006 - 2015) com Dr. Edgar Tavares.

Um comentário:

  1. Muito bom, grata por compartilhar tantas experienciais especiais, e Martha é muito especial!

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