Por Eliana Moraes
Um arteterapeuta e um paciente
(cliente). Primeira sessão. O que fazer? Como proceder? Que técnica utilizar?
Como começar? Estas são questões surgidas no grupo de estudos “A prática da arteterapia” e estão sendo
discutidas por nós. O arteterapeuta que chega com sua “bagagem” cheia de
técnicas e propostas, como saber o que utilizar agora, no início do processo
arteterapêutico individual?
Sim, o trabalho individual se
diferencia do que é realizado em aulas, vivências, workshops e grupos
terapêuticos. Estes possuem uma proposta chamada semi-estruturada, ao qual o
terapeuta apresenta um tema e/ou um disparador e os participantes se propõem a
se pensar diante deste estímulo. É um trabalho mais diretivo, em que o
arteterapeuta se presentifica mais no setting terapêutico.
No processo individual o movimento é
inverso. As questões e o ritmo devem ser dados pelo paciente. Ao terapeuta cabe
ouvir (com tudo o que este termo contém), acolher, acompanhar e atuar com sua
técnica e técnicas no passo a passo de seu paciente.
Neste momento, não cabe qualquer
proposta senão aquelas que tem como objetivo a coleta de dados. Uma excelente proposta para este início é a
colagem com imagens de revista. Propostas como: “Escolha imagens que me contem um pouco sobre você.”, “Imagens que
representam como você está chegando para este espaço.” Ou apenas “imagens que lhe chamem a atenção por algum
motivo.”. Desta forma o paciente se apresentará e começará a falar de si e
suas questões. Do que é dito em palavras e em imagens, o arteterapeuta receberá
como “fios a serem puxados” no processo de seu paciente e são eles que
orientarão o caminho à frente.
De extrema importância é lembrar que
este não é o momento de interpretações ou grandes devolutivas. Primeiramente
porque o terapeuta não tem dados suficientes para tal em apenas uma sessão. Mas
essencialmente porque o início de um processo terapêutico não é fácil para o
paciente. Tomar esta decisão e estar ali já foi um grande trabalho. Além disto,
o paciente ainda não conhece o terapeuta, não criou um vínculo, a
transferência. Não pode se sentir invadido, desnudo. Antes disto, deve
desenvolver uma confiança para que aceite a companhia do seu terapeuta no seu
processo de auto-conhecimento.
Isto me faz lembrar quando há algum
tempo minha supervisora me disse: “o paciente chega para a terapia cheio de
feridas e dores. Tem o desejo de tratá-las, por isto está ali. Mas elas doem, e por isso ele se
defende com suas roupas, casaco, luvas, cachecol... Para tratá-las é necessário
que se retirem todas estas proteções, mas quem deve retirá-las é o paciente a
medida que se sente seguro e confiante para isto. Passo a passo, no seu tempo.
Nunca passe a frente e arranque a roupa (as proteções) de seu paciente! Nunca o desnude!
Caso contrário (o mínimo que pode acontecer) você o perderá.”
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